Teste: Fiat Titano consegue ser melhor do que Hilux e Ranger?


A Fiat Titano vai se aventurar em um terreno difícil de trafegar — em muitos sentidos. Seu nome tem origem nos titãs, que na mitologia grega são as entidades que desafiaram os deuses para chegar ao poder. Se Toro e Strada reinam sozinhas em seus segmentos, a primeira picape média da história da fabricante precisa chegar muito forte para confrontar de igual para igual quem está no topo da sua categoria: Toyota Hilux e Ford Ranger. Mas será que essa força de titã realmente veio?

A principal aposta da Fiat para ganhar espaço neste disputado e exigente mercado de picapes médias está nos preços: Endurance (R$ 219.990), Volcano (R$ 239.990) e Ranch (R$ 259.990). Todas são equipadas com motor 2.2 turbodiesel de 180 cv, mas nas duas versões mais caras são 40,8 kgfm de torque, enquanto a de entrada tem 37,7 kgfm.

De acordo com a Fiat, essa redução acontece por causa do câmbio manual de seis marchas, enquanto nas outras a transmissão é automática, também de seis marchas. Porém, as três opções têm tração 4×4.

A Titano vai enfrentar uma concorrência pesadíssima. A Ford Ranger, por exemplo, oferece oito opções no portfólio, todas de cabine dupla, e os preços vão de R$ 239.990 até R$ 319.990 — a versão Raptor é R$ 448.600. Os motores turbodiesel são o 2.0 de 170 cv e 41 kgfm, e 3.0 V6 de 250 cv e 60 kgfm. O câmbio pode ser manual ou automático de seis marchas, ou apenas automático de dez marchas, dependendo da versão. No caso da Raptor, o mesmo motor V6 extrai 397 cv e 54,5 kgfm. Há versões com tração 4×2 e 4×4.

Já a líder Hilux parte de R$ 219.090 e vai até R$ 334.890 — na versão esportiva, GR-Sport, custa R$ 372.890. O motor é sempre o 2.8 turbodiesel de 204 cv e 50,9 kgfm, com câmbio manual ou automático, ambos de seis marchas. No caso da versão GR-Sport a potência vai para 224 cv.

Quando falamos de picape média, falamos de trabalho. Portanto, o perfil de compradores desses carros são de pessoas que necessitam de espaço, robustez, capacidade de carga e versatilidade. A Hilux, neste quesito, é imbatível. Não à toa é líder de vendas há anos. Ela tem opções de cabine simples — sendo uma sobre chassi e sem caçamba — e seis ofertas de cabine dupla, portanto, cerca todas as possibilidades deste segmento.

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Podemos cravar que a Hilux é referência de versatilidade e confiabilidade pelas três décadas à venda no Brasil, enquanto a Ranger, agora na nova geração, é sinônimo de modernidade, tanto que foi eleita a Picape do Ano 2024 pela Autoesporte.

A Titano, apesar de ser novidade para nós, é uma versão rebatizada da Peugeot Landtrek, que nasceu após uma parceria entre a fabricante francesa e a chinesa Changan. O lançamento dela aconteceu em novembro de 2020 em alguns países da América Latina e, posteriormente, em mercados sul-americanos — que incluiria o Brasil.

Mas após a criação do grupo Stellantis, em janeiro de 2021, a Fiat aproveitou que o projeto já estava pronto e praticamente só trocou os logotipos. Inicialmente com produção na China, a Titano/Landtrek são fabricadas em Montevidéu (Uruguai), na unidade da Nordex, desde o ano passado e tem o mesmo 2.2 turbodiesel de 180 cv e 40,8 kgfm. Como a Titano, o modelo é vendido apenas na Argélia (África).

A dianteira da caminhonete é marcada por uma enorme grade com a parte superior da peça cromada e uma pequena diferença é que a Fiat coloca um detalhe com as cores da bandeira da Itália no canto direito da peça. Entretanto, a famosa luz diurna de LED com a “garra do leão” da Peugeot, permanece.

A traseira também é igual ao da Landtrek. Além do símbolo da Fiat, há um “Titano” cromado bem grande na parte superior da tampa da caçamba. No caso da versão Ranch, que fizemos o teste, as lanternas são de LED.

Por dentro, a alavanca de câmbio está posicionada ao lado do seletor de tração e os acabamentos são todos de plástico com preto brilhante e imitação de aço escovado. O freio de estacionamento é manual, pela alavanca. O console central traz teclas de comando da Peugeot, como do 3008. A central multimídia tem tela de 10 polegadas e compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto, porém, somente via cabo. O carro traz apenas a opção de USB padrão, não do tipo C, e não há carregador de celular por indução.

Vale ressaltar que essa versão Ranch traz bons itens, com destaque para: seis airbags, painel de instrumentos digital com tela de 4,2 polegadas, ar-condicionado digital de duas zonas, partida por botão, câmera com visão 360 graus, faróis e lanternas de LED, alerta de saída de faixa, bancos dianteiros com ajustes elétricos, controle de cruzeiro, piloto automático, controle automático de descida, controles de tração e estabilidade, assistente de reboque, capota marítima, estribos laterais, santantônio e rodas de liga leve de 18 polegadas.

A TItano tem um porte bem robusto com 5,33 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,89 m de altura, 3,18 m de entre-eixos e 23,5 cm de vão livre do solo. O ângulo de ataque é de 29° e de saída é de 27°. Com 1.314 litros de capacidade na caçamba, a caminhonete suporta até 1.020 kg de carga e pode rebocar 3.500 kg — números interessantes para uma picape média.

