Para um turista brasileiro dirigir na China, a missão é quase impossível. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não é aceita no país asiático, nem com a Permissão Internacional para Dirigir (PID). A alternativa foi ir até o Autódromo Internacional de Ningbo, na província de Zhejiang, para conhecer o ainda desconhecido Zeekr X.
Dirigir em ambiente fechado é a única forma de um turista fazer um test drive na China. Foram apenas duas voltas, mas suficientes para dizer que o Zeekr X surpreende. Anda muito mais do que o seu irmão sueco vendido no Brasil, o Volvo EX30, com o qual compartilha a plataforma SEA e a arquitetura de 800 volts para permitir recargas ultrarrápidas. Elétricos convencionais costumam ter “só” 400 V.
Vale observar que a Zeekr é uma marca do grupo Geely, também proprietário da Volvo. Por isso o X herda a base e tecnologias da marca sueca. Porém, em desempenho, entrega 428 cv, contra 272 cv do EX30. Assim, o preço vai ficar entre R$ 270 mil e R$ 300 mil, um pouco mais caro. As primeiras unidades chegam já no finalzinho do ano. O crossover 001 virá no mesmo momento, mas já acima dos R$ 400 mil.
Visualmente, o Zeekr X chama a atenção pela linha de cintura alta, pelos faróis de LED em forma de dentes e pelas lanternas na traseira de LED interligadas pela nomenclatura Zeekr com efeito 3D entre as duas peças. Destaque para as maçanetas externas, que, na verdade, são botões embutidos na carroceria.
As portas dianteiras se abrem automaticamente após o acionamento. Apesar de ter a mesma plataforma do EX30, o Zeekr X possui dimensões maiores: 4,43 metros de comprimento (+ 20 cm), 2,03 m de largura (+ 20 cm), 1,57 m de altura (+ 3 cm) e 2,75 m de entre-eixos (+ 10 cm), o que garante ótimo espaço no banco traseiro.
Mesmo do outro lado do mundo, os 40° C de temperatura em Ningbo geram um calor digno do auge do verão brasileiro. O ar seco e a cultura chinesa de tomar água em temperatura ambiente não ajudam a refrescar o calor extremo. A melhor saída é entrar no Zeekr X e ligar o ar-condicionado de duas zonas no máximo. E, como em todo carro chinês, o sistema de refrigeração é forte e deixa a cabine gelada de maneira muito rápida — o alívio do calor é imediato. Então me deparo com algumas heranças do EX30.
O desenho da cabine é semelhante e, como no Volvo, quase não há botões físicos. Os volantes têm o mesmo formato, mas o acabamento do X é melhor, com muito couro sintético e materiais emborrachados. Assim como no irmão sueco, para ajustar os espelhos retrovisores do X é preciso clicar em um ícone no canto esquerdo da central multimídia de 14,6 polegadas. Ao selecionar o lado desejado, os ajustes são feitos por um botão touch no volante multifuncional.
Uma evolução é que o Zeekr tem painel de instrumentos digital de 8,8 polegadas (no Volvo, não há essa tela), o que permite ao condutor acompanhar o velocímetro na linha do olhar. Sentado no banco do motorista de formato esportivo, com todos os ajustes de posição elétricos, a postura é muito boa. A boa ergonomia é ainda mais bem-vinda depois de viajar por cerca de 30 horas do Brasil até a China, o que causa dores indesejadas na coluna.
Importante ressaltar que o Zeekr X a ser lançado no Brasil já possui um conjunto motriz com dois motores elétricos, um dianteiro e um traseiro, que estará presente no Volvo EX30 apenas a partir do ano que vem. É por isso que o SUV chinês é mais forte, com seus 428 cv de potência e 55,3 kgfm de torque.
Logo que piso no pedal do acelerador, percebo a diferença de vigor em relação ao Volvo. Acelero de zero a 100 km/h em apenas 3,8 segundos; já no EX30, preciso de 5,3 s. A pista tem 4,1 km de extensão e 24 curvas, ou seja, é um circuito bem travado e no qual supero os 100 km/h em pouco tempo.
Nesses trechos, é importante controlar a empolgação, porque o torque instantâneo e a elasticidade dos motores elétricos em um SUV de quase 2 toneladas podem fazer o motorista “passarinhar” e perder a dianteira do carro em acelerações mais bruscas. Afinal, não estamos falando de um carro esportivo.
Além do desempenho mais forte, o Zeekr X tem entre-eixos maior que o do EX30 e balanços dianteiro e traseiro mais curtos, entregando mais equilíbrio e estabilidade. Difícil avaliar com precisão o comportamento da suspensão em um circuito fechado com asfalto impecável e em um percurso de apenas duas voltas, mas o SUV demonstra um acerto suave e até firme, sem muitas inclinações. A tração é integral.
A dupla do Grupo Geely também compartilha as baterias. O EX30 de entrada tem um conjunto de lítio-ferro-fosfato (LFP) de 51 kWh com 250 km de autonomia; as outras baterias são de níquel-cobalto-manganês (NMC) de 69 KWh, com 338 km de alcance, sempre segundo o Inmetro. O X usará justamente esse conjunto de 69 kWh e o alcance no padrão brasileiro deve ficar próximo de 300 km. Na China, são 446 km no ciclo WLTC.
Ainda desconhecida dos brasileiros, a Zeekr foi criada em 2021 como uma marca premium de elétricos e vitrine tecnológica para outras empresas da Geely, inclusive a Volvo. No Brasil, não haverá nenhum vínculo entre as operações das duas marcas.
Despeço-me do X com saudade do ar gelado e curioso para saber como será sua aceitação em nosso mercado. O consumidor já mostrou que acolher marcas chinesas não é mais um problema. Pelo menos em um primeiro contato, o “Volvo chinês” foi uma grata surpresa.
Ponto positivo: Espaço interno, desempenho e nível maior de requinte e sofisticação do que no Volvo EX30
Ponto negativo: Em acelerações mais fortes, o carro parece não suportar tanto torque e “flutuar”
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Fonte: direitonews