SC tem 4 das 5 cidades com metro quadrado mais caro do país. O que explica o fenômeno


O rápido crescimento da população, a confortável situação da economia do estado e o interesse de investidores por Santa Catarina estão impulsionando a indústria da construção e o mercado regional de imóveis. O estado abriga quatro das cinco cidades com o metro quadrado residencial mais caro do país.

Balneário Camboriú é a primeira da lista (R$ 13.145 por metro quadrado). Também no litoral catarinense estão Itapema (R$ 12.840), Florianópolis (R$ 11.261) e Itajaí (R$ 11.107). Os dados, referentes a maio, são do índice FipeZap. A única “top 5” de outro estado é Vitória, no Espírito Santo (R$ 11.312).

A valorização em um ano passou de 10% em seis das sete cidades pesquisadas no estado: Blumenau, Florianópolis, Itajaí, Itapema, Joinville e São José. A exceção foi Balneário Camboriú, que vinha de um ciclo de fortes altas nos meses anteriores.

A indústria da construção catarinense tem registrado números positivos. As vendas de imóveis cresceram 4% e os estoques diminuíram 6% na comparação entre os primeiros trimestres de 2023 e 2024. Os dados são de levantamento realizado pela consultoria Brain para a Câmara de Desenvolvimento da Indústria de Construção da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc).

Bom momento da economia local impulsiona construção e mercado imobiliário

O bom momento da economia estadual ajuda a expandir o mercado imobiliário. Segundo o Cadastro Geral de Empregados (Caged), quase 80 mil empregos formais foram gerados no estado de janeiro a abril, quase 42% mais que no mesmo período de 2023.

O estado vive uma situação de pleno emprego, com uma taxa de desocupação de 3,8%, a segunda menor do país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro trimestre, o rendimento médio mensal dos ocupados no estado era de R$ 3.707, com alta real de 1,6% em um ano.

Expectativas do mercado financeiro indicam que a economia catarinense, a sexta maior do país, vai crescer acima da média nacional. O Banco do Brasil projeta expansão de 2,7% no PIB estadual, enquanto a mediana das projeções para o PIB brasileiro é de 2,1%, segundo o mais recente boletim Focus, do Banco Central.

O principal impulso deve vir da indústria. A expectativa do BB é de que o PIB industrial de Santa Catarine aumente 4,2% neste ano.

“Isso vai contribuir significativamente para o crescimento da economia estadual. Santa Catarina tem a segunda maior participação da indústria no PIB entre os estados e é a segunda indústria mais competitiva do país”, afirma Marcelo Albuquerque, economista do Observatório da Fiesc.

Outros setores também estão se saindo bem. Dados do IBGE mostram que, no primeiro quadrimestre do ano, as vendas do comércio varejista ampliado, que inclui automóveis e material de construção, aumentaram 5,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. No país, a alta foi de 4,7%. O volume de serviços prestados cresceu 6,7%, quase o triplo do número nacional.

Imóveis em Santa Catarina são vistos como investimento

Um dos fatores que estimulam a construção civil e o mercado imobiliário catarinense é o grande fluxo de investidores buscando aplicar seus recursos ou diversificar seus portfólios. O agronegócio é um dos segmentos que mais buscam oportunidades em imóveis em Santa Catarina. “Temos muitos compradores de imóveis com esse perfil”, afirma Tatiana Cequinel, CEO da Embraed, uma das mais tradicionais construtoras de Balneário Camboriú.

O bom desempenho do campo nos últimos anos, com preços favoráveis para as commodities e boas safras, contribui. Apenas no ano passado, o PIB do setor cresceu 11,3%. “Santa Catarina tem uma boa reputação no agronegócio como destino de investimentos no setor imobiliário”, diz Marcos Bellicanta, presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria da Construção da Fiesc.

A indústria da construção está se beneficiado do ciclo de queda na taxa Selic, que começou em agosto, quando estava em 13,75% ao ano. Agora, está a 10,5% ano. Neste cenário, aplicações de renda fixa perdem em rentabilidade frente aos imóveis catarinenses.

Mas executivos da indústria da construção ainda esperam uma queda mais acentuada nos juros dos financiamentos imobiliários, que em abril estavam, em média, a 0,74% ao mês, segundo o BC.

A possibilidade de manutenção da taxa Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 17 e 18, não preocupa o setor. “Há uma certa defasagem na redução das taxas de juros dos bancos para os consumidores”, diz Thales Silva, diretor comercial da construtora Rôgga, de Joinville.

Ele espera que mais repasses da queda de juros cheguem ao consumidor. Negociações entre construtoras e instituições financeiras para a redução do custo de financiamento estão em andamento.

Perfil catarinense também ajuda

Segundo Alison Oliveira, coordenador do índice FipeZap, outros fatores contribuem para o bom momento do segmento imobiliário e, consequentemente, da indústria da construção. “Santa Catarina possui uma renda média mais alta em comparação com outras regiões do Brasil, o que se traduz em maior poder de compra e disposição para pagar mais por imóveis”, afirma.

