Teste: Tesla Cybertruck é diferente de um carro comum em absolutamente tudo


A expressão “não julgue um livro pela capa” nunca esteve tão presente em minha mente como quando soube que ia conhecer (e também dirigir) a Tesla Cybertruck. A caminhonete elétrica, em sua essência, foi apresentada pela empresa do bilionário Elon Musk em 2019 e, desde então, tem estado envolvida em uma sequência de polêmicas.

Atraso na produção, multas caríssimas de revenda e defeitos na carroceria são apenas alguns tópicos que circulam a história da Cybertruck. É curioso, já que a picape foi apelidada de “indestrutível” pelo próprio Musk. Mas será mesmo?

Autoesporte teve contato com uma das raríssimas unidades da Cybertruck no Brasil. O exemplar foi “emprestado” por um dia pelo empresário Isaias Pertrely, seu dono, que a trouxe por importação independente. O preço? Segundo ele, R$ 1,7 milhão, pagos pela versão intermediária, AWD. Vale lembrar que a caminhonete não está à venda oficialmente por aqui, então não há um valor fixo. Vai variar de acordo com a versão e a importadora.

Fato é que, à primeira vista, a Tesla Cybertruck impressiona. Tanto que o julgamento deu lugar a certa euforia, considerando que poucos jornalistas brasileiros conseguiram ver (e dirigir!) essa picape. Fui me aproximando e, já com a mentalidade de escrever este artigo, prestei atenção em todos os seus detalhes.

O que me chamou mais atenção é que a picape da Tesla não parece ser grande nas fotos, mas são 5,67 metros de comprimento. Para efeito de comparação, a Toyota Hilux, que é uma picape média, tem 5,32 m; já a Ford F-150, uma caminhonete grande, tem 5,88 m. Além disso, a Cybertruck tem 2,10 m de largura, 1,79 m de altura e 3,44 m de entre-eixos. Tais medidas, por sinal, refletem-se em um bom espaço na cabine, o que atestaremos mais adiante.

De fábrica, a Tesla Cybertruck vem com acabamento em aço inoxidável na carroceria, mas a unidade em questão foi envelopada com um tom de preto fosco pelo proprietário. Já adianto que a fama de que algumas de suas peças são mal encaixadas é verdadeira. Vários pontos da carroceria da Cybertruck simplesmente não se encontram, formando as chamadas rebarbas. Com certeza, algo que não se espera em um modelo de quase R$ 2 milhões.

A caminhonete também tem um enorme (e eu reforço: ENORME!) para-brisa — com um limpador único de 1,5 m que, no caso, é considerado o maior do mundo. Eu tenho 1,60 m de altura, então imagine meu espanto quando me deparei com aquela peça. Chega a ser até meio desproporcional, mas, curiosamente, combina com a proposta visual da Cybertruck.

Assim como um bom livro, desvendar a Tesla Cybertruck foi se tornando cada vez mais intrigante. Embora seja difícil acreditar que alguém terá coragem de colocá-la para trabalhar pesado no Brasil, há 646 litros de volume na caçamba e a capacidade de carga é de ótimos 1.125 kg. Entretanto, o que mais impressiona é a capacidade de reboque: 5 toneladas.

O design da caçamba, como já se esperaria, é esquisito. Isso porque o compartimento é fechado por uma capota rígida que vai do teto até a ponta da caçamba. Com a vedação, até parece que não é uma picape. Abertura e fechamento são feitos de forma elétrica, ao clicar em um botão na tampa traseira.

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Com uma pegada futurista, o interior não poderia ser diferente. Uma tendência na indústria é o minimalismo, e a Tesla resolveu seguir essa proposta. Por isso, o foco maior foi a central multimídia de 18,5 polegadas, que é o verdadeiro e nada convencional cérebro da Cybertruck.

É por meio dela que o motorista faz desde os ajustes mais básicos, como do ar-condicionado e dos retrovisores externos, até a execução de funções mais complexas, como mexer na altura da suspensão ou mudar os modos de condução. E nem pense em conexão com Android Auto ou Apple CarPlay: o sistema operacional é da própria Tesla. Ele pode até ser intuitivo, mas exige um período para adaptação.

Por mais estranho que pareça, Elon Musk optou por colocar o seletor de marchas na tela multimídia. Não, você não leu errado. Não existe uma manopla de câmbio física na Cybertruck. Além disso, a picape não traz painel de instrumentos. Portanto, assim como no Volvo EX30, informações como as de velocímetro, conta-giros, hodômetro e nível de carga das baterias ficam todas na tela central.

Fato é que todo tipo de ajuste passa pelo sistema de infoentretenimento, o que chega a ser pouco prático e até irritante. Afinal, como se pode imaginar, há vários menus e caminhos diferentes. Na tela também se configura a posição das câmeras para uma melhor experiência de direção — o que é necessário, já que o retrovisor interno perde utilidade com a caçamba fechada, pois barra a visão do condutor.

