“[Classe média e empresários] vão ficar revoltados com [Jair] Bolsonaro porque está claro que ele, embora tenha contribuição pequena, o fato é que [ele] queria que fosse [maior]. Se dependesse dele, a relevância [na taxação] era enorme. Isso basta para que alguns setores comecem a ver que ele é tóxico [para o sistema].”
“Certamente, não muda nada [no bolsonarismo religioso]. A visão que eles têm é de que Bolsonaro e o seu clã estão fazendo o correto e vivendo, de certo modo, um momento de perseguição”, explica o professor, que alerta sobre a corrida presidencial de 2026: “O bolsonarismo radical não ganha eleição sozinho.”
“A direita não está alinhada ainda, dada a impossibilidade de Bolsonaro se candidatar. A direita não está totalmente alinhada ao Tarcísio. A disputa está grande. Agora, essa questão das tarifas trouxe à tona as divergências entre eles.”
“A direita brasileira, com esse episódio, mostrou-se como ela é: fragmentada em setores, em frações, que, muitas vezes, se opõem, sobretudo, na relação que têm com o capital internacional. O bolsonarismo, expressão de setores menores da burguesia e com relação direta no comércio internacional, é afetado negativamente com a situação.”
Lula deve capitalizar com a situação
“O PT ganhou um grande cabo eleitoral: o Trump. O bolsonarismo está ajudando com essas propostas [de taxação]. Se o PT, o governo Lula, tiver a capacidade de usar bem todo esse cenário, que se propõe agora como ruim — e parece que já vai começar a fazer isso com uma série de propagandas sobre o Brasil ser soberano —, sem dúvida nenhuma, politicamente, a vida vai ficar mais fácil para a esquerda.”
“Há de se pontuar, entretanto, que a burguesia é uma classe social, e não econômica, ou seja, ela não necessariamente age conforme o interesse racional objetivo. Não é porque vai perder financeiramente que adota tal ou qual agenda ou posição política. Além de a burguesia ser um segmento muito fracionado em interesses e relações econômicas.”
“Quando o presidente dos EUA anuncia uma medida dessa, mesmo que o governo considere a possibilidade maior de que nada aconteça, a simples possibilidade de que algo ocorra exige que o governo pense em respostas. Isso imobiliza. Assim, Trump sequestra a agenda dos governos.”
Fonte: sputniknewsbrasil