Projeto que prevê R$ 400 milhões até 2030 em aporte para negócios socioambientais anuncia escolhidos


O Programa Territórios Regenerativos anunciou os primeiros três negócios de impacto socioambiental que receberão recursos. Lançada no fim de 2021, a iniciativa prevê a destinação de R$ 400 milhões até 2030, com R$ 20 milhões distribuídos por cada um dos 20 territórios e ecossistemas do país.

Para começar o projeto, os idealizadores Trê Investindo, Fundación Avina e Parsifal21, em parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, selecionaram a Grande Reserva Mata Atlântica, área que compreende 60 municípios entre os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

O modelo de investimento escolhido para estimular os negócios inclui empréstimos coletivos peer-to-peer (pessoa-para-pessoa), formato que tenta aliar taxas mais acessíveis aos empreendedores e retorno financeiro aos investidores. E também um fundo solidário, para o qual pessoas físicas e jurídicas podem doar capital.

Por ora, somente a Fundação destinou recursos para o fundo, no valor de R$ 600 mil – outros R$ 400 mil estão previstos para 2023. De acordo com Guilherme Karam, gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, há tratativas também para que outros doadores coloquem dinheiro no fundo. Ele não especificou o porte desses novos parceiros.

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Além de financiar projetos e negócios diretamente, o fundo também funciona como um colchão financeiro. Caso algum negócio não consiga arcar com o pagamento aos investidores, o fundo auxilia no processo.

Quais são os negócios escolhidos e o que fazem

Ao longo do processo de seleção, os idealizadores escolheram três empreendimentos que atendem a critérios de preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável.

São eles:

  •   Espaço na Mata – localizada em São José dos Pinhais (PR), a empresa captou R$ 57.740,50 em empréstimos coletivos. Os recursos vieram 41 investidores e foram obtidos em 13 dias na plataforma de empréstimo. A empresa trabalha com locação de espaços para eventos sociais e corporativos, sob o viés de compromisso com a sustentabilidade e em parceria com as comunidades locais.
  •  Olha o Peixe! – De Pontal do Paraná, o Olha o Peixe! é um serviço de entrega de produtos da pesca artesanal que procura aproximar o pescador do consumidor. No modelo do negócio, a empresa define o valor do pescado com os pescadores locais e os produtos são negociados por um clube de assinaturas ou vendas via internet.A iniciativa não trabalha com espécies ameaçadas de extinção, usa embalagens ecológicas e oferece informações técnicas sobre os produtos. Ao todo, em 20 dias, foram captados R$ 98.049,91 com 53 investidores. Os recursos serão usados para melhorar o caixa, ampliar a equipe e gerar mais visibilidade para a marca.
  • Banamel – de Morretes, município do Paraná, o empreendimento criou um doce 100% natural, o melado de banana, batizado de banamel. Para a produção, a marca utiliza apenas frutos de produção orgânica agroflorestal, da agricultura familiar e de regiões com alta produção, preferencialmente aquelas com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os resíduos do banamel são reutilizados em linhas de geleia, vinagre, ração animal, produtos de limpeza e artesanato.

    A iniciativa recebeu R$ 43 mil do fundo filantrópico, dinheiro que será investido na locação de uma cozinha industrial e para ajudar no aumento da produção de banana agroflorestal nas propriedades de famílias parceiras.

Como foi o primeiro ano do Programa

Anunciado em dezembro de 2021 e com previsão de aportar R$ 400 milhões até 2030, o programa terminou dezembro direcionando recursos na ordem de R$ 200 mil.

Entre os motivos para a baixa destinação dos investimentos, os idealizadores colocam o impacto que os negócios da região da Mata Atlântica, forte em turismo, sofreram com a pandemia de Covid-19, e ainda a maturidade dos negócios e a relação entre impacto social e ambiental.

“Encontramos muitos empreendedores que tem ideias, mas não conseguem passar para o estágio de validação. Para além, devido ao baixo índice de formalização e acesso à educação financeira e empresarial como um todo, a maioria dos negócios não conseguem passar do ‘vale da morte’ em que se atinge e ultrapassa o ponto de equilíbrio”, afirma Júlia Camargo, Gestora de projetos da Trê Investindo com Causa.

De acordo com a executiva, um passo importante para fomentar e avançar com o programa passa por investir em educação financeira, administrativa e ambiental dos empreendedores, além de promover novas articulações com entes públicos e privados na região para fomentar a entrada de novos recursos.

“A gente entende que, em um primeiro momento, os negócios precisam de mais filantropia, mais apoio e mais doação para, depois de um tempo, conseguirem captar financiamento por meio de estruturas de crédito nas quais eles precisam devolver o dinheiro”, diz Karam, da Fundação Grupo Boticário.

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