O nome Passat é uma instituição em Wolfsburg, cidade onde a Volkswagen foi fundada. Hoje, é um dos quatro modelos mais populares da montadora, ao lado de Polo, Golf e Tiguan, com mais de 30 milhões de unidades vendidas em meio século. Agora que as vendas de carros elétricos estão estagnadas na Europa, versões com motor a combustão recuperaram a atenção do público. Logo, a evolução dessa Variant, uma das peruas mais elegantes do mundo, é uma excelente notícia.
Estive em Nice, no sul da França, para conhecer a novidade em primeira mão. Infelizmente, a Passat Variant continuará sendo um sonho distante para os brasileiros. Em baixa, o modelo se despediu do país em 2020, e não há qualquer perspectiva de retomada das importações. Na Europa, a nova geração sobreviverá apenas na configuração station wagon. O sedã será substituído pelo elétrico ID.7.
Essa é a primeira aplicação da plataforma MQB na Passat Variant em sua história. Isso significa que a perua estreia atualizações tanto de hardware quanto de software. A carroceria, que já era uma das maiores do segmento, volta a crescer e chega a 4,91 metros de comprimento (+ 14 cm), 1,84 m de largura (+ 2 cm) e 2,84 m de distância entre os eixos (+ 5 cm). Esta última medida agora é a mesma do Arteon.
Os aumentos dimensionais proporcionaram uma cabine ainda mais espaçosa. Esse sempre foi um dos fortes argumentos a favor do Passat em sua história. Na segunda fileira, eu me sinto em um anfiteatro graças aos bancos mais altos e ao vasto espaço para acomodar as pernas. Do topo da minha cabeça ao teto há sete dedos de distância. No entanto, o ocupante traseiro que vai no meio tem de conviver com o volumoso túnel central. Esse é um problema de todos os Volkswagen com motores a combustão.
O porta-malas também está maior, totalizando imensos 690 litros. Não há outra perua no mundo nessa categoria com capacidade superior. Ao rebater os bancos traseiros, o espaço de carga da Passat Variant pode aumentar para 1.920 litros. Duas alavancas montadas nas laterais facilitam bastante esse trabalho.
O bagageiro da versão híbrida plug-in é menor, em razão dos componentes do sistema elétrico alocado abaixo do assoalho. Assim, o volume varia entre 510 litros e 1.770 litros, dependendo do rebatimento dos bancos.
A carroceria da Passat Variant está mais arredondada, com faróis finos e horizontais (agora com tecnologia matricial). Assim, o visual se aproxima da gama de elétricos ID, atual força dominante na Volkswagen.
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O progresso aerodinâmico foi impressionante: o coeficiente de arrasto baixou de 0,31 para 0,25 Cx. O capô mais baixo colabora para essa redução, bem como a persiana da grade de radiador, que é controlada eletronicamente e só abre quando é necessário o resfriamento do motor.
Por dentro, percebemos mais uma aproximação com a linha ID. O cockpit digital é um recurso padrão em todas as versões, com central multimídia de 12,9” levemente orientada para o condutor. Nas versões mais caras, a tela tem 15”, mas esse tamanho todo pode obstruir a visão da área frontal para motoristas mais baixos.
Os “sliders” retroiluminados (nome dos comandos táteis deslizantes do painel) foram aprimorados. O quadro de instrumentos de 10,2” é segmentado em três áreas configuráveis e sua visualização pode ser personalizada de vários modos. De forma geral, as interfaces da Passat Variant 2024 estão mais lógicas e intuitivas, contando agora com o vasto uso de inteligência artificial para facilitar a utilização dos recursos.
Os materiais do painel são sólidos, assim como a impressão da montagem e do acabamento. A sensação de toque, um tanto dura, é suavizada pelo revestimento de couro fino. O bom isolamento acústico torna a cabine da Passat Variant mais silenciosa do que nunca. Já o seletor do câmbio automatizado de dupla embreagem DSG de seis marchas passou do console central para a direção.
Outras áreas confirmam o bom trabalho que a marca alemã fez para dar à provável última Passat Variant uma sensação premium a bordo. É o caso dos bancos com massageadores, dos faróis inéditos com tecnologia matrix e do chassi. Kai Grunitz, chefe de desenvolvimento da Volkswagen, me explicou de forma muito pragmática que economizou cerca de 600 milhões de euros ao criar a nova perua em parceria com a Skoda.
