Teste: Jeep Avenger tem muito mais de Peugeot 2008 que de Renegade


A vida parecia mais simples quando os SUVs podiam ser divididos em P, M e G. Atualmente, esse mercado está tão ramificado que é preciso se esforçar para explicar o posicionamento de cada produto. É o caso do Jeep Avenger. Com lançamento e produção confirmados no Brasil para 2026, será o menor e mais barato SUV da marca em nosso mercado.

A partir do ano que vem, portanto, será o Avenger, não mais o Renegade, a porta de entrada da Jeep no Brasil. Sua missão será brigar com o Volkswagen Nivus em uma faixa entre R$ 120 mil e R$ 160 mil. Por isso, segundo o Autos Segredos, será comercializado em quatro versões. Ao mesmo tempo, o Renegade, que está saindo de linha em todo o mundo, exceto aqui, onde passará por mais um facelift e adotará motorização híbrida leve de 48V, deve ser reposicionado para uma faixa entre R$ 150 mil e R$ 200 mil.

Em comum com outros Jeep nacionais, o Avenger tem praticamente só o emblema da marca. A plataforma é a CMP, a mesma dos Peugeot 208 e 2008 e dos Citroën Aircross, Basalt e C3. Aliás, será produzido em Porto Real (RJ), mesma fábrica dos Citroën nacionais. Contudo, o Avenger usa uma versão mais sofisticada dessa matriz e tem no Peugeot 2008 sua referência mais próxima. Com ele, o novato compartilha na Europa elementos como para-brisa, coluna A, formato das portas laterais dianteiras, itens de acabamento interno e até a chave.

No Brasil, herdará também a motorização 1.0 GSE turbo flex híbrida leve de 12 Volts com três cilindros, 12 válvulas e injeção direta. Serão 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque com etanol, gerenciados por um câmbio CVT de sete marchas simuladas com tração dianteira. Aqui há uma pendência curiosa: a Jeep possui uma diretriz mundial que demanda uma versão 4×4 para todos os seus produtos. A ver como essa questão será resolvida no Brasil.

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Autoesporte foi a primeira mídia nacional a ter contato direto com o Avenger. E já podemos adiantar que muita coisa vai mudar na configuração brasileira em relação à europeia. Por exemplo, aqui os faróis de LED devem ser por espelhos, sem projetores com farol alto automático. Já as dimensões devem ser mantidas: 4,08 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,54 m de altura e 2,56 m de entre-eixos.

Ou seja, estamos falando de um SUV com largura e entre-eixos quase iguais aos de um Renegade, mas menos comprido e muito mais baixo. O resultado prático é uma cabine com vão similar para pernas e ombros, porém com ponto H mais baixo e menos espaço para a cabeça dos ocupantes.

O acabamento é outro ponto potencialmente sensível. O do Avenger europeu é predominado por plástico rígido; já o brasileiro, acredite se quiser, terá materiais de melhor qualidade, com a parte superior do painel central e das guarnições das portas laterais dianteiras macia ao toque. Ainda assim, ficará abaixo do bom padrão do Renegade. Por outro lado, o porta-malas de 380 litros ficará acima dos limitados 320 l do primo maior. Em suma, o Avenger terá papel mais racional de compra, embora o visual limpo e a silhueta larga e musculosa confiram um bom apelo estético.

Mecanicamente, o modelo tem direção elétrica progressiva, freios a disco nas quatro rodas e suspensão traseira por eixo de torção. A dinâmica é similar à do 2008, o que é ótimo, pois o SUV tem direção direta e firminha, mesmo em modos de condução mais suaves, como Eco e Comfort, além de uma carroceria rígida, que inclina pouco lateralmente, e de frenagens eficientes desde o primeiro estágio.

O nível de filtragem de pisos irregulares é similar ao de qualquer outro SUV compacto com eixo de torção. Agrada, mas passa longe da robustez do Renegade com sua arquitetura traseira independente. Pelo menos o vão livre em relação ao solo, de 20,1 cm, e os ângulos de transposição — 20° de ataque e 32° de saída — são dignos de um SUV.

A unidade que testamos tem motor 1.2 Puretech turbo a gasolina de 100 cv de potência e 20,9 kgfm de torque, com câmbio manual de seis marchas. Só é possível fazer uma relação de desempenho com a variante 1.0 turbo nacional híbrida leve em razão do torque, que deixa o Avenger muito esperto nas arrancadas e retomadas, até por pesar apenas 1.180 kg. O zero a 100 km/h oficial na Europa é de 10,6 segundos, bem próximo dos 10,3 s do Peugeot 2008 no Brasil.

Por aqui, com 30 cv a mais e peso menor que o do Peugeot, podemos esperar um número abaixo de 10 s. Ainda ficará acima dos 8,8 s do Renegade T270, mas o combo final será de um SUV ágil e gostoso de dirigir. Na Europa, mesmo o Avenger básico dispõe de bloqueio eletrônico do diferencial dianteiro e modos de condução como Lama e Areia, além de Eco, Comfort e Sport. Tal padrão deve ser preservado na versão brasileira.

Em equipamentos, o Avenger que testamos já dispunha de cluster digital, central multimídia de 8,4″ com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução (sem ventilação, diga-se), console central elevado, freio de estacionamento eletrônico, iluminação ambiente de LED, porta-luvas com abertura amortecida e tomadas USB-C, mas não tinha alças de teto nem saída de ar traseiras. Outro detalhe é que os avisos de cinto ficam no console de teto. Veremos como a Jeep trabalhará esses detalhes no Brasil.

O sistema Adas inclui controle de cruzeiro adaptativo (ACC), assistente de permanência em faixa e frenagem autônoma emergencial. O funcionamento é similar ao de outros Stellantis nacionais, mas os botões do volante multifuncional são bem diferentes e menos intuitivos. Espero que o Avenger nacional adote os mesmos comandos dos demais Jeep brasileiros.

Um dos maiores destaques do SUV, contudo, é o consumo. No teste que fiz por estradas vicinais da região da Toscana, obtive 15,6 km/l com gasolina E10 (10% de etanol). O ciclo europeu WLTP promete médias de até 17,5 km/l. No Brasil, se chegarmos perto disso com gasolina E30 será um avanço e tanto na comparação com o beberrão Renegade.

Em resumo, o Avenger tem tudo para surpreender em pontos como desempenho, dirigibilidade, espaço interno, porta-malas, tecnologias, segurança e consumo, mas pode causar rejeição por detalhes como acabamento, espaço para a cabeça e robustez. Será que os brasileiros vão aceitar o novo Jeep de entrada de braços abertos como receberam o próprio Renegade dez anos atrás? Será que a marca conseguirá, com ele, reverter a perda de participação de mercado de anos recentes? O Avenger pode até ser um Jeep pequeno, mas sua lista de missões será enorme.

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Fonte: direitonews

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