Segundo a publicação, Tell Abraq nunca fez parte de grandes sistemas estatais como o da Mesopotâmia, mas um estudo recente de arqueólogos italianos sugere que o assentamento estava intimamente integrado às redes comerciais e culturais da região.
As ruínas do antigo assentamento de Tell Abraq localizam-se na costa oeste dos Emirados Árabes Unidos e constituem um dos sítios arqueológicos mais importantes do Golfo Pérsico.
Um novo estudo confirma duas fases principais de intenso intercâmbio intercultural: uma no final da Idade do Bronze (por volta de 1600–1300 a.C.) e outra entre os séculos I e III d.C.
Uma das descobertas mais marcantes é uma estrutura monumental de pedra construída entre o final do século XIV e o início do século XIII a.C. Surpreendentemente duráveis, suas paredes foram unidas por uma argamassa cuja técnica era desconhecida por qualquer outro povo da região.
De acordo com a equipe de pesquisa liderada por Michele Degli Esposti, da Academia Polonesa de Ciências, essa edificação é diferente de qualquer outra conhecida na Arábia.
No seu interior, os arqueólogos encontraram um esconderijo de cerâmicas importadas, em particular jarros de tamanho médio feitos de argila arenosa densa, típica do sudeste do Irã.
Dois desses jarros trazem selos cilíndricos com iconografia associada ao sul da Mesopotâmia e ao Elam. As estampas, com motivos detalhados gravados em argila úmida antes da queima, confirmam a origem estrangeira dos recipientes.
Em um dos edifícios, os arqueólogos identificaram cavidades no solo especialmente moldadas para acomodar os jarros, o que indica que mercadorias importadas foram armazenadas e processadas ali por certo tempo.
Os pesquisadores sugerem que o local não era apenas um depósito, mas provavelmente um ponto de controle comercial, uma espécie de posto de fiscalização que monitorava o fluxo de mercadorias pelo sudeste da Arábia em um período em que o comércio no Golfo Pérsico dependia fortemente de influências externas.
Já nos séculos I a III d.C., Tell Abraq deixou de ser composto por edificações residenciais ou oficinas e passou a abrigar pequenos templos com altares ao ar livre. Em um desses edifícios, os arqueólogos descobriram uma coleção notável de artefatos.
No coração desse santuário, os arqueólogos encontraram uma combinação incomum de objetos que atesta as conexões de longo alcance do local: estatuetas de barro e bronze feitas em estilo helenístico, moedas de bronze de cunhagem local circulando ao lado de imitações cuidadosamente elaboradas de áureos romanos, estátuas de pedra e muito mais.
Esses achados revelam uma densa rede de interações que ligava o sudeste da Arábia ao Levante, no Mediterrâneo, ao sul da Mesopotâmia, à Índia e à Península Arábica. O santuário era, aparentemente, um ponto de trânsito espiritual para mercadores que viajavam por terra e mar, semelhante ao templo do deus Sol nas proximidades, em Ed-Dur, onde os comerciantes buscavam proteção divina antes de embarcar em travessias perigosas pelo Golfo Pérsico.
Os pesquisadores também identificaram um padrão claro: o fluxo de mercadorias exóticas para Tell Abraq aumentava acentuadamente durante períodos de forte presença política externa no Golfo Pérsico. Apesar disso, o local permaneceu estável e adaptável, mudando de função conforme as tendências geopolíticas, de centro residencial a posto de controle comercial e, posteriormente, a santuário sagrado.
A modesta colina onde se ergue Tell Abraq acabou se revelando como um ponto-chave nas redes globais da Antiguidade: um lugar onde mercadores de regiões longínquas paravam para descansar, negociar, adorar e seguir viagem pelas águas que ligavam os continentes, conclui a publicação.
Fonte: sputniknewsbrasil










