Quando falamos do infame passado das marcas chinesas no Brasil, a Geely aparece com seus expoentes. É o caso do hatch GC2 e do sedã EC7, vendidos por aqui entre 2014 e 2016, ano em que a empresa encerrou suas atividades. Mas se todos merecem uma segunda chance, por que seria diferente para uma das maiores marcas da China? É com essa mentalidade que o Geely EX5, o novo SUV elétrico de porte médio, chega às concessionárias da… Renault?
Calma, já explicaremos a inusitada relação entre as marcas. Antes, vamos aos preços e versões do Geely EX5, pois o posicionamento do modelo no mercado é agressivo. O SUV médio será vendido no Brasil em duas versões: Pro (R$ 205.800) e Max (R$ 225.800). A mais barata chega a concorrer com configurações de topo de SUVs compactos como Honda HR-V e Nissan Kicks.
No caso, o primeiro contato de Autoesporte foi por cerca de 90 km, quase todo em trajeto rodoviário, com a versão Max, R$ 20 mil mais cara. As diferenças estão restritas ao pacote de equipamentos (que você pode conferir logo abaixo), pois o SUV terá apenas um conjunto mecânico no Brasil.
Quem acompanha Autoesporte sabe que a Geely está se tornando sócia da Renault nesse retorno ao Brasil. A marca francesa ficará responsável pelas vendas, mas as lojas ainda terão separação física. Nesse acordo, a Geely também poderá utilizar a fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR) para produzir carros híbridos e elétricos.
O objetivo é respaldar a nova operação após o desastre da primeira passagem, quando a chinesa era representada pelo Grupo Gandini (o mesmo da Kia). Esse casamento é feliz em outras regiões do mundo, como na Coreia do Sul, onde Geely e Renault também são sócias, e, ainda, na Horse, fabricante de motores fruto de uma joint venture entre europeus e asiáticos. Já que estamos falando de recomeços, um belo capítulo começa a ser escrito com a chegada do EX5.
Diferente de outros elétricos chineses, o Geely EX5 tem pelo minimalista: não chama a atenção como seus pares de classe e evita extravagâncias. O formato arredondado confere estilo sutil e delicado, que contrasta bem com os grandes faróis full-LED.
Já a traseira poderia ser facilmente confundida com a de um BYD ou Caoa Chery. O formato das lanternas interligadas é genérico e lembra o do Tiggo 7, com o filete central iluminado por LEDs. O jogo de luzes ficou interessante, mas a impressão de “já vi isso antes” é nítida. Chegou a hora de as marcas chinesas optarem por abordagens mais criativas, por dentro e por fora.
O novo SUV tem 4,61 metros de comprimento — entre um Jeep Compass e GWM Haval H6 —, 1,90 m de largura, 1,67 m de altura e generosos 2,75 m de distância entre-eixos. O desenho da carroceria propicia ao EX5 um porte de SUV médio com espaço interno de um SUV grande. Ajustei o assento do motorista com as regulagens elétricas de acordo com meus 1,85 m de altura e me sentei no banco traseiro. Restou cerca de um palmo de distância dos meus joelhos até o encosto do assento frontal.
Mas o que realmente chama a atenção é o “chão” da cabine totalmente plano, típico de um elétrico com baterias posicionadas no assoalho, o que ajuda no dimensionamento da cabine. Só não se engane, pois três adultos ainda ficariam apertados por causa do espaço lateral para os ombros.
O painel do EX5 é tão genérico quanto o visual traseiro, por mais que seja bem executado. De novo, é difícil não confundir o elemento com o de um BYD. Começando pela variedade de acabamentos, o SUV combina borracha, couro sintético, costuras aparentes e plástico que imita uma espécie de madeira prateada. Diversas superfícies são macias ao toque.
A cereja do bolo é a central multimídia de 15,4 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. A grande tela tem excelente resolução, responde bem aos comandos do motorista e exibe layout bonito quando está espelhando o celular. Uma faixa inferior fica sempre reservada aos controles digitais do ar-condicionado. Ótima notícia!
Ao abrir o menu de ventilação, há dois seletores de temperatura: um para o motorista e outro para o passageiro. Todavia, ao mudar a temperatura de um lado, a do outro também muda, sendo impossível selecionar climatizações distintas. Portanto, trata-se de um ar-condicionado digital que parece ter duas zonas, mas tem apenas uma, com um atalho para o passageiro dianteiro também escolher a temperatura.
Gosto quando os carros têm muitos porta-objetos, e é o caso do EX5. Existe até uma gaveta abaixo do banco traseiro para guardar bugigangas. O volante multifuncional de dois raios tem base e topo achatados, e boa empunhadura. Na estrada, basta pressionar o botão “Ok” para acionar o controle de cruzeiro adaptativo (ACC).
O Geely EX5 tem motor elétrico dianteiro síncrono, mas com rotores bobinados em vez de ímãs permanentes, que desenvolve 218 cv de potência e 32,6 kgfm de torque. Ele é alimentado por baterias de 60,2 kWh de capacidade, de íons de lítio, que proporcionam 413 km de autonomia na versão de entrada e 349 km na versão topo de linha, segundo o Inmetro.
A diferença se deve ao aumento de peso e à complexidade eletrônica da versão mais cara — que tem bancos elétricos com massageadores, sistema Adas de segurança ativa completo, maior capacidade de processamento e teto solar panorâmico. Esses itens demandam mais energia e comprometem a autonomia, por mais que a diferença de peso seja de apenas 50 kg.
Em estações de corrente alternada (AC), a bateria do Geely EX5 leva seis horas para recarregar entre 10% e 100%. Em corrente contínua (DC), são 20 minutos para recuperar entre 30% e 80% da carga caso o carregador tenha 100 kW.
Dinamicamente o Geely EX5 é um SUV bom de guiar. A suspensão faz ótimo trabalho ao mitigar os impactos e se mostra suficientemente firme para encarar curvas a velocidades comedidas. O mais interessante é que esse conjunto não passou por regionalização, pois o EX5 é um carro global, vendido com o mesmo acerto em todo o mundo.
Há mais de uma década a Geely é dona da Volvo — e ficou claro que algum engenheiro da marca sueca participou do desenvolvimento do novo SUV chinês na parte de suspensão. O desempenho é bom, claro — e o 0 a 100 km/h em 6,9 s atesta isso —, mas não chega a impressionar para os padrões de um carro elétrico com entrega instantânea de torque máximo.
Outro tópico que chamou minha atenção foi o isolamento acústico. Por mais que ainda se escute o vento cortando impetuosamente a carroceria, o barulho de rolamento dos pneus é quase totalmente mitigado. Não precisei elevar a voz para conversar ou falar ao telefone (pelo comando de voz da central, claro).
Devido ao contato curto, não foi possível confirmar se a autonomia na prática se equivale à da homologação. Gastamos 30% de carga para rodar 90 km em rodovia, quase sem espaço para regeneração, o pior cenário possível para um elétrico.
Entre escorregões e acertos, a primeira impressão deixada pelo SUV elétrico é positiva. Custando entre R$ 205.800 e R$ 225.800, existe a possibilidade de o Geely EX5 ser mais barato até que o futuro Renault Boreal. Se a marca chinesa trouxe um “cavalo de Troia” para sua sócia francesa no Brasil, o tempo dirá. Fato é que a Geely faz por merecer a segunda chance.
A lista de equipamentos do Geely EX5 é recheada, como manda o padrão do segmento, mas tem recursos que variam de acordo com cada versão. Confira abaixo o conteúdo de cada configuração.
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Fonte: direitonews