“Esse incômodo pode ser explicado por um medo da expansão do uso dessa tecnologia para fins não pacíficos no futuro — o que poderia causar o surgimento de um ‘fator novo’ causador de desequilíbrio de forças nas Américas, bem como outro aspecto importante, que é o bom controle de instalações nucleares em aspectos de infraestrutura e segurança. Apesar de serem fatores historicamente críticos no Brasil, no caso da energia nuclear, apresentam — como mencionado anteriormente — um excelente nível de organização e desenvolvimento.”
Austrália pode ultrapassar o Brasil e obter antes a aprovação para seu projeto?
“Acredito ser um pouco mais difícil, ou ao menos mais longa, as negociações [da Austrália] para a aprovação do projeto pela AIEA, uma vez que China e Rússia possuem fortíssima influência e presença na atuação do órgão. Como exemplo, declarações recentes do governo chinês claramente não desaprovam o projeto brasileiro, mas se opõem veementemente à AUKUS por entenderem que esse projeto afeta sua zona de influência na Ásia e na Oceania.”
Quando o Brasil vai ter um submarino nuclear?
Como está o projeto do submarino nuclear brasileiro?
“O Brasil é um país do Sul Global que possui destaque e prestígio no cenário internacional. A economia cada vez mais vem apresentando sinais de crescimento. A gente tem um elevado contingente populacional, uma abundância de recursos, e o Brasil é um país que está em diversas mesas de diálogo. E, como posso dizer, na projeção internacional também. Então isso já põe o Brasil numa condição, digamos que, estratégica para o mundo. E, nos últimos anos, o Brasil tem estabelecido essas parcerias estratégicas no desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos, inclusive de forma autóctone”, afirma Jéssica.
“Ou seja, uma vez que o submarino submergir, ele não tem a necessidade de emergir novamente para recarregar suas baterias como nos modelos convencionais, então isso já causa dúvida de onde estaria esse submarino. […] Isso em si já causa essa dissuasão, porque ele pode estar em qualquer lugar, claro, qualquer lugar que tenha mar. Então causa essa dúvida, o que para as potências não é algo interessante, por mais que seja apenas um único exemplar”, afirma.
AUKUS × Brasil: diálogo como caminho para o aval
“Eu observo essa aliança do AUKUS como uma questão bastante fundamentada na geopolítica também e no equilíbrio de poder nessa região do oceano Pacífico. E destacando também que essa parceria de segurança tem o apoio de dois dos países que fazem parte dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas [CSNU]. Atualmente, eles são: Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França, sendo que o Reino Unido e os Estados Unidos estão presentes nessa parceria com a Austrália. Então, já podemos ver o interesse das grandes potências nesse tipo de acordo.”
“Eu acredito que o Brasil seja um país que vai buscar o diálogo antes de simplesmente dar uma negativa, sobretudo nesse governo que aponta que o diálogo é a melhor solução para as controvérsias. Eu creio que ele [o Brasil] vai buscar esse instrumento para tentar conseguir dialogar e negociar com a própria AIEA, demonstrando esses interesses pacíficos do país em relação à propulsão do submarino.”
“[…] creio que essa possibilidade de ameaça à soberania nacional pode se configurar justamente pela exposição desses segredos industriais a terceiros. Se nós pensarmos, o país lutou tanto, pesquisou tanto, empregou tantos recursos para conseguir desenvolver esse tipo de tecnologia e deixar que outros países, outras pessoas [tenham acesso], por mais que sejam, claro, técnicos credenciados da organização, é algo complicado realmente para a soberania do país. Então eu creio que essa questão repousa justamente nesse sentido”, conclui.
Fonte: sputniknewsbrasil