Reconhece este hatchzinho? Pois é, o carismático Dacia Spring renovado na Europa será o novo Renault Kwid E-Tech em breve no Brasil. A Dacia é a subsidiária de carros de baixo custo da marca francesa — e isso possibilitou a criação do único modelo elétrico com preço abaixo de 20 mil euros (R$ 134 mil na conversão) no velho continente. Pelo menos, era o caso até alguns meses atrás…
Assim como nos Estados Unidos, a União Europeia aplicou uma tarifa sobre carros produzidos na China. A Dacia decidiu absorver esse agravamento fiscal para abater no preço do Spring. No futuro, provavelmente até 2028, o hatch romeno deve trocar sua base técnica e assumir a plataforma do Renault Twingo elétrico.
Enquanto essa versão futura não chega, vamos conhecer mais sobre o novo Kwid E-Tech, produzido em parceria com a Dongfeng em Wuhan (China). É desse mesmo complexo industrial que sairá a versão brasileira, a ser lançada no segundo semestre deste ano. Seu objetivo será brigar pelo posto de elétrico mais vendido no país com o BYD Dolphin Mini, por um preço próximo de R$ 120 mil.
As ambições do modelo como carro urbano são perfeitamente atendidas no que tange às dimensões, que revelam algumas variações face ao antecessor. São 3,70 metros de comprimento (-3 cm) e 1,58 m de largura (+0,5 cm), além dos mesmos 1,52 m de altura e 2,42 m de entre-eixos. O peso, 1.056 kg, continua baixo para um carro elétrico, apesar do incremento de 6 kg.
Embora seja uma renovação profunda e não uma troca de geração, a Dacia assegura que as únicas peças preservadas são para-brisa, vidros laterais e teto (que abandonou as barras longitudinais de plástico). Exagero? Talvez.
O sistema de iluminação foi melhorado: apesar de as lâmpadas ainda serem halógenas, agora estão montadas em um projetor elipsoidal em vez de uma superfície reflexiva, o que permitiu reduzir o tamanho dos lustres dianteiros e direcionar o feixe de luz com mais precisão. Já as lanternas traseiras têm algumas funções realizadas por LEDs.
O radar do sistema de frenagem de emergência foi substituído por uma câmera atrás do retrovisor interno, que também atua na nova função do assistente de permanência em faixa. Esse é um dos recursos inéditos do novo Kwid E-Tech, bem como o detector de fadiga e o sistema de reconhecimento de sinais de trânsito. Estruturalmente, não há qualquer mudança — por isso o Dacia Spring conquistou uma de cinco estrelas possíveis nos testes de colisão do EuroNCAP.
A cabine traz um design um pouco mais elaborado e algumas soluções que também foram adotadas pelo novo Renault Duster europeu. O painel de instrumentos agora consiste em uma tela digital de 7’’ com qualidade razoável. A central multimídia Media Nav Live, por sua vez, passa a ter 10,1’’, com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Na Europa há uma versão sem tela, apenas com um suporte para celular, que pode pintar por aqui em versões de carga ou frota do novo Kwid E-Tech. Todavia, os controles gráficos da central são fáceis de assimilar e mexer.
Com a renovação, o volante agora tem ajuste de altura, tornando mais fácil conseguir uma posição adequada para dirigir. O toque dos controles no console central e no seletor de marcha está mais sólido. Neste último caso, deixou de ser uma “roleta” e adotou o formato de alavanca.
Todas as superfícies são feitas de plástico duro e básico — e o que não falta são cabeças de parafusos à vista. A boa notícia é que, apesar de ser um carro fabricado na China, não emite tantos ruídos de alerta enquanto se desloca.
A cabine continua sendo bastante estreita (o motorista roça frequentemente o braço esquerdo na porta, por exemplo). Os dois bancos dianteiros são pouco amplos e ficam quase colados um ao outro. Também falham na função de segurar o corpo dos ocupantes em curvas rápidas. Como o hatch não oferece alças de apoio para as mãos, a coisa se complica…
Quatro adultos de até 1,80 m podem viajar com espaço limitado. Nessa condição, os joelhos dos ocupantes traseiros já encostam nos bancos frontais. Não existem saídas de ventilação, encosto de braço, portas USB e luzes no teto. Para um elétrico de baixo custo, não houve orçamento para inserir esses itens.