O volante segue a premissa do “não convencional”. É pequeno e tem formato hexagonal. Não é tão desconfortável quanto pensei que seria, mas pode incomodar em viagens mais longas, em virtude do formato. Pouquíssimo desmultiplicado, dá pouco mais de uma volta entre um batente e outro, uma vez que as rodas traseiras também são esterçantes.

Porém, posso afirmar que o que mais me pareceu estranho foi a falta de hastes para acionar as luzes de seta e o enorme limpador de para-brisa, que foram substituídas por botões no volante. Graças a esse minimalismo, que não me agrada tanto, devido à praticidade (ou talvez à minha falta de adaptação a esse conceito de cabine), o espaço interno é amplo.

Cinco pessoas viajam tranquilamente, já que os três passageiros da segunda fileira não precisam se preocupar com falta de vãos para pernas e cabeça.

Nesse ponto, você pode estar se perguntando sobre o Autopilot, sistema ativo de segurança e auxílio ao motorista da Tesla. No Brasil, por questões de legislação, o sistema não está homologado, então não foi possível testar as funções semiautônomas de nível 3. Quem sabe mais para a frente.

E se você ficou intrigado(a) quando citei “ajuste de suspensão”, explico. A Cybertruck é equipada com uma suspensão a ar adaptativa, que mantém uma altura preestabelecida em diferentes níveis. Há uma série de mapas e modos, que fazem a altura para o solo variar de 20,1 cm, para facilitar embarque e desembarque, a 40,6 cm.

O cenário em que a picape fica mais alta é no modo Extract, que ajuda a atravessar obstáculos mais complexos no off-road. Nessa configuração, a velocidade é limitada a 16 km/h, já que o vão livre do solo chega a 55,6 cm.

Seja como for, há outros modos de condução que permitem aumentar ou diminuir a altura da suspensão da forma que o motorista desejar, com variações entre 5 cm e 15 cm.

Dito tudo isso, lá fui eu dirigir a Tesla Cybertruck. Foi uma experiência difícil no começo, confesso. A picape é diferente daquelas a que estamos acostumados. Por mais de uma vez tentei acionar as setas na haste inexistente do volante.

Durante o trajeto curto, de apenas 5 km, começou a chover torrencialmente e, não fosse a ajuda do proprietário, que estava ali como passageiro, não sei se eu conseguiria ativar o limpador de para-brisa na central multimídia.

Dirigi a uma velocidade média de 50 km/h na Serra da Cantareira e posso dizer: é uma direção que estranha. Na versão AWD, testada por Autoesporte, a Tesla Cybertruck é equipada com dois motores elétricos de 610 cv de potência e 84,6 kgfm de torque, um sobre cada eixo. A tração, por sua vez, é integral.

O que mais me intriga é que a caminhonete pesa 2.995 kg, o que se reflete em uma condução menos ágil do que os números de potência e torque sugerem. Mesmo assim, não senti falta de desempenho. Segundo a Tesla, a Cybertruck acelera de zero a 100 km/h em 4,1 segundos. Lembrando que as baterias de 123 kWh proporcionam autonomia de 547 km no ciclo WLTP.

Ponto é que, além do nervosismo, já que estava dirigindo um carro de “milhões” que nem seguro tinha, visto que o proprietário tem tido dificuldades de achar uma empresa que tope segurá-la no Brasil, a picape exige um tempo de adaptação. Tudo, desde ligar as setas até se acostumar com as câmeras, é um processo.

Mas, como já se esperava, a Tesla Cybertruck responde bem às acelerações e vence qualquer subida com maestria. Vale dizer que esse é um dos poucos veículos disponíveis com a tecnologia steer-by-wire. A direção eletrônica substitui a conexão mecânica do volante com as rodas por uma elétrica.

Por um lado, isso se reflete na direção — senti um leve atraso na resposta das rodas em relação ao volante. Em contrapartida, o sistema faz com que o ângulo de esterço seja menor. No trajeto, contornei algumas curvas mais sinuosas e percebi como o sistema que esterça as rodas traseiras é “cabuloso”. De acordo com a Tesla, o diâmetro de giro é de 13,2 m, o que não é ruim para o seu tamanho e permite fazer manobras com certa agilidade.

Bom, caro leitor, não tem como falar que não gostei da experiência com a Tesla Cybertruck. Porém, dizer que foi a picape mais diferente que já dirigi seria o eufemismo do século. Em um ponto do teste, até cheguei a chamar o modelo de “insano”. E agora vejo como esse apelido, dado não por Elon Musk, mas sim pela Jady Peroni, se encaixa bem.

Claro que é um modelo pouco convencional, mas acho que “indestrutível” não se adapta muito bem a uma caminhonete que, sim, impressiona pela robustez e tecnologia, mas precisaria receber mais atenção nos detalhes. Ainda mais custando quase R$ 2 milhões! Dessa vez, julgando com base no conteúdo, é certo dizer que a Cybertruck marca qualquer um que tenha contato com ela. Em todos os sentidos.

Pontos positivos: Desempenho, cabine muito espaçosa e pacote tecnológico
Pontos negativos: Carroceria tem problemas de encaixe; sistema não é intuitivo

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Fonte: direitonews

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