O novo Citroën C3 You entra para o time dos carros turbo à venda no Brasil. A crescente predileção do consumidor por tal tecnologia, capaz de aliar força com menor consumo de combustível, fez com que os turbinados florescessem. Tal situação faz com que os propulsores aspirados venham sucumbindo lentamente nas gamas dos modelos mais luxuosos até os mais acessíveis – como é o caso desta nova versão que faz do hatch compacto o carro turbo mais acessível do país.
A inédita versão topo de linha do hatch compacto substitui o antigo 1.6 aspirado pelo 1.0 turbo flex da família GSE. Fabricado em Betim (MG), o motor já é usado em diversos modelos do grupo Stellantis, como Fiat Strada, Pulse, Fastback, Peugeot 208, o novíssimo 2008, C3 Aircross e o vindouro Basalt.
O C3 You oferece mais dois chamarizes: é o carro turbo mais barato do Brasil, com preço de R$ 95.990, e um dos hatches mais rápidos do segmento – excetuando esportivos, como o VW Polo GTS. A Citroën promete manter o valor conforme a demanda, mas, pelo menos segundo informações no site comercial, já prevê reajuste de R$ 4 mil, chegando mais perto dos R$ 100 mil.
Quem diria que os turbinados tomariam conta do mercado, não é? Lá nos idos de 1994 a Fiat lançou o Uno Turbo. Equipado com motor 1.4 de 116 cv, foi o primeiro dessa estirpe produzido em série no país. 30 anos depois, a árvore cresceu e chegou ao C3 You.
A versão de topo do compacto da Citroën adota, como supracitado, motor 1.0 T200 que rende 125 cv de potência com gasolina e 130 cv com etanol a 5.750 rpm. O torque é de 20,4 kgfm a 1.750 rpm para ambos os combustíveis. A transmissão é automática do tipo CVT com simulação de sete marchas. O consumo, segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), é de 12,8 km/l na estrada e 11 km/l na cidade com gasolina e 7,8 km/l urbano e 8,8 km/l rodoviário com etanol.
Críticos fazem troça dizendo que, em breve, basicamente todo o portfólio da Stellantis terá este mesmo conjunto mecânico. Também comentam que ele garante aos modelos um desempenho muito similar. Genérico até. O repórter discorda. Isso porque temos veículos de segmentos e características distintas com este trem de força. Por conseguinte, o comportamento de cada um será diferente. Não há margem para pasteurização e tampouco para a criação de uma linha genérica.
Aliada ao pico de torque em baixa, a relação peso/potência garante ao C3 You elasticidade que não é vista, por exemplo, em outros modelos da Stellantis equipados com o motor turbo. No caso do You, no auge dos seus 1.115 kg, são 8,6 kg/cv. É o melhor número entre Chevrolet Onix (9,6 kg/cv), Volkswagen Polo (9,1 kg/cv) e Hyundai HB20 (10,1 kg/cv). O compacto vai muito bem, obrigado, tanto nas retomadas quanto nas acelerações.
De acordo com a Citroën, o C3 You faz o 0 a 100 km/h em 8,4 segundos quando abastecido com etanol. Vale salientar que, mesmo com gasolina no tanque, o número também é bom: 8,5 segundos. A transmissão automática do tipo CVT, com sete posições emuladas, cumpre seu papel com dignidade. Vale, porém, ressaltar que não temos aletas no volante e as trocas manuais são feitas por meio da alavanca do câmbio. Estas deveriam ser pouco mais precisas nas respostas, e o indicador para mudanças no quadro de instrumentos também não ajuda muito.
As relações virtuais de marchas são típicas de um modelo que quer primar tanto por desempenho quanto por eficiência. Progridem de modo bem interessante, a fim de garantir sempre condução suave e, à medida do possível, controlada. Da primeira à terceira, temos claramente um foco em liberação de torque e garantia de acelerações mais vibrantes. Já entre quarta e sétima temos relações mais longas. Isso, na prática, nos garantiu desempenho adequado em termos de consumo de combustível e também um cruzeiro em velocidade elevada silencioso.
Temos, bom dizer, três modos de condução no C3 You. O supramencionado Manual, o Drive, que prima pela eficiência, e o Sport. Para acionar este último temos de fazer um pequeno exercício, já que o botão se encontra ao lado esquerdo do volante. Se por um lado é ruim de ser ativado em termos ergonômicos (o condutor tem de se contorcer para achar a pecinha), quando em trabalho deixa o hatch bem soltinho, com relações mais curtinhas.
O tópico ergonomia, inclusive, segue como um dos pecados do C3 – em toda a gama, diga-se. Os bancos, embora com visual distinto, são os mesmos. O condutor não é bem abraçado e, mesmo abusando do ajuste de altura, tem dificuldades para encontrar uma boa posição para guiar.
