Teste: nova Volkswagen Amarok muda o bastante para sair da década passada?


Se em festa de rodeio, como diz a canção de Leandro e Leonardo, não dá para ficar parado, o mesmo acontece entre as picapes médias. Por mais que os clientes sejam mais fiéis a uma marca ou modelo, quem não se renova, perde terreno. Ford Ranger e Chevrolet S10 são exemplos recentes. E eis que a Volkswagen também resolveu mexer na Amarok e promover a maior atualização nos 14 anos de vida da caminhonete.

E, como o lançamento foi na Festa de Peão de Boiadeiro de Barretos (SP), uma das maiores celebrações regionais do país, nada melhor do que aproveitar o tema sertanejo para contar a história da Amarok 2025. Nossa prosa vai voltar para 2019, quando Volkswagen e Ford anunciaram uma parceria para desenvolver, juntas, carros elétricos e veículos comerciais. O lado norte-americano ficou responsável pelas novas gerações de Ranger e Amarok, mas os alemães decidiram que sua caminhonete completamente renovada seria feita apenas na África do Sul.

O prêmio de consolação para os sul-americanos foi um modesto investimento de US$ 250 milhões anunciado em 2022 para promover uma atualização do modelo lançado em 2010. Como referência, a Ford colocou quase o triplo da quantia para criar uma Ranger completamente nova. O mais irônico é que as duas picapes saem de fábricas separadas por uma cerca, em General Pacheco, nas redondezas de Buenos Aires.

Mas como a nova Amarok chega na arena das picapes médias? Apostando na força bruta e no título conquistado em rodeios passados: a de caminhonete mais potente do segmento, com o consagrado motor V6 3.0 turbodiesel de 258 cv de potência e 59 kgfm de torque, aliado ao câmbio automático de 8 marchas e tração integral permanente.

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O ingresso para ter à disposição toda essa cavalaria, porém, é alto. Há três versões: Comfortline (R$ 309.990), Highline (R$ 328.990) e Extreme (R$ 350.990). Ainda é possível escolher pacotes Hero (mesmo preço) e Dark (R$ 352.540) para a opção topo de linha. Todas agora têm cinco anos de garantia (antes eram três).

Nas medidas, apenas o comprimento está diferente (e maior), por conta do novo para-choque. São 5,35 m. Os 1,95 m de largura, 1,85 m de altura e 3,10 m de distância entre-eixos foram mantidos, bem como a caçamba de 1.141 litros e a capacidade de carga para até 1.105 kg.

Ingresso pago, o dono terá uma picape mais moderna. Pelo menos olhando de frente. Saem as linhas quadradas do início da década passada e entram traços arredondados. Os faróis passam a ser iluminados por LEDs e a parte superior da grade ganha iluminação. As luzes de neblina são as mesmas do Nivus.

Porém, é só começar a olhar lateral e traseira para perceber que a roupagem não é tão nova assim. As rodas de até 20 polegadas caem bem, mas o repetidor de seta no paralama e a maçaneta sem acesso por chave presencial entregam que, por baixo de uma bota nova, existe uma meia surrada e gasta. Essa sensação é reforçada pela falta de mudanças na traseira e na cabine. A tampa da caçamba recebeu tipografia atualizada e o novo emblema da Volkswagen.

Ao acionar o alarme na chave do tipo canivete para destrancar as portas, viajamos no tempo, mas sem a boa sensação de nostalgia. A realidade é que nos deparamos com um veículo parado no tempo (sim, outra vez a canção de Leandro e Leonardo) e que esbarrou em limitações da plataforma para receber itens considerados essenciais em picapes modernas. Partida por botão, freio de estacionamento eletrônico, quadro de instrumentos digital são só alguns itens presentes nas rivais mais modernas que a Amarok ficou impossibilitada de receber.

E, para poder melhorar a segurança (passiva), a saída foi buscar a Mobileye, uma empresa israelense de tecnologia e recorrer ao Safer Tag, um item vendido como acessório para qualquer carro na internet. Usando uma câmera instalada no para-brisa e um minúsculo display colorido instalado no centro topo do painel, o equipamento alerta quando a picape sai da faixa ou está muito próxima do veículo da frente. Mas não faz qualquer tipo de intervenção.

É o motorista que precisa frear ou assumir a direção para evitar o pior. Essa é exatamente a hora que o peão a bordo de uma Ranger abre aquele sorriso largo. A picape rival oferece, mesmo que apenas na versão mais cara, frenagem automática de emergência e correção no volante em saídas de faixa.

Na Amarok, as novidades, além do Safer Tag, se limitam aos airbags de cortina (antes havia apenas bolsas frontais e laterais) e uma central multimídia com tela maior, de 9 polegadas. O volante, o mesmo desde 2017, recebeu o novo logotipo da Volkswagen, mas segue oferecendo assistência hidráulica, tão contemporânea quanto o finado boi Bandido, astro da novela América, exibida em 2005. É justo dizer que Nissan Frontier, Mitsubishi L200 e Fiat Titano estão no mesmo barco.

O restante do pacote de equipamentos da versão Extreme, avaliada por nós em Barretos, é bom. Há ar-condicionado digital de duas zonas, bancos de couro com ajustes elétricos para quem vai na frente, faróis full-LED com acendimento automático, câmera de ré, controlador de velocidade, retrovisor eletrocrômico, protetor de caçamba, capota marítima, sensor de chuva e as já citadas rodas de 20 polegadas.

Hora do espetáculo. Giro a chave e o motor V6 desperta com níveis surpreendentemente baixos de ruído e vibração. Bastam poucos quilômetros para entender porque a Amarok ganhou a fama de ser um carro de passeio vestido de caminhonete, mesmo aos 14 anos.

Antes de tudo, achar uma posição de dirigir é quase tão fácil quanto localizar alguém de chapéu na Festa do Peão. Os bancos abraçam bem o corpo e fornecem a sustentação necessária, mesmo no sacolejar das estradas de terra do interior paulista. Apesar de as rodas terem ficado maiores, não há prejuízo no conforto a bordo. Mas o desempenho está ligeiramente pior.

São necessários 8 segundos cravados para chegar aos 100 km/h, 0,4 s mais do que antes. Honestamente? A diferença é mínima no uso cotidiano. Na prática, a Amarok segue entregando potência e torque de sobra, quando exigida. Ainda há um incremento de potência para 272 cv por 10 segundos para ajudar em ultrapassagens e eventuais situações em que mais força é necessária.

Fora isso, o câmbio automático de oito marchas tem trocas suaves e sempre na hora certa. Lembrando que não há modos de condução ou seletor de tração. Esta, é feita de forma eletrônica. O grande mérito da Volkswagen foi conseguir manter a Amarok como uma das melhores picapes médias em termos de dirigibilidade, mesmo com as limitações de um projeto que já tem quase uma década e meia.

Outro verso da música Festa de Rodeio diz que, quem quiser ser o primeiro, tem que ter o braço forte. Entre as picapes, porém, força bruta sozinha não é tudo. A Amarok pode até ser a caminhonete média mais potente do Brasil e ainda seduzir o motorista por parecer um carro de passeio. Mas cai do cavalo por ser praticamente o mesmo carro de uma década atrás em tecnologias e, principalmente, cobrar muito caro pelo pouco que oferece. Nesse rodeio, há peões que entregam mais, cobrando cachês menores.

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Fonte: direitonews

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