Por que o Brasil recebeu tantos e tão importantes carros importados em 1995?


Se você for um daqueles entusiastas que têm como passatempo predileto caçar classificados de carros antigos na internet, certamente já reparou como todos os modelos importados exóticos, peculiares e esquisitos em oferta são de 1994 ou de 1995. Sabia que não é uma coincidência? Há uma explicação bastante lógica e objetiva para isso, mas é preciso voltar a 1990 para entender.

Foi naquele ano que o mercado brasileiro voltou a abrir suas portas para os carros importados. Porém, havia um detalhe importantíssimo: a alíquota de importação era de proibitivos 85% — ou seja, sem contar frete, lucro do vendedor e outros tantos impostos, um carro que custasse, como referência, o equivalente a 100 mil dinheiros no país de origem, já passava a custar 185 mil dinheiros só para entrar no Brasil.

Com isso, praticamente só modelos importados de alto luxo acabaram chegando por aqui logo na abertura, para atender aqueles compradores que tinham tanto dinheiro que uma taxa desse tamanho não representava um impedimento. Os números deixam isso claro: em 1990, só 115 carros importados vieram para o Brasil.

Nos anos seguintes a taxa de importação começou a cair lentamente, mas ainda era alta: em 1991 foi reduzida para 60%; em 1992, para 50% e depois 40%; e em 1993 chegou a 35% (a mesma que temos hoje). Assim, o volume de importados por aqui passou a crescer: em 1993, com exceção dos veículos vindos da Argentina, foram importados quase 44 mil carros; em 1994, 150 mil.

Em meados de 1994 o Brasil assinou um acordo com os demais países do Mercosul para reduzir aos poucos a alíquota de importação de automóveis (vindos de qualquer lugar do mundo). O cronograma previa que, partindo daqueles 35% em vigor desde 1993, o imposto seria reduzido em três pontos porcentuais no ano seguinte e em mais dois pontos porcentuais por ano pelos seis anos seguintes.

Ou seja: em 1995 a alíquota cairia para 32%; em 1996, para 30%; em 1997, para 28%; em 1998, para 26%; em 1999, para 24%; em 2000, para 22%; e, em 2001, chegaria a 20%, patamar que seria mantido dali para a frente. Esse recuo escalonado era uma forma de dar tempo à indústria nacional para se adaptar e conseguir competir com a turma dos importados de igual para igual.

Só que estamos no Brasil — e aqui parece que nada segue o rumo previsto ou combinado. Simplesmente deu a louca no governo federal e, em setembro de 1994, alguém teve a brilhante ideia de reduzir o imposto de importação para 20% de uma vez só, sem escalonamento. E o mais incrível é que essa medida foi tomada com efeito imediato. Desse modo, o imposto de importação caiu direto de 35% para 20%.

Aí os importados começaram a chover no mercado brasileiro, já que o imposto não representava mais um grande impeditivo — e a queda foi quase toda repassada aos preços. Todo mundo começou a trazer carro importado para o Brasil, fossem as próprias montadoras, fossem lojistas independentes.

E então se formou uma espécie de clube dos importados favoritos. Sem dúvida, os SUVs e picapes eram os preferidos, pois na rua chamavam mais atenção do que um disco voador. Nessa turma se destacavam Jeep Grand Cherokee, Chevrolet SS-10, Dodge Ram, Ford F-150, Chevrolet Suburban e outros. Depois vinha o grupo dos esportivos: Ford Mustang, Chevrolet Camaro, Mitsubishi 3000 GT e Pontiac Trans-Am pareciam brotar do chão nas cidades brasileiras.

A galera do mercado premium, é claro, não ficava para trás, com uma profusão de BMW e Mercedes-Benz de todos os modelos e versões possíveis, além de Alfa Romeo 164, Audi A6, A8 e Cabriolet, Jaguar XJ6 e XJ12, Cadillac Seville, Volvo 850 e 960, Ford Taurus e por aí vai. Havia a impressão de que esses modelos davam em árvores, de tanto que começaram a aparecer por aqui.

Até os JDM ganharam um bom espaço, representados especialmente pelos Civic coupê e Del Sol e pelo Mazda Miata. Em resumo, foi uma grande festa.

A alegria, porém, durou pouco. O pessoal do governo, em especial do Ministério da Fazenda, percebeu que baixar tanto a alíquota de uma vez havia sido um erro. Só que, aí, também abusaram no ajuste. Já em fevereiro de 1995 (cinco meses depois da redução) a alíquota de importação voltou a subir para 32%. E logo depois, em março (apenas um mês depois), veio a paulada: o imposto de importação foi elevado para 70%!

Foi-se o imposto baixo, ficaram os números: em 1995 entraram no Brasil 327 mil carros importados, descontando os da Argentina. Em 1996, com a alíquota nova, o volume desceu para menos de um terço disso. Aliás, um número de importados igual ao de 1995 só se repetiria 16 anos depois, em 2011, ajudado pelo grande volume de carros mexicanos.

Quanto à alíquota de importação, ela voltou a ser reduzida aos poucos: foi a 65% em 1996, 60% em 1997, 45% em 1998 e 35% em 1999, e assim permanece até hoje. Aqueles 20%? Nunca mais, meus amigos.

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Fonte: direitonews

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