Salvem as peruas! Chevrolet Ipanema e Fiat Elba se enfrentaram em 1990


Peruas são projetadas para oferecer o máximo de espaço para bagagem, principal meta do usuário que se decide pela compra de um veículo com essas características. E a Ipanema, da Chevrolet, derrubou o mito da Fiat Elba, que ostentava até agora a maior capacidade volumétrica de carga. Agora, são 1.520 litros para a Ipanema contra 1.480 da Elba — ambas com bancos traseiros rebatidos.

Cada uma, no entanto, apresenta características próprias, como a comodidade da Elba com quatro portas e mais espaço para carga no teto, com bagageiro de fábrica, e ainda o importante detalhe da cobertura do porta-malas, evitando a curiosidade dos olhares dos assaltantes.

Para a Ipanema, destacamos a modernidade de linhas; o maior espaço aproveitável no porta-malas; excelente estabilidade direcional; total confiança nas curvas; freios dianteiros a disco ventilados e o sistema de suspensão regulável, que permite manter a perua à mesma altura do solo, quando carregada com carga máxima.

Outra vantagem da Ipanema: excelentes amortecedores a gás na porta traseira, que facilitam sua abertura. Na Elba, a abertura da porta de serviço exige bastante esforço, provocando desconforto ao usuário. A Ipanema conta com dispositivo sonoro que avisa o motorista quando ele sai do veículo e deixa as lanternas acesas. Já a Elba apaga automaticamente as luzes quando se desliga a chave de ignição.

Em pontos negativos a Elba dá quase de goleada. A Fiat, às vezes, esforça-se em alguns pontos, mas peca terrivelmente em outros. Por exemplo, o cuidado em diminuir o nível de ruído interno com uma boa forração no capô do motor é louvável. Mas vidros de acionamento elétrico nas portas dianteiras e manual nas traseiras? Seria economia? E os vidros nem descem até o nível da janela…

Se a Elba sai de fábrica sem alarme contra ladrões – um equipamento praticamente obrigatório (assim como o rádio) nos dias de hoje –, no comparativo não fez muita diferença, pois a Ipanema tinha alarme, que, no entanto, não funcionava.

Mas o que dizer ao leitor sobre o problema da montagem do rack no teto da Elba? Ela exige um curso de especialização em quebra-cabeças. O pior é que ele não inspira confiança e sempre dá a impressão de que tudo vai cair na primeira curva. As hastes longitudinais são fixas no teto. Até aí tudo bem. Mas as transversais são de encaixe e dificilmente se encaixam nos devidos lugares. Outro problema que aconteceu durante o teste foi a teimosia da porta traseira da Elba, que dá acesso ao porta-malas, que insistiu em se abrir constantemente.

Voltando à Ipanema, consideramos seu spoiler dianteiro um pouco baixo demais, batendo no chão em qualquer freada mais brusca ou nas constantes lombadas que povoam as ruas de São Paulo. Além disso, o fato de só ter duas portas compromete o conforto de acesso ao banco traseiro.

Nas coisas boas, ambas têm pontos altamente positivos. A Ipanema traz mais tecnologia: volante de direção regulável em altura; regulagem também da altura do banco; luzes de cortesia com sistema temporizador (isto é, quando desligada a chave, os comandos ainda funcionam por alguns segundos); rádio toca-fitas com código secreto, que fica em poder do proprietário; direção hidráulica, um conforto sempre muito desejado; baixo nível de ruído; alto desempenho mecânico; e excelente estabilidade direcional.

As novidades da Elba CSL São, em primeiro lugar, as quatro portas. Podemos destacar também a boa posição das teclas que acionam os vidros elétricos só nas portas dianteiras. O painel oferece boa visibilidade e o sistema satélite, tradicional na linha Uno, foi abandonado, o que é uma pena, pois sua funcionalidade agradava bastante aos usuários da marca.

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O novo sistema volta ao tradicional de outras marcas e não compromete. A suspensão mereceu atenção da fábrica e sofreu alterações de geometria, que tornaram a Elba mais silenciosa e confortável. Para o porte da perua da Fiat, sua motorização corresponde quanto às boas arrancadas e segurança nas ultrapassagens, além de oferecer ao usuário um baixo nível de consumo de gasolina.

O lançamento da Elba de quatro portas é uma resposta da Fiat à tendência demonstrada pelo Prêmio CSL, de crescimento de demanda de veículos de quatro portas. Aliás, sorte do Prêmio, com quatro portas, que continuará reinando sozinho em seu segmento, já que a Volkswagen desistiu de lançar o Voyage de quatro portas.

