Embora esses profissionais tenham trabalhado anteriormente em defesa da Meta, posicionando-se contra a regulação das big techs (grandes empresas de tecnologia), sua contratação agora visa justamente atuar sobre a regularização dessas empresas no país.
Para Claudio Marcellini, professor e especialista em inclusão digital, essa mudança de função não deve ser encarada com uma visão simplista, mas sim como uma tentativa legítima de enfrentar um desafio complexo.
“A grande verdade é que em qualquer acordo ou contrato só as duas partes sabem realmente quais são os interesses envolvidos”, afirma Marcellini.
Ao analisar o papel desses ex-funcionários, ele sugere que, em vez de um cavalo de Troia, pode-se estar buscando interlocutores que realmente compreendem as dinâmicas corporativas dessas gigantes tecnológicas. Esse entendimento seria, segundo ele, fundamental para o processo de regulação que está em andamento.
Com um olhar atento para a história recente e as movimentações no cenário político, Marcellini destaca que o governo brasileiro tem, ao longo dos últimos dois anos, discutido possíveis taxações e formas de colaboração com as big techs.
“Ao menos na teoria, isso representa um avanço em relação à inércia que marcou o início dessa trajetória”, diz ele, reconhecendo a necessidade de ação, ainda que muitas vezes sem a clareza que o tema exige.
Por que profissionais das big techs?
Entretanto, surge a pergunta: por que, em vez de buscar profissionais de fora, o Brasil não aposta mais fortemente em especialistas locais? A resposta de Marcellini, que tem mais de 25 anos de experiência no campo digital, é que o Brasil enfrenta a escassez de profissionais altamente qualificados.
Ele aponta que muitos especialistas, com formações técnicas em áreas como engenharia da computação e análise de sistemas, acabam se distanciando da prática constante e das necessidades reais do usuário, o que compromete sua atuação no campo da regulação digital.
“O universo digital é muito dinâmico. As tecnologias e as necessidades mudam o tempo todo. Não basta ter uma graduação e fazer carreira como professor ou gestor em empresas tradicionais. É preciso estar no campo, entender o usuário e suas dores”, explica Marcellini.
Para ele, a falta de profissionais com esse conhecimento prático e atualizado faz com que o governo tenha que recorrer, em algumas situações, a especialistas estrangeiros.
Além disso, ele questiona o papel da política na escolha dos profissionais que ocupam cargos no governo, apontando que muitas vezes esses especialistas são indicados mais por conexões políticas do que por seu real conhecimento da área. Essa é uma realidade que, segundo o especialista, precisa ser repensada. Ele reconhece, no entanto, que a escolha de profissionais locais seria mais indicada.
“Especialistas locais que conhecem a realidade da sua região podem ter um impacto muito maior na regulação das big techs. São eles que sabem lidar com as questões culturais, legislativas e, principalmente, humanas”, enfatiza Marcellini.
A conclusão do especialista é clara: a regulação das big techs não pode ser tratada apenas como uma questão tecnológica, mas também como uma questão profundamente humana.
“Sistemas não são apenas tecnologias, são pessoas. Você precisa entender as pessoas para criar soluções mais adequadas”, finaliza, reafirmando sua visão de que o Brasil precisa formar mais especialistas com uma visão holística e prática sobre o uso da tecnologia no cotidiano dos cidadãos.
Fonte: sputniknewsbrasil