Petróleo é o que menos importa para o Brasil na OPEP+, opinam especialistas


O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou neste fim de semana à imprensa que o Brasil não vai “apitar nada” como novo integrante do grupo da OPEP+, que inclui países sem direito a voto e aos quais não são impostos limites de produção.
A futura entrada do Brasil na OPEP+ como observador é uma uma aposta do país sul-americano em se consolidar como potência energética no cenário geopolítico mundial.
Além de ser o maior país produtor de petróleo da América Latina, o Brasil é reconhecido internacionalmente enquanto um dos principais players do cenário de óleo e gás do Atlântico Sul, pontuou a pesquisadora de Óleo, Gás & Biocombustíveis e Geopolítica da Energia do Centro de Estudos de Energia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Luiza Guitarrari.
Em entrevista à Sputnik Brasil, ela comentou que a participação brasileira na organização está em sintonia com a política externa do governo Lula de participar de fóruns de discussão multilaterais, estabelecer novos acordos comerciais com atores chaves da economia global e, por extensão, retomar sua influência geopolítica para além do Atlântico Sul.
“Acredito que a sua participação esteja mais ligada a um projeto de reposicionamento do Brasil na Geopolítica Energética enquanto fornecedor confiável para o mercado consumidor do petróleo. Desse modo, suas credenciais no setor petrolífero podem se refletir em sua pauta de descarbonização dentro do mesmo setor”, opinou.
Na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, na última semana, o governo brasileiro fez um esforço para se estabelecer enquanto líder em temas que versam sobre o desenvolvimento sustentável, transição energética e soluções de baixo carbono, e este é, para analistas, o grande trunfo da política externa brasileira para essa década.
Entretanto, essa participação implica novos desafios, ponderou Guitarrari:

“Restam dúvidas sobre o grau de atuação e poder de decisão que o Brasil terá dentro do grupo, especialmente no âmbito da formulação de políticas voltadas para o segmento de óleo e gás na organização, que conta com a participação de países sob sanções, como Irã e Rússia, podendo ser um entrave no momento das discussões”, destacou.

Segundo a pesquisadora da FGV, o Brasil precisa tomar cuidado para não ter sua imagem de líder da transição energética prejudicada em face de um possível alinhamento a uma organização que reúne países com grande predominância de fontes fósseis em sua matriz energética e elevado volume de emissões de carbono.
Por outro lado, salientou ela, a adesão à OPEP+ enquanto membro-consultivo sinaliza que o objetivo é assegurar, através do diálogo, que o suprimento do petróleo ocorra de maneira eficiente e regular aos consumidores, alocação de parte dos investimentos para o setor energético de países menos desenvolvidos na América Latina e na África.
Considerado o 9º maior país em produção de petróleo, o Brasil, segundo ela, pode impulsionar projetos de transição energética e soluções de baixo carbono na Indústria de óleo e gás, “dado seus projetos atuais de aproveitamento da infraestrutura offshore, a exemplo do hidrogênio, captura e armazenamento de carbono (CCS) e eólicas offshore”.
Guitarrari explicou que desde 2016 a Indústria de óleo e gás brasileira tem investido cerca de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$18 bilhões) no segmento de pesquisa e desenvolvimento de projetos voltados para transição energética verde, servindo de inspiração para os países da OPEP.
Juliana Inhasz, professora e coordenadora do Departamento de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), ressaltou que a energia verde e soluções tecnológicas com menor emissão de carbono no setor são prioridades do Brasil em projetos voltados ao setor energético, como já anunciado pelo país na COP28.

“Na mesma linha, em declarações recentes, o Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas espera que a participação do Brasil na OPEP+ amplie o debate sobre economia verde e descarbonização”, disse a professora do Insper à Sputnik Brasil.

A expectativa de crescimento positivo do PIB de países do Oriente Médio para o biênio 2023-2024 também é uma oportunidade para o Brasil, agora como membro, de atrair novos investimentos para projetos de energia de baixo carbono, comentou a pesquisadora da FGV.
O maior compartilhamento de informações sobre o mercado global de petróleo é outro benefício que o Brasil poderá ter em momentos de oscilações nos fundamentos de mercado, destaca Guitarrari.

Além disso, a entrada do Brasil na OPEP+ posicionará o país “em uma das organizações multilaterais mais importantes para o comércio internacional sob um regime de paridade política”, concluiu ela.

Fonte: sputniknewsbrasil

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