Ele ressalta que o estado também apresenta altos índices de desenvolvimento humano, reflexo de melhor educação, saúde e qualidade de vida. “Essas características atraem novos residentes e investidores, elevando o preço dos imóveis”, acrescenta.

A crescente demanda por imóveis também está associada à migração para o estado. Dados do IBGE mostram que a população catarinense cresceu, em média, 1,7% ao ano entre os censos de 2010 e 2022, mais que o triplo da expansão média do país.

Um segmento que vem apresentando forte crescimento em Santa Catarina é o de aluguel por temporada, ou short stay. A Seazone, uma plataforma sediada em Florianópolis que conecta proprietários de imóveis a hóspedes, planeja crescer quase 25% neste ano.

A empresa, que também trabalha com estruturação de projetos imobiliários, observa um aumento no número de investidores que veem os imóveis como um patrimônio a ser valorizado e rentabilizado. Mônica Medeiros, sócia da empresa, aponta que até mesmo investidores mais jovens estão adotando esse comportamento, como forma de diversificar seus investimentos.

O foco são empreendimentos compactos. “São eles que oferecem o maior potencial de valorização. O rendimento pode ser maior que o de uma aplicação no Tesouro Direto, além da valorização do imóvel”, diz ela.

Mônica afrima que as cidades litorâneas com maior potencial de valorização são Florianópolis, Imbituba (Praia do Rosa), Garopaba, Bombinhas, Porto Belo, Piçarras, Penha e Itajaí (Praia Brava).

No interior, destacam-se Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, e Urubici, no Planalto Serrano. “Além do ecoturismo e das paisagens deslumbrantes, há amplas possibilidades para ciclismo e trilhas”, diz.

Litoral Norte é uma das áreas mais cobiçadas para imóveis em Santa Catarina

Uma das regiões onde a construção civil e o segmento imobiliário têm crescido com mais força é no Litoral Norte e em cidades próximas às praias da região, como Blumenau e Joinville. Duas das sete cidades com maior crescimento demográfico do país entre os censos de 2010 e 2022 estão nessa área: Barra Velha e Itapoá.

Além de investidores e do crescimento do turismo na região, a implantação de grandes empresas e de galpões logísticos, especialmente no entorno da BR-101, a principal via que corta o litoral catarinense de Norte a Sul, tem favorecido o desenvolvimento.

As microrregiões de Joinville e Itajaí vêm crescendo mais que o país e ampliando sua participação no PIB nacional. Segundo o IBGE, em vinte anos, a representatividade no PIB nacional da microrregião de Joinville passou de 0,66%, em 2002, para 0,76%, em 2021 (último dado disponível). A de Itajaí teve um salto, passando de 0,28% para 0,83%.

Marcos Bellicanta, da Câmara da Fiesc, observa que, diante dos preços da região de Balneário Camboriú, onde se projetam coberturas custando até R$ 120 milhões, muitos interessados têm migrado para cidades próximas, que são importantes polos econômicos, como Blumenau e Joinville.

O preço do metro quadrado de um imóvel residencial nessas cidades chega a ser quase a metade do praticado em Balneário Camboriú e entorno. Segundo o FipeZap, em maio o valor médio era de R$ 6.511 em Blumenau e de R$ 6.798 em Joinville.

O mercado começou o ano bem aquecido em Joinville, a maior cidade catarinense. Segundo levantamento da Brain, mais da metade dos apartamentos lançados no primeiro trimestre foi vendida. Foram comercializadas 723 unidades, o segundo melhor trimestre em vendas desde o início de 2022.

A venda de apartamentos cresceu 127% nos três primeiros meses do ano, comparativamente a igual período de 2023, atingindo R$ 436 milhões, mais de três vezes e meia o verificado entre janeiro e março do ano passado. O estoque de apartamentos para comercialização caiu 31% entre o fim do primeiro trimestre de 2023 e de 2024.

“O aumento nas vendas e a queda nos lançamentos fizeram o volume de estoque cair substancialmente na cidade. Este cenário, associado à maior escassez de terrenos e de mão de obra, acaba pressionando os custos e levando à clara tendência de aumento de preços. Além disso, há uma alocação, cada vez maior, de produtos orientados ao alto padrão na cidade, o que também impacta de modo geral nos preços médios de Joinville”, destaca Ana Rita Vieira, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Joinville e Região (Sinduscon).

A construtora Rôgga, de Joinville, vê boas oportunidades de ampliar os negócios no entorno da maior cidade catarinense. Também presente no Litoral Norte do estado, a empresa espera concluir o ano com um valor geral de vendas de R$ 1,2 bilhão. Recentemente, fez um lançamento em Jaraguá do Sul.

“Há uma forte economia local, com empresas de referência no cenário internacional e é uma região com muitos atrativos turísticos”, destaca o diretor comercial da empresa.

Mesmo com escassez de terrenos, mercado se mostra comprador em Balneário Camboriú

Oliveira, da FipeZap, destaca que cidades litorâneas como Florianópolis, Balneário Camboriú, Itapema e São José são altamente desejadas por suas belezas naturais e qualidade de vida. No entanto, o crescimento pode encontrar limites devido à disponibilidade de terrenos.

