Teste: BYD Song Pro conseguirá ser um rival à altura do Corolla Cross?


Existe um gênero na ficção científica japonesa, chamado de kaiju, que consiste em ameaças gigantes que surgem do mar. Chega a ser irônico pensar que o Toyota Corolla Cross, feito no Brasil desde 2021, vive este cenário enquanto o BYD Song Pro desembarca no país após uma longa viagem de navio (e não estamos falando de qualquer embarcação). O novo SUV chinês tem motor híbrido, bom posicionamento de preço e está disposto a fazer estrago como o Godzilla.

Este invasor emerge das águas em duas versões, GL e GS, custando R$ 189.800 e R$ 199.800, respectivamente. As configurações compartilham o motor 1.5 aspirado a gasolina da família DM-i, já utilizado em outros carros da BYD no Brasil, como o sedã King ou o Song Plus. A diferença mecânica fica por conta da potência e das baterias.

A BYD também confirma que este Song Pro será o primeiro modelo nacional produzido em Camaçari (BA) a partir de 2025. Neste primeiro contato, Autoesporte testou o modelo mais caro — e antes de contar como anda o novo SUV, comecemos pelas principais características.

O que é o Song Pro? O SUV, trata-se na verdade, da antiga geração do Song Plus, mas que passou por uma reestilização para ficar mais moderno e em linha com os produtos da BYD. Ainda que o Song Pro tenha semelhanças com o Song Plus, é impossível confundi-los. O novo modelo chinês, aliás, estreia grande frontal, para-choques e faróis de LED exclusivos separados em três blocos luminosos. Vale notar que o extenso uso de materiais cromados do Song Plus sai de cena para dar lugar a um estilo mais sóbrio, combinando aço escovado e plástico preto brilhante.

Na traseira, há um pequeno spoiler, antena tubarão e as lanternas interligadas que se tornaram identidade na BYD. Outro detalhe bacana é que a parte central deste filete se acende, proporcionando um efeito bem caprichado durante a noite.

O Song Pro tem 4,74 metros de comprimento, 1,86 m de largura, 1,68 m de altura e 2,71 m de distância entre-eixos. Ou seja, supera o Toyota Corolla Cross, que tem 4,46 m de comprimento, 1,85 m de largura, 1,62 m de altura e 2,64 m de distância entre-eixos. O Song Plus, por sua vez, é menor no comprimento (4,70 m), porém ostenta 2,76 m entre os eixos.

+ Quer receber as principais notícias do setor automotivo pelo seu WhatsApp? Clique aqui e participe do Canal da Autoesporte.

Algumas sacadas deixaram o Song Pro ainda mais espaçoso. Para começar, não há túnel central, aspecto que proporcionou um assoalho totalmente plano. Também é possível ajustar o grau de inclinação do encosto do banco traseiro, proveniente também do Song Plus e inédito neste segmento.

Seu porta-malas tem 520 litros declarados, com sistema elétrico de abertura e fechamento. Neste aspecto, supera os 440 litros disponíveis no Corolla Cross.

Como se não bastasse ser mais espaçoso, o Song Pro também supera o Corolla Cross no nível de sofisticação. Aqui vemos borracha, aço escovado, plástico brilhante e revestimento sintético em todos os painéis aparentes, incluindo as portas traseiras, onde o rival japonês é todo feito de plástico. Este é um dos principais atributos deste “kaiju” contra o modelo nacional.

A montagem é outro ponto de destaque. Além dos vários materiais macios ao toque espalhados pela cabine, o Song Pro aparenta ter muita solidez em sua construção. Os plásticos não parecem frágeis e até o som das portas batendo passam a sensação de qualidade. Resta saber se este acabamento resistirá ao inevitável teste do tempo, pois vários modelos chineses ficaram marcados negativamente pela baixa durabilidade.

A central multimídia giratória de 12,8 polegadas, charme de todos os BYD, claro, está lá. Seu sistema operacional traz conectividade Android Auto e Apple CarPlay sem fio, GPS nativo e outras funções interessantes (como o famigerado karaokê). A tela também faz boa projeção da câmera 360° que auxilia nas manobras em áreas apertadas.

Não há botões físicos para controlar o ar-condicionado. Por um lado, isso acrescenta um apelo minimalista ao carro. Por outro, torna a experiência menos intuitiva. No caso do Song Pro, o motorista terá que fazer um gesto de “arrasta para cima” na base da tela para os controles de temperatura aparecerem. Mesmo assim, se o objetivo for diminuir a intensidade da ventilação é preciso um segundo comando para abrir o painel geral.

A telinha do painel de instrumentos digital, de 8,8 polegadas, destoa por ser muito reflexiva, dificultando a visão nos dias claros. O visor, no entanto, traz as principais informações do carro sem ter que ficar navegando por botões no volante ou mudando configurações no multimídia. Ademais, este SUV dá algumas ligeiras escorregadas, por exemplo, ao oferecer carregador de celular por indução somente na versão mais cara. Estamos falando de um SUV de R$ 189.800 que encosta no segmento premium…

Nem sempre o motorista terá um cabo para carregar o celular. Ele pode ser esquecido no escritório ou até mesmo em casa. Nestes momentos de aperto, o carregador por indução se tornou um item básico, presente até em carros que custam metade do preço do Song Pro.

Apesar do deslize, a ergonomia é um ponto forte. Os bancos têm formatos distintos com costuras alaranjadas e são muito confortáveis, mas ajustes elétricos só estão presentes na opção que encosta nos R$ 200 mil (de novo!). A empunhadura do volante é outro traço agradável, assim como o console central alto, que passa a impressão de um cockpit. Tudo pronto? Vamos dirigir.

