Potencial bomba atômica sul-coreana ‘demarcaria linha divisória intransponível’ entre as Coreias


Essas tensões incluem a Coreia do Sul, que recentemente tem tido cada vez mais adeptos entre a população ao desenvolvimento de armas atômicas.
O país já desenvolve tecnologia nuclear de ponta, como reatores de fusão nuclear, mas é um dos signatários do TNP desde 1975. Entretanto, o atual presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, anunciou recentemente que um programa de armas nucleares pode ser necessário para conter a ameaça da Coreia do Norte, que já possui bomba atômica.
Por ora, a guerra entre os dois países tem sido de troca de balões carregados de lixo, mas uma eventual bomba atômica em ambas as nações teria consequências extremamente negativas para a península coreana, de acordo o presidente do Centro de Estudos Songun Brasil e graduando em energia nuclear na UFRJ, Lucas Rubio, e a especialista em estudos brasileiros pela Hankuk University of Foreign Studies e doutoranda em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), Eunjae Kim.
Em entrevista para o programa Mundioka, da Sputnik Brasil, eles citaram como um dos motivos para a maior aceitação da sociedade sul-coreana à nuclearização do país a perda de confiança com o antigo aliado, os EUA.

“Existe certo temor por parte dos sul-coreanos de que em uma situação de guerra na península coreana, os Estados Unidos não sejam suficientes ou capazes de responder à altura, ou no momento oportuno. Ou que a Coreia do Norte, que é detentora de armas nucleares e termonucleares, uma determinada posição no jogo geoestratégico, que para os Estados Unidos não seja interessante devolver um ataque e deixe o caminho aberto para a Coreia do Norte atacar nuclearmente a Coreia do Sul”, comentou.

A especialista em relações internacionais acrescentou que os sul-coreanos também veem os Estados Unidos pouco envolvidos militarmente em conflitos regionais e locais como entre Rússia e Ucrânia, Israel e Hamas.

“Os Estados Unidos praticamente nunca usaram suas armas nucleares desde 1945. Então, usá-las para proteger Seul, mesmo com a possibilidade de o próprio território dos Estados Unidos também ser atacado pelo norte, levanta dúvida.”

A possível vitória do candidato republicano para a presidência dos EUA, Donald Trump, também pode ser um fator de temor para Coreia do Sul, ressaltou Kim, ao lembrar que o ex-presidente já declarou que retiraria tropas do país asiático e cobraria por serviços de segurança.
O atual governo, de direita, com posicionamento radical anti-Coreia do Norte, é outro fator que encoraja a discussão, segundo os entrevistados.

“Os sul-coreanos estão passando pelo momento do extremismo. Acabaram de ter um governo, que foi o do presidente Moon Jae-in, que era um governo mais ameno, mais tranquilo, equilibrado, e agora estão no momento do extremismo. Esse tipo de discurso, [na linha de] ‘vamos construir uma bomba atômica para nos posicionarmos contra a Coreia do Norte’, ganha força dentro das secretarias, dos ministérios na Coreia do Sul”, disse Rubio.

Impactos ‘desastrosos’ de conflito entre Coreias do Norte e Sul

Ambos os estudiosos declararam que a nuclearização da Coreia do Sul traria impactos desastrosos para a península asiática.
“Demarcaria uma linha divisória intransponível […] Seria o caos e o fim da civilização, assim, o fim da ideia de uma civilização reunificada”, opinou Rubio. “Com certeza. Seria desastroso para o mundo no geral, mas principalmente para a situação regional. Com essa configuração que nós temos hoje, já está desastroso dessa maneira, com bombas atômicas dos dois lados, isso não resolveria a questão”, acrescentou.
Além disso, salientaram os analistas, abandonar o TNP seria altamente prejudicial para a economia sul-coreana.

“A Coreia do Sul enfrentaria sanções, o mundo não iria, por conta da sua posição estratégica, ignorar esse aspecto que é muito complicado. Ela sofreria tantas sanções que tornaria inviável a construção de um programa nuclear”, pontuou o especialista.

Kim também falou das consequências para a região como um todo.
“Ter arma nuclear em si tem significado, mas se a Coreia desenvolver uma arma nuclear, a gente vai ter que se preocupar com outros vizinhos do leste asiático, além do norte, vão acabar participando na corrida armamentista”, acrescentou ela.
A especialista comentou que Coreia do Sul se beneficiou de maneira relevante com os termos de segurança com os EUA e sua consequente inserção econômica no mercado mundial desde o estabelecimento de tratado de defesa mútua em 1953.
Por outro lado, ponderou, o ônus tem sido um alto nível de dependência militar e econômica também assimétrica que a Coreia do Sul criou em relação aos Estados Unidos. Logo, disse ela, ao executar uma estratégia nuclear independente prejudicaria a aliança com os Estados Unidos.

“Quem vai decidir o uso dessa arma não vai ser a Coreia do Sul, mas sim os Estados Unidos, porque são eles que têm o controle operacional nos tempos de guerra.”

Apesar das pressões e tensões, Rubio argumentou que ainda existe um movimento forte na Coreia do Sul que condena a política de enfrentamento da Coreia do Norte, influenciada pelos EUA.
“Se você dá uma rápida pesquisa na web, você acha sempre, todos os anos, quando vão ter os exercícios militares, conjuntos Coreia do Sul e Estados Unidos, as pessoas saem às ruas, na Coreia do Sul contra isso, as pessoas se posicionam. É também retrato de uma sociedade cansada, desse vai e vem, dessa inflexão a todo momento”, frisou ele.

EUA versus China

Uma saída defendida por Kim para o país ganhar autonomia em relação aos EUA seria uma aproximação com a China, que se tornou o maior parceiro econômico da Coreia do Sul. Além disso, destacou, a China também é o maior parceiro e aliado da Coreia do Norte.

“Então, caso a Coreia do Sul busque pacificação na península coreana, ter a China, pelo menos na distância, para poder dialogar e resolver um problema militar será essencial […] Tem ocorrido isso independentemente de regime e orientação política, de ver diferença de orientação política, dos dois partidos [majoritários], porém, isso tem sido um pouco diferente, tem sido bastante difícil no atual governo sul-coreano de Yoon Suk-yeol.”

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Fonte: sputniknewsbrasil

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