Surdo aos 2 anos, ele criou um app usado por grandes empresas para contratar intérpretes de libras


As entrevistas para conhecer as empresas e os seus negócios envolvem, quase sempre, a pessoa que será entrevistada e um assessor de imprensa. Para falar com a Signum Web, outro profissional entrou em cena, um intérprete de Libras.  A startup foi criada para facilitar a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes e funciona como uma espécie de Uber de intérpretes de Libras. 

No comando do negócio, está Felipe Barros, hoje com 38 anos e surdo desde os dois anos de idade, em decorrência de uma meningite. A dificuldade para conseguir estabelecer uma comunicação fluida com outras pessoas levou Barros ao empreendedorismo e à criação da Signum Web, uma plataforma de acessibilidade com intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais). 

Ele desenvolveu a carreira em tecnologia, área pela qual é apaixonado desde jovem. Começou a trabalhar como digitador, passando por órgãos da justiça mineira, hospitais até chegar ao departamento de tecnologia de uma empresa. À medida que avançava e ganhava mais exposição, a comunicação se apresentava mais e mais como uma barreira. 

Como a Signum foi criada

“Quando tinha que fazer apresentação para a chefia, eles não conseguiam entender, a comunicação era nula porque havia equívocos nas informações”, afirma. De acordo com dados do IBGE, o Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas surdas.

O profissional conta que havia poucas pessoas com conhecimento de língua de sinais e muitas das conversas precisavam ser feitas por e-mails escritos. Os problemas se repetiram na academia, quando ingressou para estudar sistemas da informação. 

“As dificuldades foram aumentando, principalmente, academicamente falando, porque a linguagem é muito complexa”, diz”. Mas foi lá onde nasceu o embrião do que seria a Signum. 

Em uma das aulas na PUC-MG, um professor pediu que os alunos desenvolvessem alguns projetos. A Barros, coube a criação de um dicionário de Libras. A entrega foi além, impressionou o sempre reticente professor, que estimulou a inscrição do projeto no Lemonade, programa de aceleração desenvolvido em Minas Gerais. 

Os alicerces da Signum foram estruturados a partir daí, em 2017. Para erguer a plataforma, Barros recorreu aos seus grandes incentivadores, Cleusangela Barros e Josenildo Santos. Os dois são pais do empreendedor, entraram como sócios na startup e ocupam as posições de CMO e CFO, respectivamente, em razão das suas formações profissionais.

Quem são os clientes da startup

A plataforma surgiu com um modelo para oferecer a comunicação síncrona, em tempo real e sem agendamentos. Isto é, quando uma pessoa precisar, a Signum deve ter um intérprete disponível para atendê-la. Ao longo do tempo, tem incorporado outros serviços como atendimento presencial de intérpretes, gravação de conteúdos audiovisuais e agendamento para a participação em reuniões.

Os serviços atendem, basicamente, grandes empresas como o Banco BV, Totvs, JusBrasil, Sicred, XP Educação, Grupo Soma, Engie e ainda hospitais como o Santa Catarina, plataformas de telemedicina e o DataPrev. 

Em geral, as companhias querem ou construir conversas com pessoas surdas para vender produtos e serviços ou integrar pessoas surdas ao time, e os intérpretes ajudam no desenvolvimento desta comunicação.  

As pessoas físicas também podem usar o serviço e pagar pelo tempo consumido, em modelo semelhante ao de plataformas de mobilidade. O forte da startup, porém, é no B2B. O negócio reúne hoje mais de 300 profissionais e funciona 24 horas por dia. 

“A demanda das empresas, por incrível que pareça, é mais para atender o profissional que elas têm em casa do que pelos clientes”, afirma Sebastião Mesquita, diretor executivo da Signum desde janeiro de 2022. “Nós entramos no cliente e começamos a mostrar que é muito real a possibilidade de começar a vender serviço, prestar atendimento. Isso ajuda na abertura de oportunidades e na nossa expansão”.

Barros e Mesquita se conheceram em uma aceleradora e logo veio o convite para que Mesquita contribuísse para com o desenvolvimento da Signum. Na época, o profissional liderava a Setha Atacado On-Line e dedicava apenas algumas horas à Signum. Após um revés em sua startup, decidiu entrar de cabeça na plataforma. No acordo, Felipe ficou com  o desenvolvimento de produtos e tecnologia.

Quais são os próximos passos da Signum

Após patinar nos anos iniciais para encontrar as estratégias de negócios, a startup tem conseguido colocar um novo ritmo. Em 2022, faturou 717 mil reais, evolução de 363% em relação ao ano anterior. Para este ano, a expectativa é de fechar os 12 meses com 1,5 milhão de reais. 

A expansão vem a partir de uma estratégia mais ativa de prospecção comercial e entrada de novos recursos. As soluções atuais permitem que os clientes possam resolver tudo dentro da plataforma, dos atendimentos com poucos cliques ao pagamento pelo uso do serviço.

Os desafios estão em escalar o modelo com a conquista de novas contas e a venda de mais serviços aos atuais clientes. A  startup também pretende entrar em outro mercado, companhias com faturamento entre R$ 500  mil e R$ 1 bilhão.

Para acompanhar a nova fase, a Signum, bootstrap desde o início, está estruturando a sua primeira rodada de investimento em busca de uns 5 milhões de reais. No momento, a startup está em conversa com alguns fundos, principalmente de nicho e que dialoguem com eixos centrais da atuação da startup, como impacto e saúde. O objetivo é que o capital venha acompanhado de conhecimento de mercado, o famoso ‘smart money’. 

O dinheiro será usado para reforçar a estratégia comercial e o desenvolvimento de produtos. Atualmente, em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a Signum tem investido em projetos de visão computacional, inteligência artificial e tecnologia embarcada. As iniciativas focam o setor de saúde, carente de soluções para atender a população surda. 

Fonte: exame

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