De acordo com informações dadas pela Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) durante a Agrishow, mais de 10 mil máquinas agrícolas foram vendidas no Brasil nos três primeiros meses de 2024. O volume representa recuo de 37,4% em relação ao mesmo período do ano passado e é mais um indicativo que o ano será de retração para o mercado de maquinários. Tanto que as associações representativas do setor estimam queda entre 11% e 15% nas vendas, o que representaria algo em torno de 50 mil máquinas comercializadas até dezembro. Mesmo com o desempenho abaixo dos últimos anos, se esse montante previsto se confirmar, o resultado será acima da média histórica para o setor, conforme demonstra o gráfico abaixo:
Desde a década de 70, o setor de máquinas agrícolas vive ciclos que demonstram como é o perfil do produtor rural em relação a aquisição de equipamentos para os manejos agrícolas. Se por um lado há anos de muitas compras, como o período entre 2011 e 2014, por outro há períodos de retração e pouco apetite por novos investimentos. Esses altos e baixos resultam em um parque de máquinas misto, com equipamentos novos e antigos trabalhando em conjunto nas lavouras nacionais. É o que apresenta o gráfico abaixo:
As amostras apresentadas nos dois gráficos acima fazem parte do censo agropecuário de 2017, que apresenta dados até, no máximo, 2019. Informações adicionais sobre vendas de máquinas agrícolas são divulgadas periodicamente pela Anfavea e pela Abimaq. Dessa forma é possível saber que, dentro do período de 2020 a 2023, mais de 230 mil novas máquinas começaram a operar no campo.
“Falando de um modo geral, temos uma oportunidade grande de renovação da frota de máquinas agrícolas no Brasil, mas que depende das políticas governamentais. Em relação a máquinas de grande porte, isso até acontece, pois o produtor é profissionalizado e costuma investir em renovação. Mas entre os pequenos não há uma evolução importante, devido a falta de crédito, falta de incentivo a máquinas mais eficientes em termos de emissões e de energia. Mas acredito que a renovação tente nessa faixa de agricultura familiar e pequenos produtores tende a se acelerar num futuro próximo. Estamos tendo bastante licitações também nesse sentido”, complementa Thiago Wrubleski, diretor sênior de planejamento de vendas e operações agrícolas global da CNH.
“É notável que há uma melhora na renovação da frota, principalmente após a pandemia. Cheguei a visitar concessionárias que haviam vendido todo o pátio, pois houve uma expansão de crédito na época e muitos investimentos foram feitos em novos equipamentos”, diz José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador de Políticas Agropecuárias do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Mesmo com as aquisições realizadas nos últimos anos, a porcentagem de tratores, máquinas e implementos antigos continua alta, já que o produtor rural tem o costume de manter esses maquinários nos trabalhos diários das lavouras.
“O consumidor brasileiro, em geral, costuma utilizar bens de consumo duráveis por um longo tempo. Isso vale para roupas, carros, eletrodomésticos e, no caso do agro, máquinas agrícolas. Sendo assim, mesmo com uma tendência de crescimento de produtos modernos atuando na agricultura, os antigos continuam tendo representatividade significativa no contexto geral”, comenta o pesquisador.
“No segmento de agricultura profissional, a disposição para comprar equipamentos de ponta é grande, o que incentiva inclusive o desenvolvimento de novas tecnologias. Já na agricultura familiar, mesmo com tecnologias embarcadas em máquinas menores, o apetite do produtor não é tão grande, principalmente em relação a tecnologias de conectividade, por exemplo. Por outro lado, a indústria de máquinas tem trabalhado para incentivar uma mudança, com ações para levar a conectividade ao campo. É o caso da Associação ConectarAgro”, adiciona Wrubleski.
Expansão da produtividade nacional
Segundo um estudo que analisa a produtividade total dos fatores (PTF) na agricultura brasileira realizado pelo Ipea,a produção nacional apresentou, de 1975 a 2020, um aumento de cerca de 400%. Para Vieira Filho, esse número é um reflexo do processo de modernização da frota nacional. Da década de 70 à 2017, por exemplo, a potência média de tratores passou de 77 para 100 cavalos. A quantidade de máquinas por cada 10 hectares também aumentou, o que demonstra que a adesão por eficiência tecnológica se intensificou ao longo do tempo.
Para atender a demanda e os anseios dos produtores rurais, Vieira Filho explica que os programas de financiamento público foram essenciais para que a expansão da mecanização fosse consistente. “Máquinas como essas possuem alto valor agregado, então as políticas públicas são fundamentais. Porém, é preciso esclarecer que esses financiamentos não são subsidiados como ocorre em países europeus. Mesmo assim, o interesse dos produtores brasileiros em adotar novas soluções é maior do que nos EUA ou na Europa”.
Wrubleski possui opinião similar e acrescenta sua visão sobre o Plano Nova Indústria, iniciativa lançada pelo Governo Federal no início do ano que visa impulsionar a industrialização brasileira até 2033.
“A volta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio de Serviços retomou a possibilidade de conversar sobre questões fundamentais que a indústria brasileira necessita. A CNH foi procurada pelo governo federal na elaboração do plano e se colocou à disposição do Ministério da Industria, bem como do Ministério do Desenvolvimento Agrário para auxiliar, inclusive no desenvolvimento de produtos. Esperamos que o programa traga ainda mais desenvolvimento para o país e para isso vamos precisar de linhas de financiamento e incentivo, como a possibilidade de exportação e auxílio à agricultura familiar”, argumenta.
Fonte: noticiasagricolas