O Senado dos EUA votou na quarta-feira (29) a favor de anular as autorizações de uso das Forças Armadas de 1991 e 2002, que permitiu inclusive ao ex-presidente norte-americano George W. Bush (2001-2009) invadir o Iraque em 2003.
Com 66 votos a favor, 30 contra e quatro abstenções, trata-se do passo mais significativo em anos para permitir ao Congresso se opor a uma eventual tentativa da Casa Branca de as usar para conduzir guerra no Oriente Médio.
“O inimigo contra o qual declaramos guerra em 1991 e [2002] não é mais; o Iraque é uma nação muito diferente” hoje, disse o senador Tim Kaine aos repórteres.
Kaine e o senador Todd Young, copatrocinador do projeto de lei, disseram que a anulação das autorizações é importante não apenas para fins de contabilidade em tempo de guerra, mas também para dar uma sensação de conclusão aos milhões de membros de serviço, como Mario Marquez, agora diretor da Divisão de Segurança Nacional da Legião Americana, que lutaram no Oriente Médio.
“Para os veteranos, temos que ter uma sensação, e um sentimento de que nosso serviço no país significava algo. Ao encerrar estas autorizações existentes, isso nos dá a sensação […] de que nossa missão era digna de nossa causa e de nosso sacrifício.”
No entanto, apenas 36% dos americanos acreditam que os Estados Unidos tinham razão em invadir o Iraque, de acordo com uma pesquisa do Axios/Ipsos realizada neste mês. Esse número contrasta fortemente com uma pesquisa da Pew Research de 2002, realizada nos meses anteriores à autorização do Congresso, que revelou que 73% dos americanos apoiavam a invasão do Iraque.
O ex-presidente Donald Trump invocou a autorização da guerra do Iraque de 2002 como parte de sua justificativa legal para assassinar em janeiro de 2020 o general iraniano Qassem Soleimani, então comandante da Força Quds do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). Kaine concorda que as autorizações de guerra permitem aos presidentes dos EUA contornar o Congresso na hora de permitir uma operação militar.
A Casa Branca emitiu uma declaração endossando a revogação, mas que isso não afetaria os 2.500 soldados americanos atualmente estacionados no Iraque. As tropas dos EUA estão atualmente no país para supostamente combater células adormecidas do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) sob uma autorização militar de 2001, aprovada pelo Congresso após os ataques de 11 de setembro nesse ano, para atingir a Al-Qaeda no Afeganistão.
Quatro presidentes utilizaram desde então a autorização militar de 2001 para justificar mais de 40 operações militares em pelo menos 19 países em todo o mundo, incluindo no Iraque e na Síria.
A Câmara dos Representantes e depois o presidente Joe Biden terão que aprovar todos a revogação, apesar de o último ter expressado apoio a ela. Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes, também disse aos jornalistas no domingo (25) que a revogação das autorizações de guerra precisaria passar pelo Comitê de Relações Exteriores.
“Teerã quer nos tirar do Iraque e da Síria. Por que o Congresso deveria tornar isso mais fácil? Enquanto o Senado tem se engajado neste debate abstrato e teórico sobre a queda do poder americano, o Irã tem continuado seus ataques mortais contra nós”, opinou na terça-feira (28) Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado.
A invasão do Iraque pelos EUA foi condenada pelo mundo afora e provocou, por várias estimativas, de centenas de milhares a milhões de vítimas mortais no total. Além disso, mais de 4.500 militares dos EUA morreram no país desde esse ano.
Fonte: sputniknewsbrasil