Como falamos anteriormente, o 1.5 aspirado é o mesmo para ambas as versões e tem 98 cv de potência (no Song Plus são 110 cv e o no King, 105 cv). Atualmente, bebe apenas gasolina, mas a BYD tem planos de lançar o motor compatível com etanol.

O que muda é a capacidade das baterias, sempre do tipo Blade, à prova de fogo, capazes de proporcionar 12,9 kWh na versão de entrada e 18,3 kWh na configuração topo de linha. Além disso, o motor elétrico produz também 197 cv e pouco mais de 30 kgfm de torque.

Assim, a Song Pro GL desenvolve 223 cv de potência combinando os dois motores, enquanto a configuração GS chega aos mesmos 235 cv e 43 kgfm da versão Plus. A tração é sempre dianteira, distribuída pelo câmbio automático e-CVT.

Já a autonomia no modo elétrico é de 71 km para a versão mais barata e 110 km para a configuração topo de linha, em ciclo chinês. Os dados do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) ainda não foram divulgados, mas devem trazer números inferiores. Mesmo assim, são bons números para quem roda pouco na cidade. Dá para passar longe do posto de combustível por um bom tempo…

Quem adquirir o novo SUV também vai receber um carregador portátil. O Song Pro pode ser plugado em estações de corrente alternada de até 6,6 kW e o tempo para carregar totalmente a bateria pode ser pouco mais de 2h na versão de entrada e quase 3h na topo de linha.

Este novo BYD não é turbo, mas seu motor elétrico colabora para um desempenho honesto. Vai de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos quando equipado com a maior bateria e pode chegar a 185 km/h, de acordo com os dados de fábrica.

O torque instantâneo do motor e a reatividade do acelerador são aspectos que compensam a ausência de um turbocompressor, pois o Song responde bem aos comandos do motorista em subidas, ultrapassagens e retomadas. Quando a carga da bateria está baixa, o motor a combustão se esforça e faz muito barulho para manter o ritmo, apesar da manta acústica instalada na região inferior do capô.

Como outros SUVs chineses, e aqui podemos usar o Haval como exemplo, o Song Pro tem predileção por rodar apenas no modo elétrico na cidade. Portanto, se você não ultrapassar a faixa dos 60 km/h, é bem capaz que o SUV cumpra todo o trajeto sem gastar uma só gota de combustível. Isso se a bateria estiver carregada, claro…

Mas o destaque fica por conta do acerto de suspensão, que traz arranjo McPherson na dianteira e multibraço na traseira. O Song Pro ainda não é nacional, mas parece cidadão brasileiro ao enfrentar e amortecer os impactos causados pelos buracos e ondulações do nosso asfalto.

A suspensão é firme o suficiente para conter eventuais bamboleios da carroceria, mas curvas rápidas não são o forte deste BYD. Sua vocação urbana é clara neste sentido.

Até aqui, parece que o Corolla Cross é inofensivo diante da fera chinesa invasora, certo? Errado. Chega a ser sarcástico pensar que a grande fraqueza do BYD Song Pro é justamente a melhor qualidade de seu rival.

Isso porque o modelo não tem assistências ativas de segurança. Itens como sensores de ponto-cego, monitoramento de permanência em faixa e controle de cruzeiro adaptativo foram cortados do pacote Brasil.

Para o azar do nosso querido invasor, o Toyota Corolla Cross melhorou este aspecto na linha 2025, como repercutimos durante seu lançamento. Agora, seu controle de cruzeiro adaptativo funciona em qualquer velocidade, melhorando o dia a dia no trânsito intenso. Com o toque de um botão, o SUV japonês seguirá o carro à frente, repetindo todos os seus movimentos.

O sensor de ponto-cego faz falta, ainda mais em cidades com grande fluxo de motociclistas. Para o terror do Song Pro, este equipamento é oferecido pelo Corolla Cross há quatro anos.

Estes itens de segurança estão no pacote de equipamentos da China, mas foram cortados para reduzir o preço no Brasil. Dessa forma, o Song Pro mais caro e equipado, de R$ 199.800, ficou mais em conta que o Toyota Corolla Cross híbrido de entrada, que custa R$ 202.900.

A ausência do pacote de segurança é uma falha grave num SUV tão legal. De fato, todas as outras características realmente impressionam, como a qualidade do acabamento interno e o conjunto híbrido. De qualquer forma, a segurança deveria estar acima de todos os outros critérios.

E fica aqui outro questionamento: o Song Pro realmente precisa custar menos que o Toyota Corolla Cross para vender bem? Incrementar o pacote de equipamentos de segurança da versão GL, com a bateria menor, não era uma opção? Na redação de Autoesporte, as respostas divergiram.

Resta saber se o público brasileiro está disposto a abdicar do sistema de segurança para ter um carro mais bonito, espaçoso, equipado e tecnológico. Também existe uma indefinição sobre o seu preço futuro, já que as marcas aliadas à Associação Nacional das Fabricantes de Veículos (Anfavea) pressionam o governo para a retomada imediata do imposto de importação. Entenda isso como uma estratégia de defesa contra os invasores gigantes que surgem do mar… e do Oriente.

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.

Fonte: direitonews

Anteriores Relatório final da reforma mantém carnes fora da cesta básica e 4rm4s sem “imposto do pecado”
Próxima Projeto inclui reúso da água na Política Nacional de Recursos Hídricos