Preciso começar este texto dizendo que minha memória recente com um Peugeot 208 não é das melhores. Explico. O hatch me deixou na mão em plena rodovia, de madrugada, com um problema no sistema de arrefecimento. Teve de ser rebocado. Era a então versão Style 2023 com o 1.0 Firefly (da Fiat) de 75 cv.
Meses depois, a marca fez uma nova adição à gama, já ano/modelo 2024: o três cilindros 1.0 turbo (novamente da Fiat). Na ocasião, não coube a mim escrever sobre o carro. Até agora. Será que a configuração mais em conta com esse motor, a Allure, de vistosos R$ 99.990, consegue pôr panos quentes na experiência de outrora? Adianto: sim e não.
Não. Dessa vez não aconteceu nada de excepcional. O teste transcorreu perfeitamente. E, aliás, máquinas quebram, é da natureza delas. O motor turbinado (mesmo de Pulse, Fastback, Strada e agora também do C3 Aircross), inclusive, é um belíssimo ganho do carro.
Houve uma frustração tremenda quando a Peugeot não trouxe esta nova geração com o 1.2 turbo de 130 cv que oferecia em outros países, como a Argentina. Calhou de a mesma potência vir de outra forma, via Stellantis.
Os 130 cv (com etanol) e os 20,4 kgfm tornam o 208 turbo o hatch compacto mais rápido do segmento. Mesmo com o câmbio automático do tipo CVT, o modelo cumpre o zero a 100 km/h em 9,2 segundos, de acordo com a fabricante. Número melhor que o do trio rival, Hyundai HB20, Chevrolet Onix e VW Polo, todos na casa dos 10 s.
E a agilidade do 208 turbo nas situações cotidianas de trânsito e estrada, com a sensação de que ali sob o capô há um motor moderno e que finalmente se equipara aos principais rivais, já vale mais que o número de ficha técnica.
Um ponto negativo é a vibração. Parado no sinal é possível perceber que a oscilação (inerente aos motores três cilindros) reverbera nos painéis das portas, na alavanca do câmbio e em outras partes do interior. Chega a ser incômodo…
Já a transmissão CVT está longe de ser unanimidade, mas sincroniza bem com o hatch (assim como outros carros da Stellantis que usam o mesmo trem de força). A proposta é de conforto no dia a dia e também de economia de combustível. E isso o Peugeot entrega. Com etanol, a média é de 8,8 km/l (cidade) e 10 km/l (rodovia). Com gasolina, os números saltam para 12,5 km/l (cidade) e 14,1 km/l (rodovia).
Tirando a vibração do motor, o convívio com o 208 turbo é suave. O hatch é bom de dirigir, tem suspensão acertada e porte adequado (o Peugeot é menor que Polo e Onix e um pouco maior que o HB20). O porta-malas é raso: 264 litros — longe dos 300 L do VW e do Hyundai.
Claro que, para chegar a esse preço “abaixo” dos R$ 100 mil, a marca francesa precisou fazer algumas concessões, começando pelo exterior com faróis halógenos e rodas menores (aro 16). Dentro, um primeiro baque. Um dos grandes chamarizes do hatch não está na versão Allure.
O chamado i-Cockpit 3D com o bonito painel de instrumentos tridimensional foi substituído por uma telinha TFT monocromática que traz apenas informações básicas. Ao menos, o velocímetro é digital.
De resto, há itens como botão de partida, ar-condicionado digital, direção elétrica, vidros elétricos nas quatro portas, sensor de estacionamento, câmera de ré e os controles de tração e de estabilidade. Nada de câmera com visão 180 graus, luzes de LED ou um acabamento mais diferenciado nos bancos.
A versão Allure pode ficar mais interessante com o único pacote de opcionais, Excellence, que traz teto panorâmico, carregador por indução, iluminação interior traseira, revestimento de couro no volante e apoio de braço para o motorista. Custa R$ 5 mil…
No acabamento, os plásticos duros estão por todos os lados, mas o 208 Allure não passa aquela impressão de carro basicão. A central com tela de 10,3″ com Android Auto e Apple CarPlay sem fio é um caso à parte. É grande, estreita e reúne todas as funções do carro, como troca de temperatura, aumento ou diminuição do volume do som…
Vira e mexe algum aviso (de porta aberta, por exemplo) ainda aparece e toma conta de grande parte do visor, atrapalhando o motorista. O volante com diâmetro reduzido e de boa empunhadura, por sua vez, é um charme que não foi perdido.
O Peugeot 208 definitivamente tirou aquela má impressão que eu tive anteriormente. O motor turbo finalmente chegou e o modelo deve ser considerado por quem procura um compacto. Talvez eu esperasse mais em termos de acabamento e de equipamentos, no entanto a versão Allure tem um propósito bem definido. O problema é que o 208 vai mudar (de novo) em 2024…
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Fonte: direitonews