O surgimento da variante Ômicron do coronavírus há cerca de um ano levou a pandemia da Covid-19 a um novo patamar. Ele foi seguido por novos picos de casos em todo o mundo, com pessoas sendo reinfectadas e estudos mostrando a queda da efetividade das vacinas na prevenção de infecções.
O grande número de mutações encontradas na superfície do vírus o tornaram tão diferente do original encontrado em Wuhan em dezembro de 2020 que alguns cientistas, como o médico infectologista e professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, Esper Kallás, discutem a possibilidade de classificá-lo como Sars-CoV-3.
Em uma palestra na 24ª Jornada Nacional de Imunizações SBIm 2022, que acontece entre 7/9 e 11/9 em São Paulo, Kallás defendeu a ideia de a pandemia da Covid-19 ser dividida em dois momentos: pré e pós surgimento da variante Ômicron.
“Até dezembro de 2021, a reinfecção por diferentes variantes era um evento praticamente raro. As vacinas vieram e foram extraordinárias na prevenção de mortes. Após a identificação da Ômicron, começou uma segunda pandemia e as outras variantes praticamente sumiram. A forma como isso aconteceu foi avassaladora”, afirmou o médico.
Estudos mostram que o vírus em circulação atualmente acumulou um grande número de mutações ao longo de sua evolução, principalmente na região denominada espícula viral. A área é usada pelo patógeno para se ligar às células humanas, invadi-las e se multiplicar.
A modificação tornou o vírus mais transmissível e capaz de escapar da defesa induzida por infecções anteriores pelo vírus original e demais variantes, bem como pelas vacinas baseadas neles. As subvariantes que surgiram em seguida – BA.2, BA.3, BA.4 e BA.5 – foram sucessivamente substituindo as anteriores.
“É um vírus praticamente diferente do encontrado em Wuhan e das variantes Alfa, Beta, Gama e Delta. Muitos pesquisadores discutem a ideia de classificá-lo, talvez, como Sars-CoV-3. A Ômicron seria uma variante diferente o suficiente para merecer essa consideração”, afirmou Kállas.
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Vacina bivalente
Com o surgimento de novas variantes, muito se discutiu sobre a necessidade de desenvolver uma nova geração de vacinas e qual seria a melhor abordagem para elas. As farmacêuticas Moderna e Pfizer/BioNTech saíram na frente nesta corrida. Elas foram as primeiras a lançarem imunizantes com fórmula bivalente – constituída de uma mistura da cepa original e da subvariante BA.1 da Ômicron –, com autorização de uso pelas principais agências reguladores internacionais, como a do Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia.
A Pfizer enviou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 19 de agosto, um novo pedido de autorização de uso emergencial da vacina atualizada. Os dados seguem em análise. Os resultados de novos estudos da Moderna e Pfizer/BioNTech sobre reforços reformulados, visando combater as subvariantes BA.4 e BA.5, atualmente dominantes, já foram enviados para revisão da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
“Eu acho que esse é o caminho: vamos ter que adaptar as vacinas. Acrescentar uma nova variante Ômicron dentro da composição é apropriado. É a recomendação do FDA (agência reguladora dos Estados Unidos). Em conversas com a Anvisa, a gente já vem notando esse mesmo tipo de delineamento e sugestão para o Brasil”, afirmou o professor.
O médico destacou que, enquanto as vacinas atualizadas não chegam, a população deve continuar a se imunizar com as opções disponíveis para garantir a proteção contra as formas graves da infecção e reduzir, consequentemente, o risco de morte.
“As vacinas que temos até agora ainda demonstram uma capacidade protetora contra doença grave. Não podemos dispensá-las”, enfatizou Kallás.
*A repórter Bethânia Nunes está em São Paulo, a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), para acompanhar a XXIV Jornada Nacional de Imunizações SBIm 2022.
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