São Jorge, o internacionalista: santo padroeiro é reverenciado em todo o mundo; confira

Soldado romano no exército do imperador Diocleciano, São Jorge de Capadócia ou São Jorge de Lida é um dos santos cristãos mais reverenciados no planeta, com sua importância reconhecida tanto no catolicismo quanto na ortodoxia, além do anglicanismo.

Nascido em Capadócia, região da Anatólia, hoje Turquia, Jorge foi educado cristão pela sua mãe, Policrômia. Combativo desde o nascimento, o homem que viria a se tornar um mártir da fé entrou para a carreira militar romana. Em pouco tempo subiu a hierarquia e se tornou guarda pessoal de Diocleciano. Na época, o Império Romano se encontrava dividido em quatro regiões administradas por augustos e césares, imperadores maiores e menores.

Por influência do césar Galério, Diocleciano decretou que todo soldado romano deveria seguir a fé do panteão politeísta romano, mas Jorge se manteve firme no caminho de Cristo. A princípio, Diocleciano ofereceu riquezas materiais ao soldado para dissuadi-lo. Jorge, entretanto, nunca teve apreço por coisas do gênero. É dito que após a morte de Policrômia, Jorge doou toda sua grande herança aos pobres.

Por conta disso, o imperador passou a torturá-lo para que renegasse Jesus e adorasse os deuses romanos. O mártir, contudo, jamais renunciou e sua demonstração de fé inabalável converteu muitos para o cristianismo, até mesmo Prisca, esposa de Diocleciano.

Após sua morte sob ordens do imperador, Jorge foi enterrado na cidade onde cresceu, Lida, na Palestina, hoje denominada como Lod e em controle israelense. Anos mais tarde, Constantino mandaria erguer um grande oratório para o mártir, de modo que fiéis e peregrinos pudessem visitar seu túmulo.

Canonizado em 494 pelo Papa Gelásio I, São Jorge se tornou, por conta de sua história e sua representação pictórica em que derrota um dragão, um dos santos mais conhecidos por cristãos das mais variadas denominações. Confira abaixo os principais celebrantes da vida de São Jorge.

Para começar, é claro, é preciso falar sobre a veneração a São Jorge em terras brasileiras, tradição que se originou durante a Idade Média em Portugal, onde é considerado um dos padroeiros do país. Por lá, festas de São Jorge são tradicionais em cidades como Évora.

Já no Brasil, o santo guerreiro fincou raízes no Rio de Janeiro, onde o dia 23 de abril é considerado feriado estadual. Na cidade, há 15 capelas ou paróquias dedicadas ao mártir, mas a primeira e mais importante fica localizada no bairro de Quintino Bocaiúva, na zona norte da cidade.

Foi em Ilhéus, na Bahia, contudo, que a primeira igreja dedicada à São Jorge foi construída no país em 1556. O estado, conhecido por sua forte influência africana, é apontado como um dos possíveis lares do sincretismo do santo católico com o orixá Ogum, presente nas religiões brasileiras de matriz africana.

O movimento de união entre ambas religiosidades não ocorreu somente no Brasil. Por todo Caribe, como Cuba, Haiti e Trinidad e Tobago, São Jorge é admirado em paralelo com a divindade africana.

São Jorge viveu toda sua vida na região da Palestina e Anatólia, então é claro que o santo teria um grande numero de admiradores pela região, em especial do Levante.

Sejam cristãos de denominações orientais, como a Igreja Ortodoxa Copta no Egito e a Igreja Ortodoxa Síria, sejam os de tradição ortodoxa bizantina, muitos celebram a data festiva dedicada ao mártir a partir do calendário juliano: 6 de maio.

Localizado em Lida, hoje Lod, em Israel, o túmulo de São Jorge recebe peregrinos de todo o mundo e até mesmo muçulmanos da região. Os seguidores de Maomé identificam no santo a figura de Al-Khidr, fazendo de São Jorge um importante nome para o Islã levantino.

Á África Ocidental, região mais afetada pelo tráfico de escravos transatlântico, não é o único ponto do continente onde a imagem de São Jorge é forte no imaginário local.

Acredita-se que por influência egípcia, seja de religiosos cristãos ou muçulmanos, o santo passou a ser adorado também na Etiópia, onde a Igreja Ortodoxa Etíope se dividiu da Copta e é hoje a maior igreja ortodoxa oriental. O mesmo teria ocorrido na Eritreia, que se separou da Etiópia em 1993.

Um dos grandes símbolos da admiração pelo mártir na Etiópia é a Igreja de São Jorge de Lalibela, um complexo de 11 construções esculpidas na pedra e considerada um patrimônio da humanidade.

Venerado pelas grandes matrizes cristãs, São Jorge goza de grande admiração entre os povos eslavos do Leste Europeu e dos Balcãs. Na Moldávia, Bulgária, Sérvia e Montenegro ele é considerado um padroeiro do país e é lembrado nas festividades em sua homenagem.

Já em países com populações de diferentes religiões, como Bósnia e Herzegovina e Macedônia do Norte, ele é lembrado em diversas festividades. Na Sérvia, ele é também considerado o santo de devoção de cerca de um terço dos fiéis.

Na Rússia ele é extremamente venerado dentro da Igreja Ortodoxa Russa, sendo considerado o padroeiro da cidade de Moscou, que carrega em seu brasão a típica imagem do santo montado em seu cavalo matando um dragão com uma lança.

É dito que o grande príncipe Yury Dolgoruky, ou Jorge I de Kiev, considerado fundador de Moscou, era devoto do santo. Símbolo nacional, na Federação da Rússia existe hoje a condecoração militar da Cruz de São Jorge, dada por mérito no âmbito militar.

Assim como os demais ortodoxos já citados, nesses países as datas de celebração do santo seguem o calendário juliano, isto é, 6 de maio.

Na Geórgia e na Armênia, dois países do Cáucaso com grande tradição cristã, São Jorge é celebrado com grande fervor.

Na Armênia, tida como a primeira nação cristã, as celebrações do santo guerreiro ocorrem em setembro, junto a outras festividades como a Festa da Santa Cruz de Varak. Já na Geórgia, país que não só leva o nome do santo como tem em sua bandeira estampada a Cruz de São Jorge, há duas festas para o santo.

A primeira é junto ao calendário juliano em 6 de maio. A segunda, cara à nação, acontece em 23 de novembro, quando é lembrada a tortura infligida ao mártir.

Tal como a cruz vermelha de São Jorge está na bandeira da Geórgia, a mesma também estampa a bandeira inglesa. No país britânico o santo soldado rivalizou até mesmo com o rei Arthur como figura nacional.

A tradição de culto a São Jorge antecede a cisão da igreja inglesa, tendo aparecido na ilha britânica no século VII e atingiu seu auge no século XVI. Atualmente, há um movimento de resgate pela tradição de culto ao santo, tido como um marco cultural inglês.

Dentre as áreas que mais admiram São Jorge, talvez a região autônoma da Catalunha, na Espanha, seja a mais diferente.

Enquanto no resto do país celebrações seguem a mesma veia da que ocorre no vizinho Portugal, resgatando o seu aspecto guerreiro, na Catalunha o dia 23 de abril é uma espécie de Dia dos Namorados, com comemorações dedicadas ao amor e à cultura.

Isso se deve ao fato de que, na história contada pelos catalães, Sant Jordi oferece à princesa uma rosa nascida do sangue do monstro derrotado. Em sua homenagem, homens dão às mulheres rosas nesse dia e, em troca, estas os presenteiam com livros. Por conta disso, o dia também é conhecido como “Dia do Livro e da Rosa”.