Via @diariodonordeste | Advogadas que foram assediadas por um policial penal estão temerosas que novos ataques possam acontecer. Segundo elas, o agente de segurança retornou ao trabalho nas unidades prisionais do Ceará neste mês. As profissionais estão deixando de atender clientes e até mesmo tomando medicação por medo de encontrar o assediador em atendimentos jurídicos.
Entre 2020 e 2022, o homem fez contatos frequentes por ligação telefônica falando sobre atos sexuais, detalhes sobre as roupas que as vítimas usavam e até mesmo tentava marcar encontros nos endereços delas.
Em novembro de 2022, o policial penal se apresentou à Delegacia de Assuntos Internos. Ele entregou atestado médico com diagnóstico de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), com vício em pornografia e erotização da figura feminina.
A reportagem do Sistema Verdes Mares (SVM) questionou a Secretaria da Administração Penitenciária o motivo do retorno do agente as atividades, mas o órgão não esclareceu.
Em nota, a pasta declarou apenas repudiar “qualquer ato que ofenda a dignidade e o exercício profissional das mulheres. A SAP também pontua, como princípio, que respeita e é colaboradora dos trabalhos desempenhados pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança”.
MEDO FEZ ADVOGADAS FECHAREM REDES SOCIAIS E MUDAREM DE ENDEREÇOS
A advogada Ivna Alencar declarou ter entrado em “desespero” e a ter “crises de ansiedade” ao saber do retorno ao trabalho do agente penal.
“Passei a ter crises de ansiedade por que ele sabe que foi eu que identifiquei ele. Ele anda armado. Ele tem porte de arma. Então, assim, uma pessoa que é capaz de fazer isso, acredito que seja capaz de algo bem pior. Até porque ele sabe quem foram as advogadas que depuseram contra ele, né? Eu me mudei. Tive que fechar minhas redes sociais. Atualmente, eu estou perdendo meus clientes que estão presos onde ele tá atuando
A profissional conta que descobriu que o policial penal está trabalhando justamente em uma unidade prisional onde ela possui uma grande número de clientes. “Então, eu fui obrigada por receio, por estar em situação de risco, a deixar de atender lá. Eu tenho evitado. Só de pensar em ir lá, eu ja sinto um mal estar muito grande. Comecei a tomar remédios pra ansiedade para controlar isso que eu sinto”.
A advogada Jéssica Rodriguez, outra das seis vítimas do policial entre 2020 e 2022, declarou que recebeu novas chamadas em modo privado após saber que o agente de segurança retornou ao ofício.
Eu tirei o print das chamadas, eu não atendi. Porque eu, quando eu tava na unidade prisonal que ele trabalhou, quando aconteceu o fato, quando eu vi aquelas ligações de número confidencial, eu fiquei um pouco nervosa, printei e mandei pra doutura Ivna. E acho que pode ser uma coinciência como pode não ser, né?
ADVOGADAS AFIRMAM QUE POLICIAL PENAL POSSUI ACESSO A ROTINA EM UNIDADES
O medo fez as advogadas deixaram as próprias residências por novos endereços como medida de proteção a elas e aos familiares. Segundo as profissionais, o policial penal tem acesso da rotina delas nas unidades penais.
“A gente tá correndo perigo. Eu não fui na unidade prisional que ele tá trabalhando, porque eu escolhi não ir ainda, mas vai chegar o momento que tenho que ir pois tenho clientes lá. Ai como é que eu vou fazer? Eu, vítima, vou ter que saber o dia que ele não tá lá pra eu não ir? Mas ele sabe que eu vou. Porque como tem o agendamento da Sap, ele sabe se eu agendo pra ir dia 25 ou 26. Porque ele tem acesso. tanto ele tem acesso que ele praticou os crimes contra a gente com esses dados”, explicou Jéssica Rodriguez.
Como ação imeditada, Ivna Alencar diz que esperava no mínino a saída dele do trabalho interno nas unidades prisionais. “No minimo tirar-ló do contato direto. Tira-ló de dentro das unidades prisionais. Evitando ele até que o processo seja finalmente resolvido, que inclusive muito me indigna o fato do processo estar totalmente parado.Graças a Deus estamos recebendo apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Entretanto, nada impede que nenhum atendimento jurídico venha um assédio ou algo pior”, ressaltou Ivna Alencar.
CONTROLADORIA ABRIU PROCESSO DISCIPLINAR CONTRA POLICIAL PENAL
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) instaurou processo disciplinar em desfavor do policial penal para as devidas apurações na seara administrativa, o qual se encontra em fase processual final, seguindo o ordenamento jurídico pátrio.
“Cabe acrescentar que o inquérito policial instaurado está sendo conduzido pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI). Diligências estão em andamento para apurar a conduta do policial na seara criminal”, disse a CGD em comunicado.
Após descobrir o retorno do agente de segurança ao trabalho, a Ordem dos Advogados do Ceará requereu à CGD o afastamento cautelar imediato do policial penal através de medidas protetivas.
“É inadmissível que a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) permita que um policial penal, acusado gravemente por crime sexual, permaneça exercendo as mesmas funções”, declarou a OAB.
Fonte: diariodonordeste.verdesmares.com.br