O céu carregado de nuvens e os relâmpagos no horizonte já antecipavam a tempestade que chegaria. Na caminhada do elevador do prédio até a garagem, a céu aberto, acelero meus passos — os primeiros pingos de chuva começam a cair. Entro no Audi SQ8 Sportback e-tron, ligo o SUV elétrico de R$ 864.990 e o limpador automático do para-brisa começa a trabalhar imediatamente. No imaginário das pessoas, enfrentar uma chuva forte com carro elétrico é perigoso, principalmente se pegar alagamento pela frente.
Esse risco não existe, porque as baterias são muito bem isoladas. E você ainda está livre do famoso calço hidráulico, tão comum em carros a combustão durante enchentes. Poucas horas depois, eu estaria boiando na água com um veículo elétrico, mas não o que você está pensando. Refiro-me ao Ventura Taiga Orca Performance, primeiro jet ski elétrico do mundo, que chega ao Brasil por R$ 149.990. Neste caso, existe algum perigo?
Vamos por partes. Primeiro, o SQ8. O trânsito de São Paulo pela manhã é intenso nos dias de semana. Quando chove, o cenário piora. Da minha casa, na Zona Oeste, até o Yacht Club Santo Amaro, na Zona Sul, são quase 30 km. O conforto do SUV cupê ameniza o trajeto.
Extrair muito dos três motores elétricos (dois traseiros e um dianteiro), com 503 cv e 99,2 kgfm, fica difícil nesse trânsito, mas a suspensão pneumática do SUV cupê se adapta tão bem ao solo irregular que faz o elétrico de 2.715 kg parecer flutuar no asfalto. Só um detalhe tira o conforto e provoca tensão: os retrovisores externos por câmera.
A posição do olhar e a noção de proximidade e profundidade são totalmente diferentes dos espelhos convencionais. As imagens dentro do carro são reproduzidas em telas posicionadas acima das maçanetas. É preciso baixar a cabeça, e a linha do olhar não é contínua em relação ao volante, o que é estranho. Seja um carro popular, seja de luxo, olhar para o retrovisor no trânsito é instintivo. Até se acostumar que, no lugar deles, há duas câmeras mais abaixo, você passa por muito frio na barriga, especialmente ao trocar de faixa em uma via com trânsito intenso e chuva.
A boa notícia é que elas são opcionais, em um pacote de R$ 15 mil. Quem não quiser, pode comprar o SQ8 e-tron com retrovisores convencionais.
Quarenta minutos depois do previsto, por causa do trânsito, chego ao Yacht Club Santo Amaro. A chuva dá lugar ao sol e troco o SUV elétrico de mais de duas toneladas, com baterias de 114 kWh, por um jet ski elétrico de pouco mais de 300 kg e baterias de 24 kWh. O cenário também muda: em vez da movimentada Marginal Pinheiros, estou na Represa Guarapiranga, cercada de árvores e pássaros cantando.
O Ventura Taiga Orca Performance é fabricado pela Taiga Motors no Canadá, de onde vem para o Brasil via Ventura Marine. A moto aquática tem impressionantes 160 cv de potência e 17,3 kgfm de torque. É mais do que muito carro. A velocidade máxima é limitada a 100 km/h. Já o elétrico da Audi leva 4,5 segundos para atingir essa marca e chega a 210 km/h de máxima, também controlados eletronicamente.
No universo automotivo, a relação peso/potência e peso/torque, que nada mais é do que a divisão de potência e torque pelo peso do carro, diz muito sobre o seu desempenho. Por exemplo, o SQ8 Sportback e-tron tem 2.715 kg e 503 cv. Portanto, ao dividir sua potência pelo peso, temos 5,39 kg/cv; já no que tange ao torque, chegamos a uma relação de 27,36 kg/kgfm.
