Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – Após o forte avanço da véspera, as taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em queda firme no Brasil, em especial entre os contratos longos, em sintonia com a baixa dos rendimentos dos Treasuries após o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, defender o início dos cortes de juros nos EUA em setembro.
Entre os contratos de curtíssimo prazo, o recuo das taxas futuras foi mais modesto, com a curva a termo brasileira ainda precificando alta da Selic no próximo mês.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,82%, ante 10,855% do ajuste anterior.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,48%, ante 11,617% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,47%, ante 11,627%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,58%, ante 11,702%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,56%, ante 11,671%.
Principal evento da semana, a participação de Powell no simpósio de Jackson Hole entregou o que o mercado esperava: indicações claras sobre o que o Fed caminha para fazer na política monetária.
Powell defendeu pela manhã que “chegou a hora” de o Fed cortar sua taxa de juros, uma vez que os riscos crescentes para o mercado de trabalho não deixam espaço para mais fraqueza e a inflação está a caminho de alcançar a meta de 2%. Na prática, foi um apoio explícito ao afrouxamento da política monetária.
“Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram”, disse Powell. “Chegou a hora de ajustar a política. A direção a ser seguida é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos.”
A reação dos mercados globais à fala de Powell foi positiva, com investidores buscando ativos de maior risco, ainda que haja dúvidas sobre a magnitude do primeiro corte: 25 ou 50 pontos-base.
As ações em Wall Street avançaram, enquanto os yields dos Treasuries e o dólar despencaram. No Brasil, as taxas dos DIs acompanharam o movimento, chegando a cair 20 pontos-base no vértice para janeiro de 2027 durante o dia.
“Setembro marcará o início de um novo capítulo no combate à inflação pós-pandêmica. Mas se o afrouxamento está dado nos EUA, por aqui estamos discutindo a possibilidade de novos apertos”, disse Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, em comentário enviado a clientes.
“Acredito que podemos inferir que as chances de um aumento da Selic já em setembro perdem força se o corte de juros nos EUA for 0,5 (ponto percentual). Por outro lado, se for mesmo 0,25, pode ficar difícil evitar (a alta da Selic).”
Apesar da leve queda nesta sexta-feira, as taxas mais curtas da curva brasileira seguiam precificando alta de 25 pontos-base da Selic em setembro. Essa perspectiva ainda era em grande parte reflexo das declarações mais recentes de autoridades do BC, em especial do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Na quinta-feira, ele negou que a autarquia esteja em um “corner” em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas disse que “ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”.
Com as declarações, a curva precificou na véspera 100% de probabilidade de alta de 25 pontos-base da Selic em setembro. Perto do fechamento desta sexta-feira, a precificação estava em 90% para corte de 25 pontos-base, contra 10% para manutenção da taxa em 10,50%.
No exterior, às 16h36 o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 6 pontos-base, a 3,805%.
Fonte: noticiasagricolas