Teste exclusivo: Toyota Yaris Cross será a nova referência de SUV compacto?


Começo este texto observando a Cordilheira dos Andes da janela do avião no voo de volta de Santiago (Chile) para São Paulo. Depois de dois dias, a missão que começou a ser planejada semanas antes foi cumprida com sucesso. Na mala, além de algumas garrafas de vinho, levo material suficiente para mostrar em primeira mão o Toyota Yaris Cross, um dos lançamentos mais importantes no Brasil neste ano e a aposta da década da marca japonesa em nosso mercado.

Afinal, atualmente a Toyota está fora de um segmento que emplacou 400 mil veículos em 2023. Para tirar o atraso, os japoneses investiram R$ 1,7 bilhão para produzir o Yaris Cross em Sorocaba (SP). Parte do valor será destinada ao desenvolvimento de um novo motor híbrido flex, que promete ser o diferencial do SUV compacto que chegará ao país no último trimestre deste ano. Hoje, o único modelo eletrificado do segmento com volume significativo de vendas é o Caoa Chery Tiggo 5X, que usa um sistema híbrido leve.

Assim, o Yaris Cross tentará desbravar o mercado de SUVs compactos híbridos plenos, como seus primos Corolla e Corolla Cross fizeram no segmento de sedãs e SUVs médios. Para entender o conjunto mecânico da versão híbrida, deixaremos o Chile de lado por um momento e faremos uma rápida escala na Indonésia, único país que produz o Yaris Cross atualmente.

Lá ele tem opções eletrificadas que combinam um 1.5 a gasolina de ciclo Atkinson, com 90 cv e 12,3 kgfm, com um motor elétrico de 80 cv e 14,4 kgfm. Juntos, entregam 110 cv. O Brasil contará com esse mesmo conjunto flex, (talvez) um pouco mais potente com etanol. De todo modo, assim como ocorre com o Corolla Cross de 122 cv, se a potência não é de encher os olhos, o consumo de combustível deve ser imbatível, podendo passar de 20 km/l.

Voltando para a América do Sul, por enquanto os chilenos ainda não podem comprar um Yaris Cross híbrido. A única motorização disponível por lá é a 1.5 aspirada a gasolina sem auxílio elétrico. É o mesmo motor da versão eletrificada, mas com ciclo Otto. Ainda assim, gera modestos 105 cv e 14,1 kgfm.

Trata-se de uma evolução do motor 1.5 flex já usado no Yaris brasileiro, que tem números um pouco melhores: 110 cv e 14,9 kgfm. E como o Yaris Cross nacional deve ter versões de entrada apenas flex, se esse motor não passar por melhorias, o Toyota tem chances de roubar do Nissan Kicks o título de SUV compacto menos potente do Brasil (sem contar o Fiat Pulse 1.3, um SUV de entrada).

Nosso primeiro contato com o Yaris Cross nas terras de Pablo Neruda foi com a configuração XG 1.5 automática, a mais cara. No Chile, são duas versões: XI (manual ou CVT) e XG, sempre automática. Os preços vão de 16,5 milhões de pesos chilenos (equivalentes a R$ 91.500) a 20,5 milhões de pesos (R$ 113.600).

No mercado local, é a mesma faixa do Volkswagen T-Cross, logo abaixo do Jeep Renegade. Por aqui podemos esperar preços entre R$ 130 mil e R$ 150 mil nas versões flex, chegando a R$ 180 mil com motorização híbrida. Como há diferenças entre os mercados, é possível que a Toyota do Brasil faça adaptações para atender ao gosto do público local.

O design provavelmente não está na lista. Enquanto a vendedora Monica, da concessionária Portillo, preparava o exemplar cinza das fotos para nossa voltinha em Santiago, fiz um giro pelo Yaris Cross. À primeira vista, percebemos que ele traz quase nada de Yaris e muito de RAV4. Não seria exagero dizer que a Toyota poderia batizá-lo de RAV2.

À frente, a grade estilo trapézio vai da extremidade do capô até o meio do para-choque, exatamente como no primo maior. A diferença é que o formato é mais simples, com base reta, e o emblema da Toyota fica na parte interna, e não na borda superior. Tomada de ar inferior e nichos para as luzes de neblina também são similares nos dois modelos.

Atrás, as semelhanças continuam no recorte para a placa na tampa do porta-malas, nos apliques plásticos no para-choque e, principalmente, nas lanternas afiladas. O arranjo das luzes, porém, remete ao antigo Lexus IS. Visualmente, posso afirmar que esse é o Toyota mais interessante dos últimos anos.

Hora de entrar no carro. Quem conhece os veículos da Toyota sabe que a marca dificilmente inova no desenho dos interiores. No Yaris Cross não é diferente.

Novamente o RAV4 parece ter servido como base, mas dessa vez não é uma notícia tão boa, já que o SUV maior é um projeto com alguns anos de estrada. Melhor ajustar as expectativas e não esperar nada muito disruptivo. O charme da cabine é a faixa de tecido azul que percorre todo o painel e chega às portas, onde se transforma em filetes plásticos com iluminação ambiente.

O Yaris Cross chileno traz quadro de instrumentos parcialmente digital de 7 polegadas com quatro diferentes layouts. É um avanço e tanto na comparação com o Chevrolet Tracker, mas fica aquém de Jeep Renegade e Volkswagen T-Cross, que têm versões totalmente digitais. Nesse caso, o rival nacional mais próximo do Toyota é o Nissan Kicks. No Yaris Cross, velocímetro e marcador de combustível aparecem em um visor monocromático de LCD.

A grande central multimídia flutuante de 10,1 polegadas salta aos olhos e agrada por oferecer conexões Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Mas a interface… é simplória e genérica. Nada muito diferente dos modelos Toyota vendidos por aqui atualmente.

