A equipe econômica da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul) deverá se reunir com o Ministério da Fazenda nesta quarta-feira, 21 de agosto, para mais uma vez tratar do futuro do agronegócio do Rio Grande do Sul. Embora a luta para que os líderes do setor, um dos mais importantes para a economia sul-rio-grandense, seja constante para que a esperança seja maior do que o receio, tem sido difícil manter o ritmo, em especial neste momento em que as discussões tomaram um tom bastante ideológico.
Como explica o economista chefe da Farsul, Antônio Da Luz, a ideologia superou as necessidades mais urgentes dos produtores rurais gaúchos, o que ficou ainda mais evidente depois da última entrevista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva à Rádio Gaúcha na última semana, em que, mais de uma vez, Lula reforçou que seus dois últimos governos e também o governo Dilma Rousseff teriam sido os que mais ofereceram recursos ao agronegócio brasileiro, além de ter atacado o setor .
“Aqui no Rio Grande do Sul, tivemos pessoas ligadas aos sindicatos, ao agronegócio, à federação, que sempre foram muito sectárias, muito anti-governo. Eram anti-Olívio Dutra, anti-Tarso Genro, anti-Lula, anti todo mundo (…) Então, estas pessoas que estão reclamando, algumas podem ter razão, mas a verdade é que já atendemos muita gente do agronegócio. E eu duvido que houve, em algum momento da história política deste país, tanto recurso para o agronegócio como nos governos Dilma e Lula”, disse o presidente.
E a resposta, mais uma vez não veio. Afinal, nem todas as respostas dependem de dinheiro exatamente. Como explicou o senador Ireneu Orth (PP-RS), neste momento é impossível mensurar exatamente o tamanho das perdas que o agronegócio gaúcho acumula, já que muitos bem, ao menos por enquanto, são imensuráveis. “Há muitos produtores que sofreram com a lixiviação da terra, e muito não conseguirão repor, não conseguirão retomar seus níveis de produtividade. Há os prejuízos daqueles que estavam a beira dos rios, daqueles dos quais as chuvas levou a terra, a casa, os animais. Então, tentar medir isso tudo é muito arriscado, não vai ser um número seguro”, diz.
Além disso, o parlamentar cita ainda a dificuldade que os produtores continuam enfrentando para garantirem que tenham a “desnagativação” de seu nome para que, em algum momento, busquem soluções alternativas. E embora afirme que os produtores estejam muito organizados e atuando com resiliência diante das esferas públicas, teme que alguns possam ser “vencidos pelo cansaço”. Mais do que isso, lamenta em dizer que vê com mais receio do que esperança a reunião da próxima quarta-feira no Ministério da Fazenda.
Reveja a entrevista na íntegra:
Assim, “a grande dificuldade agora é ideológica”, afirma Da Luz. A opinião é também do Senador Orth, que complementa dizendo que no momento em que Lula fez suas declarações “colocou-se em pé de guerra com a agricultura, em especial a agricultura do Rio Grande do Sul”. Mais do que isso, deixou clara sua preocupação com as palavras do presidente e é enfático ao explicar que, por mais que haja reuniões com ministros para o alcance de medidas eficazes de amparo aos produtores rurais gaúchos, estes encontros continuarão a esbarrar “no chefe, que é quem tem a chave do cofre”.
TRÊS ANOS DE PROBLEMAS ACUMULADOS
Dos bons resultados que se apresentaram na safra 2021 de soja – tanto de produção, como de preços – do Rio Grande do Sul, os problemas vieram se acumulando para os produtores do estado, o que os faz pedir com uma urgência ainda mais latente pelas medidas de apoio do Governo Federal.
Em 2022, o estado foi acometido por uma seca devastadora, com o registro da maior perda de safra por conta de estiagem na história sul-rio-grandense. No entanto, neste ano, ainda como lembra Antônio Da Luz, o orçamento do seguro rural havia sido elevado pela então ministra da Agricultura Tereza Cristina, havia um bom funcionamento do Proagro, o que fez com que “uma parte do problema os produtores tenham conseguido amenizar”. Além disso, a soja registrou bons momentos de vendas, com preços na casa dos R$ 200,00 por saca, o que também contribuiu para que as perdas de faturamento fossem menores do que as perdas de faturamento.
Mais do que isso, em 2022, os resultados com o trigo no Rio Grande do Sul também foram fortes, diante de uma boa safra chegando em um momento de valorização dos preços do cereal, principalmente nos primeiros meses após o início da invasão da Rússia à Ucrânia.
“Então, sobrou um dívida que era pequena, a bola de neve estava pequena em 2022”, explica o economista chefe da Farsul.
Já em 2023, as perdas de safra foram muito abrangentes e “sem seguro, com o Proagro descaracterizado”, como explica o representante da federação, que complementou dizendo que no ano passado, os custos de produção foram os mais altos da história, além da safra de trigo “ter sido um desastre”, provocando um bolsão de endividamento. “O governo não fez nada, nem uma nota de solidariedade”.