Vale observar que, na Europa, o Dacia Spring, equivalente ao nosso Kwid E-Tech, está homologado para quatro passageiros, tal qual o modelo vendido atualmente no Brasil e a antiga versão de entrada do Dolphin Mini. A boa notícia é que o porta-malas tem bons 308 litros de volume, 18 l a mais que o antecessor e 72 l acima do rival da BYD. Para tanto, a Renault removeu o estepe e adicionou um kit de reparos.
Dinamicamente, o padrão de simplicidade se mantém, com a suspensão traseira por eixo rígido ligando as rodas de 15’’. Sempre que passamos por algum buraco ou elevação, o solavanco é garantido. Em curvas, a carroceria inclina como a Torre de Pisa. As pequenas baterias de 26,8 kWh, posicionadas sob o banco traseiro, pesam apenas 186 kg e pouco contribuem para maior estabilidade. No entanto, apesar dos freios traseiros a tambor, a frenagem é razoável.
A direção é leve a ponto de parecer que o carro está flutuando. Também é demasiado desmultiplicada, com 3,3 voltas entre os batentes do volante. Preservando o motor assíncrono de 65 cv de potência e 11,5 kgfm de torque, o desempenho se alinha à proposta racional e urbana. Pisando fundo, o novo Kwid E-Tech leva longos 13,7 segundos para ir de zero a 100 km/h. A máxima é de 125 km/h.
Não há modos de condução, sendo possível variar apenas o nível de frenagem regenerativa. Porém, é possível acionar o botão Eco, que mitiga as respostas do acelerador e limita sua velocidade a 100 km/h. Chega a ser bom, pois pressões mais fortes no acelerador se traduzem em frequentes perdas de contato dos pneus com a estrada.
A bateria não tem pré-condicionamento de temperatura nem bomba de calor para o sistema elétrico. Assim, permite uma recarga completa em corrente alternada (AC) após cinco horas (a até 7 kW), ou entre zero e 80% após 56 minutos em corrente contínua (DC), a até 30 kW.
A autonomia de 225 km no ciclo europeu WLTP parece possível de ser superada com relativa facilidade. Em nosso teste, o consumo médio de 8 km/kW foi melhor que os 7,4 km/kW declarados pela marca. E convenhamos: quem comprar o novo Kwid E-Tech dificilmente se arriscará a sair da cidade.
Resumindo, o novo Renault Kwid E-Tech pode ser uma solução interessante para motoristas de aplicativo ou frotas no Brasil. Se vier como o elétrico mais barato do mercado, pode roubar clientes do Dolphin Mini. Afinal, empresas e condutores de plataformas como Uber e 99 rodam muitos quilômetros diariamente em ambiente urbano e querem economizar trocando o reabastecimento pela recarga elétrica. Por isso mesmo, vão perdoar mais facilmente o caráter rústico e simples do carro.
Quanto à redução da pegada de carbono do Grupo Renault no Brasil e na Europa, aqui o modelo contribui para a marca cumprir as metas do Proconve L8, o programa local de emissões. Por isso, no Velho Continente, a montadora “engoliu” as tarifas impostas a carros chineses para vender o Dacia Spring por valores competitivos. A versão que testamos, Extreme 65, custa 21 mil euros (R$ 134 mil) e inclui central multimídia.
Dessa forma, a proposta do novo Renault Kwid E-Tech no Brasil será similar à da Europa: um carro que não serve para o early adopter que quer um elétrico cheio de tecnologias para ostentar, mas que cumpre seu papel de companheiro urbano de trabalho com competência. Vai faltar um pouco de espaço e conforto? Possivelmente, mas é um preço razoável a se pagar pelas demais economias.
Pontos positivos: Autonomia urbana, praticidade no dia a dia, preço e custos de manutenção
Pontos negativos: Acabamento espartano, poucos equipamentos e dinâmica de condução
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Fonte: direitonews