O Taiga Orca pesa 335 kg e tem 160 cv, chegando a incríveis 2,09 kg/cv de relação peso/potência. Tal número é similar ao de superesportivos de Ferrari e Lamborghini. Na relação peso/torque, o jet ski alcança 19,36 kg/kgfm. Quando dou a partida por botão no Taiga Orca, o único barulho que ouço é dos pássaros cantando alto para anunciar que a chuva vai voltar. Não dá para escutar o ruído do motor, assim como nos carros elétricos.
A posição de pilotar é bem confortável. O jet ski tem capacidade para duas pessoas, mas vou sozinho. Do lado direito do guidão ficam o acelerador e os botões de acionamento dos modos de condução: Wild, Sport e Range. Do lado esquerdo, o freio e a regulagem do power trim, sistema que possibilita ajustar a inclinação da moto aquática em relação à água. Quanto mais negativo for o ajuste, mais o jet ski “gruda” na água; quanto mais positivo, mais levantado ele fica. É como se fosse um ajuste de suspensão a ar, comparando com o SQ8 e-tron.
Sabe o torque instantâneo dos carros elétricos? O mesmo acontece com o jet ski. É só apertar o acelerador com a mão direita que a moto aquática responde na hora. O tranco é forte, assim como no SQ8 — se não tivesse trânsito para atrapalhar seu desempenho. Como o acelerador e o guidão são sensíveis, leva um pouco de tempo para pegar o movimento e ficar na trajetória correta.
Enquanto o SUV parecia flutuar sobre o asfalto com tanto conforto, o jet ski se comporta como aquele carro que “passarinha” a frente quando você acelera muito rápido. É uma inversão de papéis. Confesso que a pouca experiência com motos aquáticas pesou para meu desempenho desgovernado no começo, me deixando um pouco tenso. Afinal, o tempo de teste era curto e o jet ski nem sequer retrovisor tinha. Mas, nesse caso, não fez falta.
“Nada como a prática”, já dizia meu pai. Com o tempo, deu para pegar melhor o jeito de domar a Orca elétrica. Deixei o trim o mais baixo possível e coloquei no modo Wild, que extrai o melhor do jet ski. É como colocar o SQ8 no modo Sport Plus e deixar a suspensão mais próxima do solo. Isso melhora a aerodinâmica. Eu não atingi a velocidade máxima, mas deu para chegar pelo menos aos 70 km/h — na água parece ser muito mais. Uma coisa é fato: jet ski elétrico é divertido demais.
As baterias ficam na parte central da moto aquática, o que melhora a estabilidade em função do centro de gravidade baixo. Mas é perigoso um jet ski elétrico? De acordo com a Ventura Brasil, não. Além de estarem muito bem isoladas, as baterias têm uma função que praticamente desabilita o fluxo de energia em caso de colisão ou quebra do casco. Em relação à autonomia, o SQ8 Sportback pode rodar 303 km, segundo o Inmetro. No caso do jet ski, o alcance é calculado por hora: duas horas, mais precisamente.
Posso me gabar de não ter caído na água. Só me molhei porque a tempestade veio com força depois do teste (bem que os pássaros avisaram). Tensão não faltou nesse dia — pelas tempestades, pelo trânsito intenso, pela dificuldade com o retrovisor por câmera ou por aprender algo novo. Se você tem R$ 1 milhão, juntar essa dupla é interessante: garante conforto no dia a dia com o SQ8 e diversão nos fins de semana com o jet ski. Tudo elétrico, sem poluir. E quer um conselho? Economize R$ 15 mil e mantenha os retrovisores do e-tron por espelho. Reduzirão sua tensão no trânsito.
Recargas
– O Audi SQ8 Sportback e-tron suporta recargas se até 170 KW; assim, a bateria vai de 10% a 80% em 31 minutos. Já em um Wallbox de 22 Kw, a recarga completa leva cerca de 5 horas
– Em tomadas de 220 v, a do jet ski elétrico leva de 7 a 8 horas. Em wallbox de 3,5 kw, demora 40 minutos
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Fonte: direitonews