Novos ares. Essa é uma boa definição para a quarta geração do BMW Série 1, que conseguiu atualizar a definição da palavra “legal” no meu vocabulário. Tive a oportunidade de dirigir o hatch médio durante um evento realizado na Cidade do México (México), no qual consegui testar diversos veículos do portfólio da marca. No fim, posso dizer que o hatch premium foi um dos mais divertidos. E finalmente vai chegar ao Brasil em 2025!
A data exata ainda não é certa, mas, apostando parte de suas fichas no Série 1, a BMW vai na contramão do mercado que, atualmente, é dominado pelos SUVs. O movimento, aliás, não é unilateral. Afinal, a Mercedes-Benz também resolveu voltar atrás e manter a produção do seu hatch, o Classe A, até 2028.
Na Europa, a quarta geração do BMW Série 1 já está à venda desde o ano passado. E para se manter firme no mercado externo, a montadora optou por estrear uma configuração híbrida leve com bateria de 48V aliada ao conhecido motor 1.5 turbo a gasolina de três cilindros e 170 cv. Esta, no entanto, não foi a versão escolhida para o Brasil. Mas, há uma explicação!
A nova geração, de fato, vai trazer o frescor que o hatch da BMW precisava. Isso porque o modelo vendido no Brasil já sente, há tempos, o peso da idade. A versão comercializada nacionalmente, chamada de 118i, entrega singelos 140 cv de potência. Portanto, ficava atrás de concorrentes como o Honda Civic Type R (297 cv), Toyota Corolla GR (304 cv) e Audi A3 Sportback (204 cv).
Não por menos, o hatch da BMW emplacou apenas sete unidades em 2025. Enquanto isso, os três rivais tiveram um melhor resultado no acumulado do ano. O Civic Type R, por exemplo, vendeu 84 exemplares. Em seguida vieram A3 Sportback, com 57, e Corolla GR, com 31 emplacamentos. Um nicho pequeno, claro, mas antes fazer dessa festa seleta com mais de 50 do que com menos de dez carros.
Para dar um jeito nessa situação, a BWM apelou para a estratégia de vender a configuração esportiva no mercado brasileiro. Chamada M135 xDrive, mais um nome difícil de lembrar na gama da fabricante, a opção esportiva é equipada com o mesmo motor do irmão sedã Série 2. Ou seja, um 2.0 turbo de quatro cilindros que entrega 304 cv de potência e 40,7 kgfm de torque.
A cavalaria é gerenciada pelo câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas da marca, de caixa banhada a óleo. Essa transmissão, inclusive, desempenha muito bem seu papel, com trocas suaves e rápidas, mas ao mesmo tempo segurando as mudanças até um estágio mais cheio do motor, para aproveitar a entrega de torque, que chega em seu pico já a 2.000 rpm. O resultado dessa equação é uma condução muito dinâmica.
Com essa fórmula, o BMW Série 1 é, de fato, um carro muito legal. Isso mesmo sem trazer a clássica tração traseira, tão aclamada por puristas e que foi uma das características-base do hatch premium. Mesmo assim, a tração integral, no caso da versão M135, tem ótima entrega de estabilidade, algo que pude comprovar nos solos ariscos do interior do México, mais especificamente no Valle do Bravo.
Durante meu tempo com o Série 1, notei que a transferência do torque para as rodas da versão M135 traz muito desse feeling esportivo, o que se reflete de forma direta na condução. É um carro muito bem ajustado e que, embora possa fazer algumas pessoas torcerem o nariz por conta do design, tem boas chances de conquistar um público mais jovem.
Porém, tenho algo a confessar. Apesar de carregar a palavra “esportivo” no DNA, achei que falta um pouco dessa sensação aos ouvidos. O ronco do motor 2.0 turbo não era o que eu esperava para o seu desempenho, faltando um pouco de expressividade.
Mesmo assim, os cavalos a mais e os ajustes precisos resultaram em uma personalidade atrevida. Tanto que o novo BMW M135 xDrive vai de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos, de acordo com a fabricante. Lembrando que o hatch pesa 1.625 kg e não chega a ser um carro leve. No consumo, a ficha técnica revela que o modelo faz uma média de 12,3 km/l em cidade e 13,2 km/l na estrada, segundo o ciclo WLTP, obviamente com a gasolina de padrão europeu.
Outro detalhe que me veio durante a condução foi a firmeza. O Série 1 manda bem em rigidez nos contornos de curva e na estabilidade ao liberar potência nas retomadas, além de trabalhar de forma exemplar a aerodinâmica. Mas a suspensão é rígida.