A Hilux tem capacidade de carga da caçamba maior do que da Titano, porém, muda de acordo com a versão, variando entre 1.000 kg e 1.190 kg. Já o volume é de 1.580 l na versão de cabine simples e 1.000 l na opção de cabine dupla. A capacidade de reboque tem os mesmos 3.500 kg, enquanto o vão livre do solo é bem maior: 26,9 cm ou 28,6 cm, dependendo da versão. O ângulo de ataque também é de 29° e de saída é um pouco menor: 26°.

A Ranger, por sua vez, tem a capacidade de carga entre 1.023 kg e 1.071 kg, e o volume da caçamba de 1.250 litros. O limite de reboque é um pouco menor do que das rivais: até 3.100 kg. Seus ângulos de ataque e de saída são de 30º e 26º, respectivamente, e a altura do solo é de 23,5 cm.

Nosso teste começou na rodovia estadual MT-351, que corta a Chapada dos Guimarães, no interior do Mato Grosso. Posso me queixar do calor escaldante, pois o termômetro superava os 30ºC e o ar do Cerrado é bem seco, mas não posso reclamar das condições do asfalto: é impecável. Foram mais de 50 km em solo liso e com pouquíssimas elevações. E no conforto do ar-condicionado, claro.

A suspensão das picapes médias não prezam pelo conforto. E isso vale para qualquer modelo. O objetivo é ser robusta e suportar fortes impactos com um carro carregado, já que a maioria usa para trabalho pesado. A Titano traz feixes de molas na suspensão traseira, típicas de carros off-road, entretanto, o carro pula muito mais do que o esperado, trazendo bastante desconforto à bordo, principalmente com trepidação exagerada do volante.

Evocando a mitologia grega novamente, o calcanhar de Aquiles das picapes médias com certeza é a suspensão traseira, já que para suportar mais de uma tonelada de carga é preciso ter uma suspensão forte, o que acaba comprometendo o conforto.

E o conforto é maior quando a caminhonete está cheia, justamente porque o peso diminui esse balanço dentro da cabine. Mesmo levando em consideração a falta de carga, o conforto da Titano poderia ser maior. A Ranger também traz feixes de molas na traseira, mas com um ajuste bem melhor de conforto nessa nova geração.

Nos poucos quilômetros percorridos na terra batida, a picape pula ainda mais. Em trechos com buracos que furariam os pneus de muitos carros de passeio, a Titano passou com propriedade, demostrando valentia para esse tipo de terreno. O motorista pode selecionar a tração 4×2, 4×4 High e 4×4 Low, dependendo da necessidade e das condições ruins do terreno. Também há bloqueio do diferencial, que serve para travar o sistema de diferencial e levar mais torque para o eixo ligado a roda com maior tração no solo.

Suspensão à parte, a ergonomia do motorista é boa, com um banco confortável que deixa o motorista em uma posição bem ereta para não ter dor nas costas depois de tanto balançar na cabine. A pegada do volante é boa e as trocas de marchas são imperceptíveis. Por outro lado, a falta de potência e o peso de 2.150 kg são sentidos na prática.

O desempenho não chega a ser decepcionante, mas os números não mentem: aceleração de a 0 a 100 km/h é feita em 14,7 segundos na versão Endurance e 14,4 s nas opções Volcano e Ranch. Já a velocidade máxima não ultrapassa os 175 km/h em todas. Os números são da Fiat.

Em relação ao consumo, são 8,5 km/l na cidade e 9,2 km/h na rodovia nas versões com câmbio automático. O tanque tem capacidade de 80 litros, portanto, a autonomia total é de 736 km. A versão com câmbio manual faz 9,6 km/l nas duas medições, de acordo com a Fiat. Sendo assim, a autonomia total chega a 768 km.

“Houve um arredondamento do número para ficar com duas casas decimais. A diferença está na casa centesimal, por isso são 9,6 km/l nas duas medições. O que ocorre é que por causa do câmbio manual é que tem uma dinâmica e na aerodinâmica na estrada, mas os números estão corretos”, justifica a Fiat à Autoesporte.

Claro que o preço é um fator determinante na hora de escolher um carro. Mas, no caso das picapes médias, a fidelidade na marca as vezes pesa mais, já que o objetivo aqui é o uso para trabalho. Donos de Hilux só trocam a picape por outra Hilux, de Ranger por Ranger, de S10 por S10, e assim vai. Não é regra, claro, mas é mais comum do que você imagina neste meio.

A Titano, apesar de suas virtudes, não tem um diferencial. Os equipamentos são bons, mas as rivais também têm, a capacidade de carga e o volume da caçamba também são bons, mas não melhores do que de Hilux e Ranger, dependendo da versão. Onde a Titano ganha? No preço atrativo e na enorme rede de concessionárias da Fiat pelo Brasil: 520 locais em todas as regiões do país. Por isso deve ter um volume de emplacamentos até que considerável.

Mas, para reinar neste segmento, como Strada e Toro reinam nos seus, é preciso atender diversos públicos ao mesmo tempo, coisa que a Hilux faz com maestria, ou juntar desempenho, robustez, requinte e modernidade, coisa que a nova Ranger faz com maestria. A Fiat pegou um projeto pronto, e de certa forma mais antigo, e pouco investiu.

Na questão de custo-benefício para uma picape média, certamente a Titano ainda está atrás das suas rivais. E sua força de titã deve ficar apenas no nome, porque o reinado do segmento não está ameaçado por ela.

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Fonte: direitonews

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