Esteticamente, a Elba CSL mostra-se plenamente coerente com as quatro portas laterais, ostentando um perfil ao mesmo tempo leve e bonito. Sua chegada ao mercado preencheu uma lacuna no segmento das station wagons de porte médio, pois não só é a única no segmento mas também em todo o mercado a dispor de versões de três e cinco portas.

Outra novidade da linha é o novo motor 1.6 ACT, que garante mais agilidade, desempenho compatível e potência suficiente para transportar, com folga, até 460 kg em seu porta-malas, com capacidade para 610 e 1480 litros, com o encosto do banco traseiro basculado.

Outra modificação introduzida diz respeito às lanternas traseiras, que passaram a ter a seção dos piscas em fumê, além de calotas plásticas nas rodas que imitam muito bem rodas de liga-leve.

O Chevrolet Ipanema, por sua vez, utiliza a mesma plataforma do Kadett, mantendo a mesma distância entre-eixos de 2,50 m, com comprimento total de 4,20 m, que resulta em 23 cm a mais que os 4,00 m do próprio Kadett. Como consequência, o produto chegou ao mercado oferecendo um dos maiores volumes de carga para veículos de sua categoria: 1.520 litros, com os bancos traseiros rebatidos, e 790 litros com os bancos na posição normal.

A polêmica sobre o design da perua GM merece atenção do leitor. Quem se detém a examinar o perfil da Ipanema, com sua frente rebaixada, em forma de cunha, e a traseira cortada num ângulo de quase 90 graus, logo percebe a ousadia de seu estilo, que é inovador e arrojado. Pois é justamente esse design diferenciado que lhe assegura uma aerodinâmica surpreendente, expresso por um dos menores coeficientes de arrasto para veículos de sua classe: somente 0,35, que é inferior até mesmo ao Cx de muitos automóveis.

A Ipanema passou por rigorosos testes de túnel de vento, cujas análises possibilitaram uma redução da sensibilidade a ventos laterais, a forças com efeito de sustentação e à tendência ao acúmulo de sujeira nos vidros, faróis e lanternas traseiras.

Outro detalhe interessante é a tecnologia dos vidros colados, para melhorar a aerodinâmica do veículo.

Uma das exclusividades da Ipanema é a suspensão traseira regulável, que no caso dos veículos com maior capacidade de carga é ainda mais importante para assegurar sua estabilidade. O sistema, opcional para a versão testada, a SL/E, permite o nivelamento manual da altura do veículo por meio do enchimento de ar do sistema de pressão dos amortecedores traseiros.

Esses amortecedores possuem um boot de borracha, que pode ser inflado para compensar a eventual perda da altura livre do solo, quando o veículo está carregado, ou desinflado em seu uso normal. A operação é simples e consiste no uso do bico de ar comprimido existente no porta-malas, que pode ser feita em qualquer posto de reabastecimento.

A Ipanema dispõe, ainda, de um bagageiro opcional, cuja fixação no teto é feita em quatro pontos especiais, que são acessíveis por meio de exclusivas tampas corrediças existentes em dois frisos do próprio teto. Bastante prático, esse bagageiro aumenta ainda mais a excepcional capacidade de carga do veículo.

Quem utiliza uma perua como veículo para trabalho e lazer, geralmente, aciona com frequência a porta de serviço, a porta traseira. Neste caso, a preocupação da GM com amortecedores a gás, para facilitar a manobra de abertura da tampa traseira, lhe traz vantagem sobre a sua concorrente da Fiat. Por outro lado, os passageiros da Elba são privilegiados em conforto pelo fácil acesso proporcionado pelas suas quatro portas.

Outros detalhes destacados entre as duas peruas, às vezes, evidenciam equilíbrio de soluções e, em outros casos, grandes diferenças entre elas, talvez mais ao gosto de cada comprador. No entanto, um detalhe que nos recusamos a comentar, já bastante malhado nesta tribuna, diz respeito aos recursos da eletrônica de bordo.

Em nenhum dos veículos até hoje testados por Autoesporte esses equipamentos de check control, computador de bordo e outros acessórios eletrônicos funcionaram com perfeição como deveriam, já que se dizem fruto de alta tecnologia. Até hoje os fornecedores desses equipamentos, apesar dos malhos da imprensa especializada, jamais se manifestaram oficialmente, e as montadoras aceitam pacificamente as queixas e reclamações dos usuários, que pagam a mais por tais informações adicionais e nunca as recebem com a devida segurança e qualidade.

Comparativo publicado originalmente na edição 302, de julho de 1990.

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Fonte: direitonews

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