A Passat Variant continuará utilizando os motores 2.0 TDI turbodiesel no mercado europeu, entregando 122, 150 ou 193 cv. A opção 2.0 TSI turbo a gasolina tem versões com 204 e 265 cv. A primeira versão eletrificada combina o motor 1.5 TSI Evo2 com um conjunto híbrido leve que desenvolve 150 cv. Esse motor virará flex em breve no Brasil.
Mas a principal melhoria está na versão híbrida plug-in. Com uma nova bateria de 19,7 kWh, a autonomia elétrica sobe para 100 km no ciclo europeu WLTP. O motor elétrico funciona junto com o motor 1.5 TSI Evo2 a gasolina, entregando 272 cv combinados e até 41 kgfm de torque.
Segundo a Volkswagen, os donos da nova Variant poderão dirigir durante toda a semana sem emitir poluentes na atmosfera. Na hora de curtir um passeio com a família, a autonomia de mais de 800 km entrará em ação para garantir um trajeto tranquilo e sem paradas nos postos de beira de estrada para reabastecer ou recarregar.
A potência de recarga também deve agradar donos da nova Passat PHEV: subiu de 3,6 kW da geração anterior para 11 kW em corrente alternada (AC) ou 50 kW em corrente contínua (DC). Assim, o tempo de carregamento será substancialmente menor. A antiga versão GTE da Passat Variant demorava quase 4 horas para atingir 80%. Agora, a nova geração vai tomar no máximo 23 minutos em carregadores de alta tensão.
Como mencionei, a Passat Variant eHybrid tem dois níveis de potência (204 cv e 272 cv). A diferença se explica pelas aplicações de software e pela calibração do motor 1.5 TSI, que é apoiado por uma unidade elétrica de 116 cv instalada na transmissão de dupla embreagem. A potência total não é a soma das duas fontes de energia; é definida eletronicamente, maximizando a eficiência.
As arrancadas são feitas sempre em modo elétrico, exceto sob temperaturas inferiores a -10 °C. Até os 140 km/h, não há emissões de carbono, a não ser que o pedal do acelerador seja usado de forma muito agressiva. São esses os modos de condução: Hybrid (combinando combustão e eletricidade), Hold (para recuperar a carga) e Reserve (economizando a energia da bateria). Há também os modos convencionais, como Eco, Comfort, Sport e Individual, com nomes autoexplicativos, que intervêm nas respostas da direção, da motorização e da suspensão da Variant.
O desempenho da perua híbrida é sempre muito ágil desde as rotações mais baixas — e as retomadas de velocidade também são fugazes. Segundo a Volkswagen, a perua vai de zero a 100 km/h em 7,4 segundos e pode atingir 230 km/h de velocidade máxima. A suspensão tem sistema de amortecimento eletrônico variável, que utiliza duas válvulas (uma para a compressão e outra para o rebote) como forma de controlar os movimentos verticais da carroceria.
Um engenheiro da Volkswagen explicou que, quando ocorre um movimento descendente, a fase de compressão do amortecedor é definida como “dura” e a fase do rebote, como “suave”. Quando há um movimento ascendente, os papéis se invertem. É a primeira vez que uma marca fora do segmento premium utiliza esse recurso, antes restrito a carros da Porsche e da Mercedes-Benz.
Além disso, a Passat Variant usa uma nova geração do sistema VDM (Vehicle Dynamics Management), que a Volkswagen estreou no Golf GTI. Ele gerencia o bloqueio eletrônico do diferencial e a resposta da direção, deixando a perua mais precisa e direta, enquanto reduz o número de voltas do volante. É notável como um carro de quase 5 m de comprimento dá a impressão de ser bem menor durante as manobras.
Em asfaltos irregulares, o controle dinâmico de carroceria (sistema DCC Pro) dá ganho de estabilidade e conforto. É possível ajustar a suavidade e a rigidez dos amortecedores em 15 níveis, tornando o amortecimento ainda mais suave do que no modo Comfort ou mais rígido que no modo Sport.
No que diz respeito à estratégia de regeneração de energia, a Variant permite escolher entre níveis baixos e altos. Há, ainda, um modo automático que deixa o carro “decidir” quanto de energia recuperar. Apesar de todos os avanços, a Passat Variant infelizmente continuará mexendo apenas com o imaginário dos brasileiros. A venda da perua também seria inviável por seu preço: 57 mil euros (R$ 311 mil na conversão).
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Fonte: direitonews