Os senadores da Comissão de Relações Exteriores aprovaram, nesta quinta (8), os requerimentos para que o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o embaixador Celso Amorim, assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assuntos internacionais, prestem explicações sobre a posição do Brasil em relação à situação eleitoral na Venezuela.
Vieira e Amorim vão ao Senado a convite dos senadores, e não como uma convocação como se pretendia inicialmente. Isso abre a possibilidade para que eles faltem à sessão, o que dificilmente deve ocorrer por conta da orientação de Lula para que todos os ministros prestem esclarecimentos aos parlamentares quando são convidados.
Por outro lado, os senadores dispensaram de ouvir a embaixadora do Brasil em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira, após a autora do requerimento, Tereza Cristina (PP-MS), pedir a retirada de pauta já que Amorim e Vieira tiveram os pedidos aprovados.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que foi feito um acordo para que Amorim vá à comissão na próxima quinta-feira (15) e Vieira na sequência, em uma data ainda a ser definida por conta das sessões deliberativas do plenário. O ministro deve passar duas semanas em viagens, o que também influenciou na escolha da data ficar em aberto.
A questão da Venezuela preocupa o governo, que vem sendo pressionado a se posicionar sobre a reeleição questionada de Nicolás Maduro. O Brasil tem adotado um tom diplomático de não reconhecer a vitória enquanto o país não apresentar as atas detalhadas de votação que comprovem o resultado – mas, também não reconhece a possibilidade do opositor Edmundo González Urrutia ter conquistado mais votos, como os Estados Unidos já afirmam.
Um pouco mais cedo, durante a abertura de uma reunião ministerial geral no Palácio do Planalto, Lula pediu cautela na discussão e disse que é preciso “encontrar uma solução pacífica para as eleições da Venezuela, é muito importante”.
O tom é semelhante ao adotado por Celso Amorim na quarta (7), que disse que o Brasil precisa “falar a coisa certa” para não endurecer a situação da Venezuela, que ele considera “complexa” por si só. “A Venezuela é um país muito dividido, se nós não agirmos com correção, a possibilidade de agravamento é muito grande”, afirmou em entrevista à GloboNews.
O embaixador ressaltou o discurso conjunto de Lula com os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Lopez Obrador, que assinaram uma carta cobrando de Maduro as atas detalhadas das zonas de votação – com o apoio da União Europeia.
Lula, Petro e Obrador devem fazer uma ligação em conjunto para Maduro ainda nesta quinta (8) para expressar o pedido da carta e pressionar pela divulgação das atas e fim da repressão à oposição. A chamada, no entanto, depende de negociações entre as quatro partes.
“Mais importante do que o telefonema para o Maduro […] é o entrosamento com o México e a Colômbia. Emitiram uma nota importante, foi incluída e mencionada pelo porta-voz da Casa Branca como prova dos esforços para continuar com o diálogo sobre as atas”, completou Amorim.
Amorim foi enviado a Caracas por Lula no último dia 28 de julho para acompanhar a votação, enquanto que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desistiu de mandar dois técnicos que iriam observar o processo eleitoral. O recuo ocorreu após Maduro questionar a lisura das urnas eletrônicas brasileiras, acusando de não serem passíveis de auditoria.
Lula, no entanto, não comentou a fala de Maduro contra o sistema eleitoral brasileiro. Dias depois, ele relativizou a fraude na eleição venezuelana, afirmando que “nada de anormal” aconteceu e que estaria “convencido” de que o processo eleitoral foi “normal” e “tranquilo”.
Celso Amorim diz que as “eleições em si transcorreram com calma”, e que depois ficou sabendo sobre restrições sofridas por alguns fiscais partidários. “É lamentável que as atas não tenham aparecido”, completou.
Fonte: gazetadopovo