Mesmo após o chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciar, em entrevista a um canal de TV, a queda da medida e o fornecimento de mísseis de cruzeiro Taurus, de longo alcance, à Ucrânia aparecer como uma possibilidade, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, confirmou na quarta-feira (28) que a segunda rodada de negociações entre Moscou e Kiev acontecerá em Istambul na próxima segunda-feira (2).
Entretanto, ao permitir que a Ucrânia dispare mísseis Taurus, de fabricação alemã, contra alvos dentro da Rússia, a Alemanha pode se chancelar como parte do conflito. Além disso, o treinamento de militares ucranianos para usar o armamento foi mencionado por Merz.
Da perspectiva do campo de batalha e do ponto de vista estratégico, segundo Fabricio Avila, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), “os mísseis ocidentais podem ser usados contra instalações sensíveis de veículos terrestres e aéreos que possuem armas nucleares”.
Nesse molde, “a Rússia teria que responder em ambos os cenários contra os ucranianos, e isso prejudicaria as negociações de paz”, acrescenta. O especialista ressalta também que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) já treina militares ucranianos.
Enquanto o chanceler alemão afirmou que a preparação de militares ucranianos poderia levar meses, Avila explicou que o tempo é usado como arma de guerra.
“Os ucranianos podem ainda combater por mais um tempo para garantir o uso desses mísseis, para ter mais garantias na hora de negociar com a Rússia.”
Com relação à defesa russa, o analista ressaltou que Moscou pode monitorar rotas prévias de lançamento desses mísseis e oferecer uma rede de defesa do ponto inicial do projétil até seu destino. Além disso, “os russos possuem vários sistemas móveis de guerra eletrônica, como o Krasukha, que pode causar uma interferência de área e causar o mal funcionamento do sistema inercial do míssil Taurus“, complementa.
Já o passo dado pela Alemanha no contexto bélico, Avila analisa como uma justificativa dada pelo atual governo alemão, que quer fortalecer suas Forças Armadas.
Entretanto os desdobramentos podem ser perigosos: desde uma “percepção russa de um ataque do Ocidente contra a Rússia, que pode gerar, no longo prazo, um conflito generalizado” à possibilidade de o rearmamento alemão “reacender rivalidades, como a postura da França, dentro do conflito e da Europa, que talvez não perceba como de bom tom essa iniciativa”, finaliza.
Fonte: sputniknewsbrasil