Nesta ocasião, Farsul promoveu uma reunião com os agentes financeiros, onde se acordou com os bancos que as dívidas seriam parceladas, de acordo com as necessidades e características de cada indivíduo, com os parcelamentos sendo feitos em até cinco anos. Com isso, “os produtores, portanto, vieram para a safra 2024 com certa tranquilidade. Conseguimos tirar aquela bola de neve de cima deles naquele momento, apostando tudo na safra 2024, porque ninguém acreditava que poderíamos ter uma terceira safra frustrada, mas foi isso que aconteceu”, detalha Da Luz.
Neste ano, uma parte considerável da safra que já havia sido colhida antes do evento das enchentes já estava comercializada a preços baixos, praticados no primeiro semestre e, do que não foi colhido, uma parte se perdeu. “Então, como já era um ano de margens baixas, o produtor perdeu a margem e não constituiu uma receita”, em especial nos municípios mais afetados pelas cheias históricas de 2024. “Mesmo que ele colhesse 100%, as margens já estavam estreitas. E o excesso de chuvas levou as margens. Então, esses produtores não conseguiram fazer uma margem para pagar o custeio deste e mais as parcelas das renegociações passadas. Aí a coisa entrou em colapso”, lamenta Antônio Da Luz.
MOVIMENTO SOS AGRO RS
Conhecendo mais do que ninguém os problemas e medos que vêm enfrentando e tendo que reconhecer que as medidas que são apresentadas não atendem às suas necessidades mais urgentes, os produtores rurais do estado iniciaram o Movimento SOS Agro RS. A iniciativa responde por milhares de agricultores de todos os portes e, ainda como explicou o economista chefe da Farsul, “se não fosse o SOS Agro RS não teríamos avançado nem isto que se avançou. O movimento tem que fazer a parte dele, que é ir pra rua, manifestar e cobrar. E nós, como entidade, temos que fazer a nossa, que é a parte política e técnica”.
Nesta semana, depois de quatro atos já realizados e uma reunião de seus líderes com autoridades em Brasília, o movimento tem a perspectiva do envio de novas caravanas para a capital federal e, como explica Lucas Scheffer, seguir participando ativa e efetivamente de todos os processos, objetivando medidas eficientes e que atendam já aos produtores rurais, em especial para que possam pelo menos fazer a próxima safra no estado.
Em um pequeno resumo divulgado nesta segunda-feira (19) pelo SOS Agro RS, o movimento listou alguns dos objetivos e resultados alcançados desde que a iniciativa foi lançada, entre elas a Medida Provisória 1247/2024 e as Emendas, as quais são insuficientes para atender ao pleito dos agricultores gaúchos.
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Sobre estas emendas – as quais passaram de 100 apresentadas por deputados e senadores – a perspectiva do senador Orth é de que sejam analisadas e votadas até 16 de setembro, que é o novo prazo de vencimento das parcelas de custeio e investimento – resultado de uma resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) da última semana. Ele explica que muitas vieram “repetidas” e, por isso, aglutinadas, o que fará com que, efetivamente, um número de menor de emendas seja realmente avaliado. “E o tempo é muito curto, ainda mais em um ano eleitoral”, disse.
Ademais, as conquistas listadas pelo SOS AGRO RS são:
– MP 1247/2024 e as Emendas (Insuficiente, não atende as necessidades do agricultor);
– Decreto 12 138 e Resolução CMN 5 162 (Insuficiente, não atende as necessidades do agricultor);
– Visibilidade do movimento e conscientização dos segmentos econômicos do Estado;
– Chamou a atenção da classe política e autoridades em Brasília;
– Provocou uma Audiência Pública da Comissão Externa sobre Danos Causados Pelas Enchentes no RS;
– Reunião com o Ministro da Agricultura e com o Sub-Secretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda;
– Conquistou respeito e apoio da população e de lideranças empresariais e políticas
De outro lado, os líderes do movimento trouxeram também quais são os planos e metas futuras, as quais incluem a reunião de quarta-feira com o ministro Fernando Haddad. Em detalhe:
– Terça-feira, 20, reunião com o Ministro Paulo Pimenta;
– Quarta-feira, 21, reunião no Ministério da Fazenda;
– Quinta-feira, 22, reunião com os Bancos na tentativa de agilizar os créditos agrícolas;
– Ato público de conscientização na Expointer;
– Organizar lista dos ônibus para viagem a Brasília na prineira semana de setembro
“O objetivo agora em regime de urgência é a votação das emendas a MP 1247. As medidas anunciadas pelo governo não contemplam a retomada da atividade agrícola e são insuficientes sob o ponto de vista econômico, financeiro e jurídico”, afirma o Movimento SOS Agro RS.
Entre os dias 19 e 23 de agosto, sempre às 16h (horário de Brasília), o Notícias Agrícolas trará cinco reportagens especiais sobre a atual situação do agronegócio do Rio Grande do Sul e do produtor gaúcho. Acompanhe!
Fonte: noticiasagricolas