Um episódio icônico foi o recente discurso do chanceler alemão Olaf Scholz na Universidade de Praga, em que o político interligou a necessidade de implementar reformas na UE e os planos de expandir a união para leste (para corresponderem às fronteiras da OTAN).
Ao longo dos últimos meses, tanto as autoridades europeias como os líderes dos “Três Grandes” (Alemanha, França e Itália) têm falado abertamente sobre a necessidade de abandonar o princípio da unanimidade na tomada de decisões na União Europeia. Hoje, esse princípio está em vigor quando se trata das questões da política externa, defesa e tributação.
Assim, segundo o autor, testemunhamos mais uma possível perda de soberania política dos Estados-membros da União Europeia. O problema é que, além de muitos cidadãos europeus, até os governos, representados por elites nacionais, se manifestam contra a medida.
Os países do Norte e Leste da Europa, tais como a Dinamarca, Polônia, Irlanda e Hungria, embora possam ter motivos diferentes, manifestam um ceticismo comum nesta questão. Entre os que não querem perder a sua soberania há quem considere demasiado importante a preservação da sua identidade (como a Hungria) e há os que querem evitar a “ditadura” dos numerosos “parentes pobres” do Leste. Apesar de tal discordância, em meio ao conflito na Ucrânia, Berlim e Paris tiveram que forçar o processo.
Ao mesmo tempo, crescem os apelos para admitir na UE novos países-membros, não só aqueles aos quais já se tinha prometido a perspectiva de adesão, mas também aqueles cujas chances tinham sido consideradas mínimas. Os apelos insistentes ao ingresso da Ucrânia na União Europeia, a fim de conter a “agressão russa” levaram Emmanuel Macron, no início de maio, a propor formar uma comunidade política europeia, para admitir em um certo espaço comum os países europeus que estão ainda longe de aderir à UE. Todos entenderam que, antes de mais nada, se tratava da Ucrânia, e Macron nem sequer tentou escondê-lo.
“Todos bem sabemos que o processo que permitirá à Ucrânia aderir à União Europeia na realidade pode levar décadas“, disse.
Assim, em junho foi concedido à Ucrânia o status de país candidato à União Europeia, mas o gesto apenas teve um caráter propagandista, já que, mesmo em um futuro longínquo, a perspectiva de ingresso da Ucrânia no bloco parece quase impossível, inclusive devido à discordância de certos países europeus. Mas isso importa apenas se lhes perguntarem. E se não?
É isso que afeta de forma direta os interesses da Rússia. Segundo o jornalista da Sputnik, a questão não é o futuro europeu, a forma do seu governo (federal ou unitário) ou até o grau de autonomia dos Estados nacionais. Até não se trata das tentativas de construir uma nova “Cortina de Ferro” separando a UE da Rússia.
Trata-se de um processo muito mais alarmante: a tentativa da União Europeia de mudar as fronteiras históricas entre ela e o “mundo russo”.