Ademais, o volante não tem o acerto de profundidade, atrapalhando ainda mais a jornada. Em viagens mais longas, de fato, o compacto da Citroën já pode até ter turbo para garantir a diversão. Mas lhe falta certo carinho, amor e compreensão com lombar, ombros, braços, pernas e pescoço do motorista. Além disso, passageiros continuam a sofrer por conta da disposição do botão de acionamento do vidro traseiro. Continua ali, localizado entre os bancos dianteiros bagunçando o coreto na seara ergonômica.
Mas voltemos a falar de coisa boa. Durante a apresentação, a Citroën revela que fez algumas modificações no C3 YOU! de forma que a versão suporte todo o ímpeto do motor turbo. A suspensão tem nova calibração, com configuração distinta para rigidez da mola e para os amortecedores, já que há nova massa na dianteira.
Essa mudança é perceptível. Garante ao carro bom ataque às curvas mais acentuadas e funciona bem em todas as faixas de frequência, absorvendo bem as imperfeições do solo sem em nenhum momento deixar o veículo “molenga” em excesso ou com rolamento em excesso de carroceria.
O sistema de freios foi redimensionado, com nova pinça disposta justamente para segurar a “bronca” do C3 turbo. Mas aqui fica um alerta: não se trata de um modelo com DNA esportivo. Em trecho de serra, um pouco mais de ousadia fez com que os discos ventilados na dianteira dessem aquela superaquecida. Ou seja, é melhor evitar exageros.
Para completar, a direção elétrica ganhou nova calibração. Até mais ou menos 40 km/h tem baixa carga. Isso realmente torna a condução em ciclo urbano mais confortável para o motorista, além de facilitar no quesito manobrabilidade. A progressividade também é boa ao passo que a velocidade aumenta. Mas, ao menos num primeiro contato, a análise é de que poderia ser mais firme a fim de garantir com que o condutor tenha o veículo na mão o tempo todo. Contudo, importante dizer, tem ajuste mais interessante na You do que nas demais versões do compacto.
Faltou, porém, melhor trabalho de isolamento acústico. Barulhos externos ainda invadem o habitáculo e causam certo incômodo. A engenharia garante que realizou mudanças em toda a gama a fim de mitigar o problema, mas, mesmo assim, falta um pouco para que o C3 chegue a um nível de conforto apropriado nesse aspecto.
O visual do C3 turbo traz poucas novidades. Destaque para as molduras dos faróis auxiliares em azul, rodas de liga leve de 15 polegadas escurecidas e pintura em dois tons com teto em preto.
Temos ainda emblemas alusivos à versão nas portas dianteiras, faixa com detalhe em azul Emerald e faixa na mesma tonalidade de azul na coluna C. Já na traseira, a novidade é o emblema Turbo 200, que honra o motor 1.0 da Stellantis. No interior, carpetes exclusivos, soleiras metalizadas e bancos com revestimento em couro sintético e costuras em azul fazem as honras.
Quanto aos equipamentos, o Citroën C3 You tem chave tipo canivete, central multimídia de 10,25 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, seis alto-falantes, entradas USB, vidros e travas elétricas, retrovisores com ajuste elétrico, câmera de ré, entre outros. Porém, mantém apenas os dois airbags frontais obrigatórios e não traz quadro de instrumentos ou ar-condicionado digital.
Com preço extremamente competitivo, o Citroën C3 You pode, sim, abocanhar clientes de Volkswagen Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Peugeot 208. É um veículo com dinâmica bastante superior ao da opção de topo que o precedeu – que só trabalha bem em altas rotações. A nova versão tem ainda a seu favor visual simpático, que agrada aos olhos.
Os grandes galhos são os problemas crônicos, inerentes ao C3, que podem afastar alguns consumidores. Acabamento, ergonomia e falta de itens considerados básicos por clientes mais exigentes podem dificultar a vida do, por ora, carro turbo mais barato do Brasil. Isso porque o compacto pode passar por reajustes no preço ou até mesmo sofrer com a chegada de novos desafiantes.
Há, para arrematar, outro pormenor. Atualmente o Citroën C3 You é um dos hatches mais rápidos do segmento e o mais potente entre os acessíveis. No entanto, em breve, corre o risco de ter de encarar o Chevrolet Onix. A estreia da injeção direta no modelo da GM pode fazer com que a cavalaria de seu propulsor 1.0 passe de 116 cv a 125 cv com gasolina (tal qual ocorre na China). Aí o desempate ficaria por conta do etanol. Pois é. Não dá para ficar de bobeira. Há turbos para todos os lados.
Fonte: direitonews