Cena 1: O casal, três filhos, as namoradas, a sogra e os cachorros saem para passear ou viajar, com muita bagagem.
Cena 2: Há um problema numa rede elétrica e um grupo de manutenção, com vários engenheiros e técnicos, tem que se deslocar no campo com muito equipamento.
Cena 3: Um banco ou dois a mais, adaptados na traseira (ideia que vai ser aproveitada pela GM para um futuro lançamento), e a capacidade do veículo aumenta para até 12 lugares, transformando-se em um verdadeiro micro-ônibus para, por exemplo, levar crianças à escola.
Tudo isso com muito conforto e segurança. Estamos falando da nova Veraneio, que volta ao mercado depois de aposentada pela GM. Agora ela aproveita a plataforma da picape Série 20 com projeto de linhas sóbrias e limpas, pouco para a criatividade das empresas concorrentes no setor de transformações e para o gosto do comprador desse tipo de veículo que prefere, sempre, um maior grau de sofisticação.
A Veraneio impressiona pelo seu volume. Afinal, são mais de duas toneladas de peso e um espaço interno suficiente para qualquer tipo de bagagem. O motor é o conhecido 6 cilindros em linha 4.1 litros, igual ao do Opala, sempre pronto para fazer força. Pena que um utilitário desse tamanho não possa ser equipado com versão a diesel, por impedimento legal – é restrito a veículos para transporte comercial, seja de carga ou passageiros. O modelo desta apresentação é a gasolina, eficiente e confiável, destinado a uma longa vida.
As linhas da Veraneio 89 se aproximam da conhecida transformação da Brasinca, a Mangalarga, um pouco mais luxuosa no acabamento que a versão da GM. A diferença mais visível fica por conta do vidro traseiro: na Veraneio ele é plano, enquanto na Mangalarga ele é abaulado na parte superior. A carroceria não tem nenhum tipo de friso e nem cromados. Os vidros são fixados, todos, com borracha.
E, enquanto a área frontal impõe respeito, pelo tamanho da grade e pelo conjunto ótico, na traseira o mesmo não acontece, pois as lanternas são um pouco acanhadas para o enorme espaço da porta do compartimento de bagagem — inclusive a luz de ré é pouco eficiente para o serviço que deveria prestar. Além disso, a traseira poderia ser equipada também com algum dispositivo refletivo para elevar o grau de segurança dos que se aproximam em demasia da Veraneio.
As cinco portas ficam na medida exata. São amplas e permitem fácil acesso ao interior. Mas, como tudo na Veraneio é grande, as portas não são exceção. Isso compromete um pouco o conforto, pois o peso das portas torna-se um pouco inconveniente. A de trás, por exemplo, apesar dos amortecedores, é difícil de ser manobrada, e quando é fechada, com o impacto, desloca os espelhos retrovisores externos de suas posições corretas. Isso acontece também com as outras portas. Mal fixados, embora muito úteis pelas dimensões do veículo, principalmente nas manobras de estacionamento, eles dão trabalho ao motorista, constantemente obrigado a melhor posicioná-los.
Finalmente, o destaque para a área envidraçada, ampla e com ótima visibilidade para todos os lados, com um mínimo de pontos cegos. Para a frente a visão é excelente, principalmente pela altura da Veraneio, o que permite ao motorista antever problemas no trânsito que se desloca à sua dianteira.
Os únicos logotipos na carroceria são Veraneio Custom S na lateral e Chevrolet na tampa traseira. O seu comprimento total é de 5,34 metros, a largura de 1,99 m e a altura de 1,80 m.
Entrar na Veraneio já dá um certo trabalho. Quando se senta ao volante, o motorista logo percebe que se trata de um veículo utilitário, apesar de um certo conforto e da direção hidráulica (indispensável). O banco dianteiro é bipartido e com regulagens, mas a enorme alavanca de câmbio (de apenas quatro marchas à frente) fica no chão e exige um certo esforço para a colocação das marchas, pois os engates são um pouco duros. Além disso, nenhum dos bancos tem encosto de cabeça, reconhecidamente importante para aumentar a segurança.
Mas a posição de guiar é agradável. A visão é total para todos os lados e a altura impõe respeito no trânsito. A Veraneio é daqueles veículos que, quando entra em uma disputa de vaga na faixa de rolamento, ou mesmo num cruzamento duvidoso, sempre leva vantagem. Por uma questão de volume a preferência passa a ser dela, e esse fato dá um certo privilégio ao motorista.
