Picanha de R$ 2.000 de Bolsonaro custa 3 meses de Auxílio Brasil


Picanha de R$ 2.000 de Bolsonaro custa 3 meses de Auxílio Brasil

ANA PAULA BRANCO
SÃO PAULO, SP – O último debate antes do 1º turno entre candidatos à Presidência na TV Globo na quinta-feira (29) foi marcado por ataques. Em um deles, ao falar sobre a fome no país, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil) disse: “tem candidato que come picanha a R$ 2.000”.


O valor por 1 quilo de carne gerou polêmica nas redes sociais. A maioria das postagens no Twitter mostra incredulidade e associa o preço a um erro da candidata.

A concorrente ao Planalto se referiu à peça do gado japonês wagyu, de R$ 1.799,99 o quilo, ostentada por Jair Bolsonaro (PL) no churrasco de Dia das Mães do ano passado no Palácio da Alvorada. A carne é considerada um artigo de luxo pelo altíssimo custo de sua produção.

O quilo da picanha wagyu custa o equivalente a três meses de benefício do Auxílio Brasil, aposta do presidente para aumentar sua popularidade com a baixa renda na campanha pela reeleição.

O churrasco ficou conhecido após Joás do Prado Pereira, o Tchê, publicar em seu Instagram no dia 9 de maio do ano passado uma foto com Bolsonaro e dois pacotes da carne. A embalagem trazia uma charge do Bolsonaro e seu slogan da campanha presidencial.

Na época, uma peça da picanha wagyu de 350 gramas custava cerca de R$ 600. De acordo com a foto do churrasqueiro, o Dia das Mães na residência oficial teve, pelo menos duas peças da carne exclusiva. A reportagem encontrou nesta sexta a carne por R$ 1.069 o quilo, no site Meat Store. Na mesma loja, o quilo do corte de outro gado sai por R$ 129.

Mesmo que não seja uma wagyu, a carne bovina está distante do carrinho de compras dos beneficiários do Auxílio Brasil. Junto ao leite, o item foi o que mais deixou de ser adquirido por quem participa do programa de transferência de renda, segundo pesquisa divulgada pela Asserj (Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro).

Até o final deste ano, o Auxílio Brasil será de R$ 600. Bolsonaro ampliou o alcance e o valor do programa social, antigo Bolsa Família, após o fim do auxílio emergencial no final do ano passado, em um contexto de inflação elevada e aumento da pobreza e da fome. Estima-se que o Brasil tem 33,1 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar grave.

Para incluir a despesa mais alta no Orçamento, cerca de R$ 26 bilhões, a equipe de Bolsonaro precisou mexer no teto de gastos e driblar a legislação eleitoral. Mesmo assim, o benefício é visto como aquém do necessário pela maior parte da população. Segundo pesquisa Datafolha, 56% dos eleitores afirmam que o valor é insuficiente para a sobrevivência.

Além do reajuste no valor, Bolsonaro liberou, às vésperas do primeiro turno, empréstimos consignados para beneficiários do Auxílio Brasil. O crédito, criticado por entidades de defesa do consumidor pelo risco de superendividamento, ainda não é oferecido pelos bancos.

O número de beneficiário do Auxílio Brasil aumentou, mas o apoio ao presidente estacionou. O percentual dos que votariam em Jair Bolsonaro (PL) se manteve em 26% nos três últimos levantamentos Datafolha. Enquanto o ex-presidente Lula (PT) teria em torno de 58% dos votos.

De 19 a 30 de setembro, o benefício foi pago a 20,65 milhões de famílias, 450 mil a mais do que em agosto.

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