“O Japão tem essas forças de autodefesa para se defender. Caso seja atacado, ele consegue se proteger, revidar. Essas forças de autodefesa fazem parte de um acordo de cooperação mútua, elas surgiram a partir desse acordo com os Estados Unidos”, explica Mendes.
“Não é de hoje que o Japão vem trabalhando com as questões de defesa. Um marco muito importante foi a Guerra do Golfo. O posicionamento do Japão como aliado americano ficou conhecido como ‘diplomacia do cheque’, porque o Japão auxiliou os aliados na guerra, principalmente os EUA, financeiramente.”
“Logo após os atentados do 11 de Setembro, foi aprovada uma lei, ainda no período do mandato do primeiro-ministro Junichiro Koizumi, que permitia o envio de tropas de autodefesa para apoiar aliados em território estrangeiro. Não precisaria passar pelo crivo da ONU [Organização das Nações Unidas], como deveria ter acontecido em outras épocas. Agora o Japão poderia resolver isso diretamente, sem precisar dessa outra instância. E foi a primeira vez.”
“Esse documento todos os países têm. É basicamente uma lista, um roteiro de como o país se porta em determinadas situações de insegurança. Ela foi criada em 2013, durante o segundo mandato do primeiro-ministro [Shinzo] Abe, falecido recentemente.”
Mudança reflete acirramento entre Coreias do Norte e do Sul e tensão com a China
“O Japão depende da economia chinesa, e a China depende também do mercado japonês e da importação de peças etc. Então isso configura o que a gente chamaria de uma ‘instabilidade estável’. Ela é instável porque tem essa movimentação, vira e mexe tem uma troca de mísseis, de balas. Mas aquilo muito dificilmente vai escalar para algo maior”, explica Mendes.
“A clara movimentação, os exercícios militares, os lançamentos de mísseis da Coreia do Norte e o empenho em desenvolver armas nucleares trazem uma grande instabilidade, uma grande insegurança para a região, principalmente para o Japão. Porque ele é um dos principais aliados americanos na região”, diz Mendes.
A ascensão de um novo conceito de autodefesa
“O que o Japão está programando adquirir agora com novos sistemas de mísseis implica em uma outra postura. É o que eles estão chamando de ‘capacidade de contra-atacar’. O Japão anuncia que vai adquirir mísseis capazes de atingir territórios, não apenas aviões e navios, submarinos que venham a, eventualmente, violar a soberania japonesa, mas que possam atingir o território da Coreia do Sul, da China, da Rússia. Isso, segundo o Japão, caso esses países venham a violar a soberania japonesa.”
“Tudo isso caracteriza o comportamento das grandes potências, agora também com um orçamento de defesa e uma capacidade de projeção de poder que antes não tinha. Então, de certa maneira, o Japão vai se normalizando enquanto uma potência como outra qualquer.”
Fonte: sputniknewsbrasil