Mas o cuidado para dirigi-la é obvio. Um veículo de mais de duas toneladas e de cinco metros de comprimento por dois de largura tem que ser guiado com cautela. Sua velocidade no trânsito urbano é sempre baixa: difícil passar dos 60 km/h com ela.
É um carro que também exige paciência do usuário: como estamos no tempo do vale tudo no trânsito, a todo o momento acontece de se encontrar um carro estacionado em fila dupla em rua estreita, o que obriga a utilização da buzina para que o infrator seja removido e a Veraneio possa finalmente passar.
Internamente o usuário precisa aprender a enfrentar certas dificuldades, como alcançar, por exemplo, a tampa do porta-luvas e os pinos de travamento das portas, muito distantes das mãos do motorista. Para acioná-los, geralmente é preciso se livrar primeiro do cinto de segurança, de três pontos de fixação.
Mas um veículo desse porte não deve ser feito apenas de espaço útil. Por isso estranhamos a pobreza do painel de instrumentos. São muitos buracos para poucos instrumentos. À esquerda, junto à porta do motorista, há quatro pequenos espaços redondos, com apenas um sendo ocupado, pelo marcador de temperatura.
No centro do painel, bem em frente ao volante de direção, dois enormes marcadores, redondos também. À esquerda o velocímetro e hodômetro geral apenas, e à direita um gigantesco marcador do nível de combustível no tanque, de 88 litros. Mais à direita outro espaço retangular vazio e abaixo dele, na vertical, o sistema de ventilação forçada, inclusive ar quente, e o rádio AM/FM.
Pior ainda fica quando se guia à noite. O painel não tem iluminação interna para os comandos do desembaçador elétrico do vidro traseiro e do limpador, o que dificulta encontrá-los em caso de necessidade.
Como o objetivo da Veraneio é transportar muita gente e muita carga, o proprietário não pode se queixar do seu desempenho. Pouco ágil no trânsito, ela alcança apenas os 140 km/h de máxima, com um 0 a 100 km/h de aceleração em 22 segundos. Mas levando-se em consideração a relação peso/potência do veículo, o desempenho pode ser considerado bom.
Também há o que se queixar do consumo. Com o motor a gasolina, ela bebe bastante. No trânsito urbano a média fica nos 5 km/litro e na estrada, em velocidade constante de 100 km/h vazia, nos 6 km/litro.
Mas se o usuário caprichar um pouco e não abusar das acelerações, na cidade ela pode chegar até aos 8 km/litro de gasolina, principalmente se os trajetos percorridos forem avenidas de fluxo fácil e a velocidade não passar dos 60 km/h. Como o tanque tem capacidade para 88 litros a Veraneio tem uma autonomia da ordem de 500 km em rodovia.
Como guiar não é só acelerar, damos destaque para os freios da Veraneio, a disco nas rodas dianteiras e a tambor nas traseiras, com servo, muito eficientes e que dão confiança ao motorista. Mas sempre é bom não abusar, afinal a 60 km/h de velocidade, freada em uma emergência, ela ainda percorre quase 19 m– isso se estiver vazia. Carregada, certamente vai deslizar um pouco mais.
Os méritos da nova Veraneio ficam por conta do enorme espaço interno oferecido pelo veículo. Da tampa traseira ao encosto do banco traseiro são 1,80 m com uma altura de um pouquinho mais de 1 m. Espaço para ninguém colocar defeito, apenas incomodado pela presença do estepe, na posição vertical. Mas os bancos ainda podem ser rebatidos para a frente, o que aumenta consideravelmente a disponibilidade do veículo.
Mesmo a estabilidade não fica comprometida quando carregada. Ela se mantém firme nas curvas e não apresenta tendência de ficar pulando quando em pisos Irregulares.
O modelo Custom S avaliado estava equipado com diversos opcionais, o que sem dúvida melhora bastante seu comportamento: rodas e pneus especiais, direção hidráulica, diferencial auto blocante “Positraction”, limpador do vidro traseiro, vidros verdes e desembaçador elétrico. A GM está devendo a versão Superluxo, ainda não disponível no mercado e que poderá surgir com muito mais conforto e acabamento mais aprimorado, atendendo melhor à expectativa do comprador de veículos desse segmento.
As cores disponíveis são o bege claro, vermelho, marrom, azul e branco.
*Texto publicado originalmente na edição 289, de maio de 1989.
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Fonte: direitonews
 
				




