A pedido da presidente do Peru, Dina Boluarte, o Congresso unicameral peruano aprovou a entrada de 600 militares dos EUA para reforçar a segurança do país durante a 36ª Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que acontece entre os dias 10 e 16 de novembro.
As tropas estadunidenses chegam ao país nesta segunda-feira (4) e terão permissão para ficar até o dia 24. Além dos 600 soldados, estão previstos quatro helicópteros Black Hawk MH-60, quatro aviões AWACS e dois B-747-200B (VC-25).
Com um dos contingentes mais numerosos a pisar no Peru, até mesmo quando comparado aos enviados para exercícios militares, é provável que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viaje para a cúpula. A presença do líder norte-americano, no entanto, não é justificativa para a presença de tamanho contingente estadunidense no país.
O pedido de Boluarte vem em meio a um agravamento da crise interna no Peru. A própria presidente viu sua taxa de desaprovação subir para 92% nos últimos meses. Inicialmente vice-presidente de Pedro Castillo, Boluarte assumiu após uma grave crise institucional atingir o país em 2022.
Desde então, a líder peruana vem enfrentando protestos populares relacionados a escândalos de corrupção, crime organizado e violência policial.
© AP Photo / Martin MejiaManifestante é detido e jogado na traseira de um veículo policial durante confrontos em Lima, Peru, em 19 de janeiro de 2023. Os manifestantes buscam eleições imediatas, a renúncia de Dina Boluarte, a libertação do presidente deposto Pedro Castillo e justiça para até 48 manifestantes mortos em confrontos com a polícia
Manifestante é detido e jogado na traseira de um veículo policial durante confrontos em Lima, Peru, em 19 de janeiro de 2023. Os manifestantes buscam eleições imediatas, a renúncia de Dina Boluarte, a libertação do presidente deposto Pedro Castillo e justiça para até 48 manifestantes mortos em confrontos com a polícia
© AP Photo / Martin Mejia
A partir desse ponto de vista, Boluarte pode estar receosa de novas manifestações durante a cúpula da APEC. Convocações do tipo já foram feitas pela oposição. Mas a verdade é que a segurança desses eventos “já levam em conta que pode haver algum incidente em função de protestos domésticos”, diz à Sputnik Brasil o cientista político, jornalista e professor de relações internacionais Bruno Rocha Lima.
Para Lima, o pedido de socorro das autoridades em Lima reflete muito mais a “lógica do império na América Latina”.
“Há um esforço permanente do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa dos EUA em ampliar sua presença dentro do Estado profundo dos países latino-americanos. E no Peru não é diferente.”
Nesse contexto, o professor lembra que nos últimos anos a China se tornou uma grande parceira dos países da América Latina. No Peru, China e EUA figuram na primeira e segunda posições, respectivamente, entre os parceiros comerciais do país andino. A terceira posição é ocupada pelo Brasil.
Mais importante do que o fluxo comercial, há os investimentos em infraestrutura feitos por Pequim através da Iniciativa Cinturão e Rota. A cerca de 80 quilômetros de Lima, a estatal chinesa Cosco está prestes a inaugurar o porto de Chancay, que pode redesenhar o tráfego das exportações em todo o continente.
Desse modo, o convite engendrado pelos norte-americanos para que seus militares façam a segurança da APEC é “um recado, uma demonstração de força” dos EUA para a China e até mesmo para a Rússia, duas grandes potências que integram o fórum.
É como se os estadunidenses dissessem que os fluxos comerciais podem ser direcionados à Ásia, “mas a hegemonia financeira, cultural e militar é de Washigton, e não tem conversa”, destaca o pesquisador.
“É uma demonstração de que os Estados Unidos têm incidência direta na política doméstica e nos arranjos intergovernmentais dos países, de que na América Latina eles que mandam.”
Fonte: sputniknewsbrasil