Minha mãe nunca foi uma entusiasta de carros. Inclusive, basta que dois veículos tenham a mesma cor para ela achar que são iguais — mesmo que a gente esteja falando de um Mobi e de um Mustang. Mas quando falei que ia testar o GAC Hyptec HT, a história mudou. “Vai trazer esse para casa? Quero andar”, foi o que ela disse. Pois é. O que faz uma porta no estilo asa de gaivota! Agora, fica entre nós, mas eu estava com a mesma animação.
O Hyptec HT não esconde a clara inspiração no Tesla Model X, mas é um SUV elétrico da GAC (diz-se ge-a-cê) — uma das maiores fabricantes de carros da China. A montadora fez sua estreia no Brasil em maio deste ano com cinco modelos diferentes. E esse é o mais luxuoso da lista.
O HT, que é também o mais caro, é oferecido em duas versões. A primeira, denominada Elite, custa R$ 299.990. A segunda tem o nome de Ultra e preço de R$ 349.990. O que muda entre elas? Só uma coisinha: as portas. Ou seja, é possível dizer que as asas de gaivota custam R$ 50 mil. Seriam as mais caras do Brasil?
Isso eu não sei, mas a dona Denise apertou o botão para abri-las com a mesma empolgação de quando sai da Renner com uma sacolinha na mão. Após o clique, as portas traseiras se abrem verticalmente com a ajuda de alguns pistões e dobradiças no teto. Na frente, o princípio de abertura e fechamento por botão é o mesmo. As dianteiras funcionam na mesma lógica de acionamento por botão, mas são, digamos, normais: com abertura horizontal.
Mas… e se outro carro estiver parado ao lado? E se o teto for mais baixo? E se uma pessoa passar bem na hora? Nesses casos, sensores e o sistema antiesmagamento entram em ação para que a porta se adapte ao espaço ou pare de abrir e espere o momento certo. Fizemos o teste e, na prática, a teoria se confirma.
Não é só isso que surpreende. O GAC Hyptec HT tem 4,94 metros de comprimento e 1,92 m de largura, porte semelhante ao de um BMW X5. Por isso, o porta-malas é gigante. São 670 litros de capacidade, além de mais 55 litros debaixo do capô.
Vale lembrar, porém, que a marca não informou se a medição está no padrão VDA, o mais usado pela indústria. Portanto, o número pode ser otimista. Ainda assim, a matriarca ficou surpresa ao ver que cabem todas as malas e ainda sobra espaço para o papel higiênico da promoção.
Ela também se impressionou com o interior. Primeiro, disse que o banco traseiro é melhor do que o sofá da minha tia. Não posso discordar. Os 2,94 m de entre-eixos propiciam conforto e espaço de sobra até para esticar as pernas. Aliás, há saída de ar-condicionado, mesinha e até apoio para os pés — o que transforma um dos assentos quase em uma cabine de classe executiva. Só quem vai no meio pode se sentir na classe econômica: o teto é mais baixo.
Os bancos dianteiros com ajustes elétricos, massagem e ventilação, além da multimídia de 14,6 polegadas, fizeram a rainha do controle remoto ir direto ao ponto: “Bem que teu pai podia comprar um carro mais atualizado”. Errada não está. E olha que ela nem percebeu que a tal tela é responsável por todos os comandos: abrir e fechar as portas, ajustar os retrovisores e o ar-condicionado e até (pasmem) escolher a fragrância do interior. Sim. Tem aromatizador integrado.
A unidade cedida para Autoesporte, porém, parecia estar sem a carga, pois não senti cheiro algum. E dá até para selecionar o modo soneca: o banco do motorista reclina, um som ambiente relaxante surge e o alarme toca no horário programado. Genial.
Para completar o luxo há teto solar panorâmico com isolamento térmico, sistema de som com 22 alto-falantes, câmera 360 graus, seis airbags e pacote Adas completo. Entre os principais itens estão ACC, assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma de emergência e monitoramento de ponto cego.
Quando contei para a dona das broncas e dos conselhos que o GAC Hyptec HT é equipado com um motor elétrico de 245 cv e 31,5 kgfm de torque, ela fez cara de dúvida. Mas quando pisei fundo no acelerador e ela se agarrou no apoio de braço, entendeu direitinho o que eu quis dizer.
Em um breve contato com o Hyptec HT, foi possível perceber que agilidade não falta mesmo sendo um carro de 2,1 toneladas. De acordo com a marca chinesa, o HT acelera de zero a 100 km/h em 6,8 segundos — apenas 0,1 s de diferença em relação ao Volkswagen Jetta GLI.
Outro ponto interessante é o isolamento acústico reforçado, ótimo para quem gosta de dirigir em silêncio. Não que um carro elétrico tenha barulho, mas o rolamento dos pneus pode representar incômodo sonoro.
Minha mãe não sabe o que é autonomia elétrica, mas ao ouvir que o carro roda até 362 km com uma carga, disparou: “Então dá para ir de São Paulo até Ribeirão Preto sem parar no posto. Tá ótimo!”. Isso acontece por causa da bateria de 72,7 kWh. Sobre o tempo de recarga, a GAC informa que são necessários 29 minutos para ir de 30% a 80%. Isso em aparelhos rápidos, de 120 kW. A velocidade máxima suportada é de 163 kW.
No fim das contas, o Hyptec HT conseguiu um feito que nem eu esperava: conquistar a diretora de críticas que, até semana passada, achava que SUV era uma marca de shampoo. Ela saiu do carro dizendo que agora quer um “daqueles que abrem a porta para cima”. Honestamente? É difícil não concordar com ela. O sonho da GAC é que todos os brasileiros fossem igual à minha mãe.
Pontos positivos: Desempenho, espaço interno e lista de equipamentos são de carro de luxo
Pontos negativos: Autonomia poderia ser maior e o preço das portas asas de gaivota, menor
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Fonte: direitonews