Desde o começo do ano, Kiev vem fazendo diversos movimentos para se aproximar do chamado Sul Global, com foco especial em países sul-americanos. O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, tenta flertar com líderes da região declarando publicamente que a Ucrânia tem a intenção de estabelecer maior contato com os mesmos.
Em fevereiro – bem antes da reunião do G7 na qual o líder não encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Zelensky propôs durante coletiva de imprensa que Lula o ajudasse a impulsionar uma cúpula Ucrânia-América Latina na região, conforme noticiado.
No entanto, desde então, a liderança ucraniana vem enfrentando grande resistência para mudar o status de neutralidade adotado por esses países diante do conflito, e, segundo a Folha de São Paulo, também encontra resistência para criação de um tribunal especial internacional por parte desses mesmos Estados.
A mídia relata que para formar o novo tribunal, a Ucrânia precisa dos votos de dois terços dos 193 integrantes da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Neste momento, a proposta foi endossada por cerca de 40 países, entre os quais Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Por outro lado, são poucas as nações emergentes que apoiam abertamente a iniciativa. Na América Latina, por exemplo, apenas Costa Rica, Guatemala, Uruguai e Chile, diz o jornal.
O advogado à frente do Global Rights Compliance, Wayne Jordash, vê com pessimismo a chance de Kiev conseguir criar a corte especial, devido à falta de apoio do Sul Global. Entretanto, ressalta que “os ucranianos são persuasivos, ninguém achava que eles conseguiriam caças F-16 e tanques”.
A mídia afirma que o governo brasileiro reconhece o mérito de buscar a responsabilização dos envolvidos no conflito, mas vê a criação de um tribunal especial neste momento como contraproducente.
Ao estabelecer uma corte cuja finalidade seria, na prática, condenar Putin, haveria ainda menos incentivos para que o presidente russo negocie o fim do conflito. Além disso, poderia deixar o chefe do Kremlin com a sensação de estar sendo encurralado, uma ideia ruim para uma potência nuclear, segundo o raciocínio em Brasília, escreve o jornal.
Segundo o especialista em relações internacionais, Ivan Timofeev, ouvido pela Sputnik, os países do Sul Global agirão de acordo com seus próprios interesses e não serão inequivocamente pró-ucranianos, apesar da ativa pressão informacional dos EUA e de Kiev em relação ao conflito.
“Ao se distanciarem do conflito ucraniano, não apoiando Kiev e, ao mesmo tempo, evitando qualquer apoio inequívoco à operação militar especial, eles deixam espaço de manobra e não se prendem a uma única posição. Portanto, é do interesse deles continuarem com sua política, ou seja, defender um acordo pacífico, mas evitar uma clara associação com a posição de Kiev ou do Ocidente”, enfatizou.
No final de semana passado, aconteceu na capital dinamarquesa Copenhague uma cúpula promovida pelos EUA, União Europeia e Ucrânia com países do Sul Global para tentar uma aproximação com nações da região e mostrar a proposta de Kiev para paz.
O Brasil e vários outros países compareceram, mas na visão de Timofeev o objetivo do evento – que contou até com a presença de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Joe Biden – foi “querer minar uma das teses promovidas pela Rússia relacionada ao fato de que há uma mudança fundamental na ordem mundial, onde o Sul Global está se fortalecendo gradualmente”.
Fonte: sputniknewsbrasil