Da Redação
A Bronca Popular
A Operação Perfídia, deflagrada pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), pode ser apenas o começo da exposição de um esquema de corrupção que fedia há muito tempo nos bastidores da Câmara Municipal de Cuiabá.
Os primeiros nomes a emergirem do lodaçal são os dos vereadores Chico 2000 e Sargento Joelson, afastados das funções por 180 dias por decisão da juíza Edna Ederli Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo).
Segundo as investigações, ambos teriam recebido R$ 250 mil em propina, pagos em parte via Pix e em parte em espécie, para aprovar um projeto que beneficiaria diretamente a empresa HB 20 Construções Eireli.
A proposta permitia o parcelamento de dívidas tributárias pelo município, o que destravaria repasses milionários à empresa — e assim foi feito: quase R$ 5 milhões foram pagos à HB 20 logo após a aprovação do projeto.
A decisão da magistrada acende um alerta mais grave: há fortes indícios de que outros vereadores também participaram do esquema, dividindo os lucros da corrupção com a mesma desenvoltura com que deveriam defender os interesses da população.
O próprio vereador Joelson teria afirmado que o valor recebido seria “compartilhado” para garantir o quórum na votação.
E como ignorar a sombra do ex-prefeito Emanuel Pinheiro sobre esse cenário?
Embora ainda não existam provas materiais contra ele neste caso específico, é impossível dissociá-lo do modus operandi que marcou sua gestão — envolta em escândalos e denúncias de favorecimento.
A Operação Perfídia pode ser o estopim para desvendar não apenas um crime isolado, mas uma verdadeira organização criminosa que estava instalada dentro da estrutura pública de Cuiabá.
Conversas pelo WhatsApp, comprovantes de transferência, apreensões de celulares, áudios com estratégias para evitar flagrantes — tudo isso reforça a gravidade do caso.
A juíza não apenas autorizou a apreensão de eletrônicos e documentos como destacou a possibilidade concreta de destruição de provas, caso os envolvidos continuassem em atividade.
O afastamento de Chico 2000 e Joelson é só o começo.
As investigações agora se voltam a todos os dispositivos recolhidos, aos registros de acesso à Câmara entre agosto de 2023 e agosto de 2024, e a possíveis conexões com servidores, empresários e gestores públicos.
É cedo para cravar nomes, mas tarde demais para fingir surpresa.
Cuiabá, mais uma vez, é obrigada a assistir ao espetáculo da lama que escorre das instituições, enquanto a população amarga filas, buracos e promessas. A cidade clama por justiça — e por políticos que não a vejam como um balcão de negócios.
Fonte: abroncapopular