Jady Peroni, minha colega de Autoesporte, abre sua avaliação do Porsche 911 GT3, publicada na edição 709, da seguinte forma: “Existem experiências impossíveis de esquecer na vida”. Como às vezes falta ao redator imaginação (algo fundamental para um escritor), melhor ir no certeiro. Portanto, optei por repetir a receita. Até porque existem mesmo experiências impossíveis de esquecer na vida. Uma delas é guiar o Taycan Turbo GT — carro mais rápido já feito pela turma de Stuttgart e já testado por Autoesporte.
À venda no Brasil por R$ 1,53 milhão, o Taycan Turbo GT tem absurdos 1.108 cv de pico de potência, capazes de arrancar sorrisos até dos mais carrancudos. Por isso mesmo, foi capaz de dividir meu calejado coração. Até então, o Porsche que dominava meus ventrículos e átrios era a geração 992 do 911 GT3 — com seu 4.0 seis-cilindros boxer e aderência descomunal. Só que o Taycan Turbo GT tratou de conquistar um lugar especial dentro deste meu órgão muscular tão frágil.
E a paixão foi arrebatadora. Dei algumas voltas com o esportivo elétrico equipado com o pacote Weissach (falarei mais adiante sobre ele) em nossa pista de testes, o Rota 127 Campo de Provas. Sob um sol escaldante, resplandecia a carroceria com sua pintura roxo Sky metálica. O suor descia pelas minhas têmporas, mas eu não estava nem aí.
O Porsche Taycan Turbo GT tem dois motores síncronos de ímãs permanentes, um na frente e outro atrás. Este último entrega 109 cv a mais que o predecessor e é pouco mais de 10 kg mais leve. Para maior eficiência, o esportivo elétrico também conta com inversor de pulso de carboneto de silício no eixo traseiro.
Mas chega de enrolação. Vamos ao que interessa. Recebo as instruções sobre a pista e deixo os boxes. Logo na primeira arrancada com o Taycan Turbo GT, noto que a potência “base” de 789 cv é transferida quase instantaneamente para o chão. Mesmo pesando 2.220 kg, o sedã é soltinho e apresenta excelente distribuição de peso.
Ajuda também, e muito, o Porsche Active Ride — nele, de série. Além de erguer a carroceria para facilitar embarque e desembarque, a ótima suspensão ativa da Porsche deixa o Taycan Turbo GT muito bem aprumado. A rolagem é quase imperceptível e o sistema compensa muito bem as inclinações nas curvas, acelerações e frenagens.
Ao pisar até o fundo do curso do acelerador, em uma arrancada, sinto o carro firme no chão e a gostosa pancada do torque “base”, de 126,5 kgfm. E os excepcionais freios de cerâmica seguram com tranquilidade o esportivo, demandando apenas 32,1 metros para ir de 100 km/h até a imobilidade. A estabilidade é, de fato, um dos pontos altos desse Porsche.
O referido pacote Weissach confere uma leve dieta ao Taycan Turbo GT: ao remover itens como os bancos traseiros, colocando no lugar revestimentos de carbono, baixa 70 kg de seu peso. A fibra também marca presença nos retrovisores, nas colunas B e nos bancos dianteiros. Além disso, o modelo troca diversos elementos de aço por alumínio. Um exemplo são as rodas aro 21 forjadas.
Na parte aerodinâmica, destaque para os defletores de ar dianteiros, que notadamente reduzem a resistência ao arrasto. Parece, veja você, que o Taycan Turbo GT “corta” o ar com tranquilidade absoluta.
Tal “fatiada” foi devidamente comprovada por Alexandre Silvestre, o “Careca”, nosso piloto de testes, que colocou o Taycan Turbo GT à prova e obteve dados impressionantes em ambiente controlado.
Usualmente, nas passagens de zero a 100 km/h, veículos elétricos apresentam perda de desempenho de uma tentativa para a outra, em decorrência da queda na autonomia e da menor quantidade de energia. Mas isso não aconteceu com o Taycan Turbo GT.
O esportivo apresentou números muito próximos em todas as passagens, com média de 2,3 segundos contra 2,2 s anunciados pela fabricante. Vale frisar que, em nosso teste, os pneus ficaram cobertos por borracha deixada por outros carros na pista, o que compromete um pouco o resultado. Outro ponto de destaque foi o zero a 1.000 m feito em meros 17,7 s. Sim, o Porsche Taycan Turbo GT é o carro mais rápido que já passou por nosso crivo.
Mas não é apenas nas acelerações, retomadas e frenagens precisas que o modelo impressiona. Na traseira, um spoiler com aba Gurney gera entre 140 kg e 220 kg de pressão aerodinâmica. Desse modo, além de contar com a ajuda da suspensão ativa, o condutor tem um carro muito bem controlado em curvas acentuadas e retomadas.
Bom reforçar que o Taycan Turbo GT é “coladinho” ao chão, com perda de potência quase nula em retomadas no caso de uma eventual falta de aderência. Os pneus, 205/65 ZR 21 na dianteira e 305/30 ZR 21 na traseira, tracionam com muito equilíbrio. Não à toa, o comportamento do esportivo é firme quase o tempo todo. Tudo bem que, dado seu peso, é normal sentir uma saída de frente aqui e acolá, mas sua dinâmica é impecável.
E temos ainda algumas brincadeirinhas. Com o overboost do controle de largada, o modelo recebe um “tiro” de potência e sobe para 1.034 cv. Já no Attack Mode, acionado por um botão ou na aleta do volante, atinge 1.108 cv. Com os modos especiais acionados, a cavalaria em baixa é assustadora, capaz de fazer o motorista dar um sorrisão daqueles. Assim, mesmo guiando de forma comedida, rompi os 200 km/h com facilidade (em uma pista de testes fechada, lembremos!).
Agora vamos à parte monótona. As baterias são de 105 kWh, garantindo autonomia de 442 km (Inmetro). Devido à arquitetura elétrica de 800 Volts, uma recarga entre 10% e 80% pode ser feita em 18 minutos em estações rápidas (DC) de até 320 kW.
Pronto. Deixo o habitáculo minimalista dando gargalhadas involuntárias, tamanha a diversão. O calor que fazia no Rota 127 já deixara de ser um problema fazia tempo.
Existem mesmo experiências impossíveis de esquecer na vida. O primeiro contato com o Porsche mais rápido já testado por Autoesporte é como o primeiro beijo, a aprovação no vestibular, um abraço em quem amamos. Alegria em estado puro. Esse carro é, sem dúvida, uma chave para a felicidade.
Pontos positivos: Desempenho brutal, mas com muita estabilidade e equilíbrio; ótima capacidade de frenagem;
Pontos negativos: Taycan Turbo GT é pesado e, apesar da bateria grande, autonomia é pequena se você acelerar muito.
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Fonte: direitonews