Logo abaixo, os comandos de ventilação são tão grandes quanto a estrela branca na bandeira do Chile. O ar-condicionado é digital de uma zona, porém tem dupla saída para o banco traseiro. Encerrando o tour pela parte da frente da cabine, há freio de estacionamento eletrônico! Ouviram, Corolla e Corolla Cross?

A versão mais completa disponível no Chile ainda traz rodas de 18 polegadas, faróis de LED com acendimento automático, chave presencial para abertura das portas, partida do motor por botão e sensores de estacionamento traseiros e dianteiros. É um pacote modesto, se considerarmos o padrão do segmento no Brasil. Principalmente por não haver controlador de velocidade (e estamos falando do simples, não do adaptativo) nem qualquer auxílio avançado à condução, como frenagem autônoma.

Para não correr o risco de passar vergonha, o Yaris Cross nacional deverá ser bem mais recheado, próximo ao que a Toyota oferece na Indonésia. Na Ásia, a versão topo de linha se chama GR Parts e tem, além dos itens citados, teto solar panorâmico, porta-malas com abertura elétrica, bancos de couro e com ajustes elétricos para o motorista, frenagem automática de emergência, alerta de ponto cego, assistente de evasão de faixa com correção no volante e controlador de velocidade adaptativo, o famoso ACC.

A vendedora avisa que o carro está pronto. Dou a partida e percebo que o isolamento acústico é satisfatório. Câmbio em D, pé no acelerador e… letargia. Com 1.150 kg, o Yaris Cross nem é um SUV dos mais pesados, mas a escassez de potência e o ajuste do câmbio CVT voltado para o conforto fazem dele um carro pacato.

Até demais. Leva um tempo até chegar aos 40 km/h, quando o SUV finalmente parece acordar. Aqui, é possível estabelecer uma conexão com o Nissan Kicks. Os dois têm comportamento e concepção parecidos: baixo peso, motor aspirado e câmbio CVT. O Toyota ainda dispõe de modos esportivo e econômico, mas o resultado é quase sempre o mesmo. O melhor é relaxar e aproveitar a belíssima vista dos Andes. A cordilheira está presente na paisagem de toda a cidade de Santiago.

Nem tão belo é o calçamento das ruas da capital chilena. As placas de concreto têm emendas irregulares, cenário perfeito para avaliarmos a suspensão e a direção em um test drive limitado a alguns quilômetros. A boa notícia é que o trabalho foi bem-feito, mesmo sabendo que se trata de um ajuste realizado a milhares de quilômetros e pensado de forma genérica para atender dezenas de mercados.

O Yaris Cross brasileiro deve ter um acerto específico para nossas ruas, ainda mais castigadas. Considerando o bom trabalho feito pelos japoneses com o Corolla Cross, podemos ficar tranquilos. Ao final do test drive, já me preparando para manobrar o SUV, percebo que a direção elétrica é um pouco mais pesada do que aquelas a que estamos acostumados. Não incomoda, mas acredito que seja algo a se observar na versão brasileira.

Com o Yaris Cross estacionado, tive mais alguns minutos para examinar o espaço no banco traseiro e o porta-malas. E não é que o carro também se parece com o Kicks nesses aspectos? Vamos às medidas. A dupla tem exatos 4,31 metros de comprimento. Na margem de erro, o Toyota supera o Nissan por 1 mísero centímetro na distância entre-eixos (2,62 m) e na largura (1,77 m), e por 3 cm na altura (1,62 m). Até no tanque de combustível a vantagem é mínima: são 42 litros, um a mais que o do Kicks. Ainda assim, é uma capacidade abaixo da média de mercado.

No banco de trás, o espaço é abundante para cabeça e pernas, mesmo para passageiros mais altos. Ajustei o assento da frente para a minha altura (1,73 m) e atrás sobraram tranquilamente 10 cm entre meu joelho e o encosto. Há saídas de ventilação e encosto de braço retrátil na posição central.

Mas foi o porta-malas que mais me chamou a atenção. O compartimento acomoda ótimos 471 litros, superando praticamente todos os concorrentes diretos.

Perde apenas para o do Fiat Fastback (516 litros) e fica no empate técnico com o do Renault Duster (475 litros). Supera, inclusive, os 440 litros do Corolla Cross, um SUV de porte maior. Em relação ao Jeep Renegade, são 150 litros extras. Ainda há uma separação em dois níveis, o que permite acomodar objetos de valor na parte inferior (desde que não sejam muito altos).

Nem se o porta-malas do Yaris Cross fosse do tamanho da caçamba de uma Hilux seria possível acomodar a expectativa depositada no modelo. Afinal, quem chega depois de todos os grandes concorrentes no segmento mais importante do mercado brasileiro não pode se dar ao luxo de errar.

A Toyota investiu alto e guarda grandes expectativas para seu mais novo produto. O desempenho definitivamente não será seu ponto forte, mas a marca sabe disso. O mais interessante no Yaris Cross é que ele é bonito, espaçoso e, certamente, econômico. Tem tudo para ser sucesso se a marca souber trabalhar o pacote de equipamentos, os preços e, claro, a força de sua reputação. É a grande chance de a Toyota provar que chegou ao segmento de SUVs compactos por último para rir melhor.

A chegada do Yaris Cross deve obrigar a Toyota a fazer concessões na fábrica de Sorocaba (SP). Para abrir espaço para o SUV, os Yaris hatch e sedã deixarão de ser produzidos para o mercado brasileiro. A nova geração do sedã, lançada na Ásia e em outros países da América do Sul, está fora dos planos — ao menos por enquanto. O movimento é semelhante ao que aconteceu anos atrás com Etios e Corolla Cross.

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Fonte: direitonews

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