Portanto, não é o carro mais confortável na cabine, já que pancadas mais secas não são incomuns devido ao curso curto dos amortecedores. O pacote esportivo, vale lembrar, inclui uma suspensão adaptativa que consegue baixar o modelo em até 8 milímetros, deixando o comportamento ainda mais instigante.
De cara, observei que as linhas do BMW priorizam a aerodinâmica, trazendo até vincos nos retrovisores e um capô mais baixo, em forma de cunha. O carro é jovial, com uma grade duplo-rim consideravelmente pequena perto dos irmãos maiores (ainda bem). Mesmo assim, o semblante é apimentado, com faróis de LED afilados, spoiler traseiro e para-choque esportivo.
Por ser um hatch médio, espaço não é um ponto forte, mesmo com o entre-eixos de 2,67 metros — o mesmo de um Volkswagen Jetta, por exemplo, que é um sedã médio. As demais medidas são de 4,36 m de comprimento, 1,80 m de largura e 1,46 m de altura. Como consequência, e até por conta dos bancos dianteiros enormes, o Série 1 tem uma segunda fileira enxuta e não oferece espaço suficiente para pessoas mais altas, ainda mais com o console central recuado.
A mesma lógica se aplica ao porta-malas, que não é tão generoso com seus 380 litros de capacidade. Porém, no caso de um casal, que usa apenas os bancos dianteiros, é possível rebater o assento traseiro para ter um volume de até 1.200 litros.
Em estilo, o novo BMW Série 1 incorpora na versão M135 o DNA dos modelos mais recentes da marca, mesmo com partes em plástico rígido. E embora a quarta geração tenha mudanças significativas na cabine, como o cockpit com telas curvas e voltadas ao motorista, existem tradições que se mantêm no modelo. É o caso das costuras em vermelho, azul e branco da divisão esportiva da marca, a M, e os bancos com acabamento em Alcântara e couro.
A cabine tem poucos botões, o que me incomoda, particularmente, já que sou fã da praticidade. Porém, não posso dizer que a central multimídia da BMW não é intuitiva. Os menus são simples e fáceis de mexer, fora que o tamanho de 10,25 polegadas da tela é satisfatório e a resolução é excelente.
Já o painel de instrumentos digital comporta uma tecnologia muito legal: espelha o Google Maps e o Waze. Portanto, não foi preciso que eu ficasse virando a cabeça para a multimídia com a finalidade de entender o percurso a ser seguido no mapa, o que ajudou muito nas ruas da Cidade do México, uma metrópole muito difícil de se andar no trânsito.
Entre os itens de série do BMW M135 xDrive estão: bancos dianteiros esportivos com ajustes elétricos e opcional de aquecimento, head-up display, ar-condicionado de duas zonas e teto panorâmico. O hatch premium também oferta assistências ativas ao motorista (Adas), como alerta de colisão frontal e saída de faixa, assistente de estacionamento, frenagem autônoma de emergência e controle de cruzeiro adaptativo (ACC).
Até o momento, não há informações de preços do novo BMW M135 no Brasil. Podemos esperar, no entanto, algo próximo dos R$ 500 mil, mesma faixa dos esportivos da série AMG 35 da Mercedes.
Se o hatch vendido em nosso mercado seguir os mesmos passos da Europa, a conta pode ficar ainda mais salgada. Afinal, alguns recursos como faróis de LED adaptativos, carregador de celular por indução, contorno luminoso na grade e assistente de estacionamento profissional fazem parte de um pacote opcional que, no exterior, custa 3.800 euros (cerca de R$ 24 mil).
Vale lembrar que o BMW Série 1 chegou a ser eleito o hatch premium de melhor custo pelo Qual Comprar 2023 da Autoesporte, apenas um de seus títulos no prêmio. Entretanto, caiu na zona comum pela falta de atualização. Agora, a nova geração conseguiu resgatar algo que, como eu falei no começo, o modelo precisava há tempos: frescor.
Na configuração M135, o Série 1 cumpre esse objetivo com personalidade, mas agora a missão é conquistar o público brasileiro e correr atrás do prejuízo. O que posso dizer é que, durante minha experiência, o primeiro pensamento que me veio à cabeça assim que deixei a direção foi: “Nossa, que carro legal”. A BMW aposta muito que a reação de seus potenciais compradores seja a mesma.
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Fonte: direitonews