Esse é um problema já presente em Balneário Camboriú, onde não existem terrenos disponíveis à beira-mar. Um terreno de 286 metros quadrados, local da última casa de madeira de frente para o Atlântico, pode ter custado entre R$ 15 milhões e R$ 18 milhões no ano passado, conforme consulta realizada pela BBC Brasil a um corretor da cidade. No local, será construído um prédio de 12 andares.

Segundo o corretor Bruno Cassola, essa escassez tem elevado o custo dos novos empreendimentos. “Os lançamentos atuais são feitos em terrenos adquiridos há cinco, dez anos”, afirma. Pelo menos uma construtora adquiriu um prédio de 16 andares, à beira-mar, para demoli-lo e construir um edifício no local.

Apesar desse cenário, Cassola se mostra otimista com as expectativas do mercado imobiliário local, que se apresenta comprador. “Temos produtos que chegam a custar até R$ 60 milhões”, diz.

A estratégia para atrair interessados, como empresários, industriais, profissionais do agronegócio e outros investidores, passa pelo investimento em design. O escritório italiano Pininfarina, um dos principais do mundo, já participou de um projeto, as torres gêmeas do Yatchouse, com 81 andares e 281 metros de altura.

Outra estratégia, segundo Cassola, é agregar serviços ao empreendimento imobiliário. Uma tendência que pode se fortalecer em Balneário, a exemplo do que ocorre em lugares como Miami (EUA), é a oferta de serviços típicos de hotelaria, fornecidos por grandes redes, nos empreendimentos.

Tatiana Cequinel, CEO da construtora Embraed, também se mostra otimista com o mercado de Balneário Camboriú. “Estamos no local onde as pessoas têm a sua segunda casa”, afirma.

A empresa vê oportunidades de crescimento na cidade, que dependem de um trabalho minucioso para encontrar imóveis e terrenos onde possam ser construídos novos empreendimentos.

Ela também vê oportunidades na região. “É uma área que oferece chances de evolução. Itapema, por exemplo, é uma cidade em construção.” A empresa também está expandindo para outros mercados, como Curitiba e Maringá, e prevê lançamentos para os próximos cinco anos que possam gerar um valor geral de vendas de R$ 5 bilhões.

O preço do metro quadrado em algumas das principais cidades do país

  1. Balneário Camboriú (SC) R$ 13.145
  2. Itapema (SC) R$ 12.841
  3. Vitória (ES) R$ 11.312
  4. Florianópolis (SC) R$ 11.261
  5. Itajaí (SC) R$ 11.107
  6. São Paulo (SP) R$ 10.936
  7. Barueri (SP) R$ 10.241
  8. Rio de Janeiro (RJ) R$ 10.077
  9. Curitiba (PR) R$ 9.845
  10. Brasília (DF) R$ 9.180
  11. Maceió (AL) R$ 8.726
  12. Belo Horizonte (MG) R$ 8.709
  13. Vila Velha (ES) R$ 8.593
  14. São Caetano do Sul (SP) R$ 8.125
  15. São José dos Campos (SP) R$ 7.990
  16. Recife (PE) R$ 7.950
  17. Osasco (SP) R$ 7.553
  18. São José (SC) R$ 7.543
  19. Goiânia (GO) R$ 7.496
  20. Fortaleza (CE) R$ 7.417
  21. Niterói (RJ) R$ 7.071
  22. Santo André (SP) R$ 6.934
  23. Joinville (SC) R$ 6.798
  24. Santos (SP) R$ 6.776
  25. Porto Alegre (RS) R$ 6.726
  26. Manaus (AM) R$ 6.667
  27. Blumenau (SC) R$ 6.511
  28. Campinas (SP) R$ 6.461
  29. Diadema (SP) R$ 6.368
  30. João Pessoa (PB) R$ 6.324
  31. Guarulhos (SP) R$ 6.319
  32. São José dos Campos (SP) R$ 6.150
  33. Guarujá (SP) R$ 6.128
  34. Salvador (BA) R$ 6.082
  35. Campo Grande (MS) R$ 5.908
  36. Praia Grande (SP) R$ 5.860
  37. Caxias do Sul (RS) R$ 5.383
  38. Jaboatão dos Guararapes (PE) R$ 5.337
  39. São José do Rio Preto (SP) R$ 5.192
  40. Contagem (MG) R$ 5.065
  41. Canoas (RS) R$ 5.055
  42. São José dos Pinhais (PR) R$ 4.984
  43. Santa Maria (RS) R$ 4.924
  44. Novo Hamburgo (RS) R$ 4.906
  45. Londrina (PR) R$ 4.828
  46. Ribeirão Preto (SP) 4.685
  47. São Leopoldo (RS) R$ 4.581
  48. São Vicente (SP) R$ 4.329
  49. Pelotas (RS) R$ 4.211
  50. Betim (MG) R$ 4.008

Fonte: FipeZap

Fonte: gazetadopovo

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