Pós-graduação abre oportunidades a indígenas e quilombolas


Teresinha Valéria da Silva, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), prepara um estudo etnográfico com as mulheres do Quilombo Mata Cavalo de Cima e Mutuca. O local é parte do complexo que reúne seis comunidades no município de Nossa Senhora do Livramento, a 60 km de Cuiabá. Bolsista da CAPES, ela foi aprovada no edital de seleção de ações afirmativas, pensado para criar oportunidades, incentivar a formação de excelência e promover a permanência de pesquisadores indígenas e quilombolas na instituição.

 “Na minha pesquisa, investigo as técnicas e as artes transmitidas pelas mestras de saberes para as novas gerações, como o uso de ervas medicinais na produção de remédios e cuidados com a saúde, que hoje são utilizadas dentro da própria comunidade”, conta Teresinha. “Esse projeto é fundamental para nós, quilombolas, que estamos na terra. É capaz de trazer visibilidade aos saberes que nós aprendemos no dia a dia”, destaca. 

Para a pesquisadora, fazer a pós-graduação estimula  outras pessoas dos quilombos a seguir o caminho até a universidade. “Podemos incentivar os nossos filhos e netos a estarem na faculdade. Hoje eu sou professora, convivo na comunidade, e tenho o papel de incentivar as pessoas”, ressalta. A bolsa da CAPES é importante nesse processo: “A política da CAPES é fundamental para que tenhamos condições de permanecer na universidade, o que não é fácil. Existem despesas e precisamos do apoio do governo. Se nós temos política para isso, a universidade é o lugar que precisamos estar”.

O curso de Mestrado em Antropologia Social da UFMT existe há dez anos. Criado em 2013, nasceu voltado às ações afirmativas para assegurar o acesso de indígenas e quilombolas na formação de nível superior de qualidade. Critérios socioeconômicos, étnicos e linguísticos foram adotados nos editais de seleção e nas políticas de concessão de bolsas. “Uma ação principal para os estudantes indígenas é a não obrigatoriedade do exame de proficiência em língua estrangeira, pois eles são bilíngues, ou falam três línguas, ou quatro línguas. As bolsas da CAPES são fundamentais como política de inclusão e permanência de estudantes provenientes de aldeia indígena ou de comunidades quilombolas”, destaca Sônia Regina Lourenço, professora e supervisora do Museu Rondon de Etnologia e Arqueologia (Musear), espaço acadêmico de pesquisa, ensino e extensão.

Um dos objetivos do mestrado é fixar no estado pesquisadores em uma área que tem poucos formados. “Sempre tivemos muitas pesquisas sobre o Mato Grosso neste tema, mas não com pesquisadores daqui”, explica Moisés Lopes, coordenador do curso que tem 30 alunos e um dos focos é o estudo dos povos tradicionais. “Temos um grande número de indígenas que foram fazer doutorado em outras instituições, como USP e UFRJ. Também há um numeroso quantitativo de profissionais que atuam hoje em diversos órgãos do estado, nas áreas de saúde, meio ambiente e outras”, acrescenta.

No Mato Grosso, com três diferentes biomas (pantanal, cerrado e floresta amazônica), há 60 comunidades quilombolas e 43 povos indígenas, além de populações ribeirinhas. “O curso vem justamente para tentar fazer pesquisas que envolvam a diversidade ambiental e populacional, e mostrar a relevância desses grupos que foram subordinados e sofreram violência durante séculos no País”, reforça Moisés. “As ações afirmativas têm bastante cuidado em atender e facilitar o acesso, o processo de orientação e a permanência desses estudantes”, acrescenta Sônia.

Com dados da CGCOM/CAPES

Fonte: ufmt

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