“Há uma tendência global e liderada por alguns países-chave, como Rússia, como China, como Índia, de buscar alternativas e novas formas de desenvolvimento de sistemas voltados a transferências financeiras e de informações entre seus habitantes, entre seus cidadãos e também para facilitar o comércio e as transferências internacionais de recursos”, destacou o professor de relações internacionais do Ibmec Walter Franco.
“A gente vai assistir, desde então, uma forma de permitir que o SWIFT se torne um instrumento que permita aos Estados Unidos verificar a grande maioria das transações financeiras realizadas entre países. Uma transferência de moedas, digamos, do Brasil para o Irã, se isso estiver descumprindo alguma legislação [dos EUA], alguma sanção contra o Irã, os Estados Unidos ficarão imediatamente sabendo, porque o SWIFT vai ser mais acessível aos Estados Unidos.”
“Se um país resolver não obedecer à sanção americana, por exemplo, ao Irã e fizer negociações com o Irã, o banco desse país que fez a negociação com o Irã pode ser […] sancionado pelo governo americano, proibindo esse banco de operar no sistema de Nova York, o que é gravíssimo”, exemplificou Ferracioli.
“O sistema que está mais avançado, que é o mais interessante, é o sistema chinês, o CIPS. É um sistema que viabiliza transações em renminbi, em yuan, de forma simples, fácil, e que fica do conhecimento apenas da China e do país que estiver envolvido na transação”, comentou Ferracioli. “Por exemplo, os pagamentos do gás que o gasoduto Força da Sibéria vende para a China, a China não faz em dólares. E a Rússia faz compras na China através do sistema CIPS”, esclareceu o professor da FGV.
SPFS: sistema russo de pagamentos
“Diante dessas ameaças que surgiram após o episódio Crimeia, surgiram pressões para que o SWIFT excluísse os bancos russos, que só viriam a ser excluídos posteriormente. Mas começaram essas pressões, e os russos decidiram começar a criar um sistema novo, que é o SPFS”, disse o professor de negócios internacionais.
“A partir do momento que você desenvolve a sua própria ferramenta, o controle sobre a sociedade — não é um controle sob o ponto de vista negativo, mas sim de um controle de você ter uma mensuração dos volumes e das transações — é muito maior. Então vejo, sob esse ponto de vista, que é positivo esse sistema, tem sim possibilidade de crescer e se desenvolver e de agir paralelamente a diversos outros no cenário global internacional.”
Dólar e SWIFT: duas faces da mesma moeda
“Se o sistema russo começar a funcionar bem, não vai imediatamente substituir o efeito SWIFT. Nem vai imediatamente significar que o dólar deixará de ser utilizado. Mas cria possibilidades da utilização de outras moedas para que alguns países possam se interessar.”
“Utilizo, no caso da China, o CIPS, ou, no caso da Índia, o UPI, para desenvolver o comércio. Então naturalmente outras moedas ganham preponderância e peso nesse cenário internacional, o que diminui, certamente, o peso e a importância do dólar nesse mesmo comércio.”
“A questão da conversibilidade de moeda é uma coisa muito mais importante, no meu entender, do que simplesmente você criar uma moeda comum […]. Ao criar uma moeda comum, você vê como a Europa passa toda a dificuldade para ter um Banco Central único e você interfere nas políticas próprias […]. Muito mais importante do que se preocupar com moeda comum é efetivamente se preocupar com o crescimento do comércio, as relações entre os países, o desenvolvimento dos blocos eventualmente comerciais que sejam […]”, completou ele.
BRICS
“Neste exato momento no mundo, diversas nações e moedas vêm apresentando um protagonismo importante, e se você olhar sob o ponto de vista desses mecanismos, em especial o da Rússia, de uma forma ou de outra eles, sim, facilitam e permitem que moedas que não sejam o dólar americano organizem-se e viabilizem comércio e transações financeiras […]”, argumentou.
Brasil
“Vai ser natural que um país ou outro, mesmo do Ocidente, que hoje esteja aí eventualmente participando da sanção contra a Rússia, amanhã se alivie embaixo desse sistema para fazer uma transação financeira”, previu ele. “Ou seja, uma maior participação de players saindo do centro tradicional, do desenvolvimento clássico do capitalismo europeu, americano, e outras nações usufruindo dessa riqueza, desenvolvendo […] formas de comércio alternativas, […] e maneiras de agir politicamente também alternativas, questionando inclusive determinados tipos de ação”, concluiu.
Fonte: sputniknewsbrasil