Há oito anos, o comerciante Marcelo Oliveira da Silva, 49 anos, foi diagnosticado com câncer de mama. A doença, extremamente rara entre homens, pegou não só a ele, mas toda a família de surpresa. Embora tente falar da condição com leveza e pragmatismo, o paulista não esconde que foi uma fase difícil de sua vida.
“O meu jeito me levou a seguir em frente. Eu sempre fui muito alto astral, trabalhador, mas fácil não foi. Quando você recebe o diagnóstico, é uma pancada, não sabe onde se enfiar. Tinha medo de não ver os meus três filhos, Lucas, Gabriel e Beatriz, crescerem”, lembra.
O comerciante percebeu um caroço no mamilo direito no primeiro semestre de 2014, mas não deu muita atenção à alteração. Até que, por acidente, esbarrou na porta do carro e sentiu uma dor muito forte, que não cessava.
“Eu resolvi ir ao médico porque a dor não passava. A doutora examinou e pediu para fazer alguns exames”, diz. A confirmação foi feita com os resultados de exames de ultrassom mamário, mamografia e biópsia.
Câncer de mama em homens
O câncer de mama é muito raro entre homens — eles representam apenas 1% do total de casos da doença, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). De acordo com a médica Renata Arakelian, oncologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo, a baixa incidência se justifica pelo menor volume de tecido e glândulas mamárias, e fatores hormonais. As mulheres são mais afetadas pela exposição a hormônios femininos, que podem contribuir para o surgimento de células de câncer.
Assim como para as mulheres, os principais fatores de risco são: obesidade, sedentarismo, tabagismo, idade avançada e história familiar de câncer. Alterações na pele da mama – vermelhidão, espessamento (rigidez ao toque) – e o surgimento de caroços são alguns dos sintomas que os homens devem ficar atentos.
Segundo Renata, com o menor volume das mamas, fica mais fácil perceber o surgimento de caroços. Em contrapartida, por ser raro, o câncer de mama não faz parte da lista de preocupação deles. “Muitas vezes o nódulo aparece e o paciente não dá a devida importância para o assunto. Sempre que notar algo diferente, é importante procurar assistência médica para investigar”, afirma a oncologista.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer, para cada ano do triénio 2020/2022 serão registrados cerca de 625 mil casos da doença no BrasilScience Photo Library – STEVE GSCHMEISSNER, Getty Images

Extremamente comum no país, o câncer de pele é caracterizado pelo aparecimento de tumores na pele em formato de manchas ou pintas com formatos irregulares. Relacionada à exposição prolongada ao sol, exposição a câmeras de bronzeamento artificial ou por questões hereditárias, a doença pode ser tratada através de cirurgias, radioterapia e quimioterapiamiriam-doerr/istock

O câncer de mama é causado pela multiplicação descontrolada de células na mama. Apesar de ser comum em mulheres, a enfermidade também pode acometer homens. Entre os sintomas da doença estão: dor na região da mama, nódulo endurecido, vermelhidão, inchaço e secreção sanguinolenta. O tratamento envolve cirurgia para retirada da mama, quimio, radioterapia e hormonioterapiaSCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images

Mais frequente em homens, o câncer de próstata apresenta os seguintes sintomas: sangue na urina, dificuldade em urinar, necessidade de urinar várias vezes ao dia e a demora em começar e terminar de urinar. Cirurgia e radioterapia estão entre os tratamentos da doençaGetty Images

Embora possa estar relacionado com hipertireoidismo, tabagismo, alterações dos hormônios sexuais e diabetes, por exemplo, o câncer de tireoide ainda não é bem compreendido por especialistas. Apesar disso, tratamentos contra a doença envolvem terapia hormonal, radioterapia, iodo radioativo e quimioterapia, dependendo do caso getty images

O câncer de pulmão é um dos tipos com maior incidência no Brasil. Relacionado ao uso ou exposição prolongada ao tabagismo, tem como principais sintomas a falta de ar, dores no peito, pneumonia recorrente, bronquite, escarro com sangue e tosse frequente. A doença é tratada com quimioterapia, radioterapia ou/e cirurgiaBSIP / getty images

No Brasil, o carcinoma epidermoide escamoso tem a maior incidência entre os canceres de estômago. Os tratamentos envolvem cirurgia ou radioterapia e quimioterapiaiStock

O câncer de estômago é diagnosticado após a identificação de tumores malignos espalhados pelo órgão e que podem aparecer como úlceras. Relacionado à infecções causadas por Helicobacter Pylori, pela presença de úlceras e de gastrite crônica não cuidada, por exemplo, a doença pode causar vômito com sangue ou sangue nas fezes, dor na barriga frequente e azia constanteSmith Collection/Gado/ Getty Images

O câncer de colo de útero tem como sintomas sangramento vaginal intermitente, dor abdominal relacionada a queixas intestinais ou urinárias e secreção vaginal anormal. O tratamento envolve quimio, radioterapia e cirurgiaScience Photo Library/GettyImages

O câncer de boca é uma doença que envolve a presença de tumores malignos nos lábios, gengiva, céu da boca, língua, bochechas e ossos. É mais comum em homens com mais de 40 anos e tem como sintomas feridas na cavidade oral, manchas na língua e nódulos no pescoço, por exemplo. O tratamento envolve cirurgia, quimio e radioterapiaPexels
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Tratamento
Após a confirmação da doença, Marcelo passou por oito meses de quimioterapia, cirurgia para retirada do tumor da mama direita e 30 sessões de radioterapia. Depois de completar todo este ciclo, ele iniciou a hormonioterapia, tratamento que o acompanhará por dez anos.
“A quimioterapia foi a parte mais difícil. Você se depara com o organismo debilitado, sem sobrancelha, a pele amarelada, as pessoas te perguntam o que está acontecendo”, lembra. O tratamento também desencadeou fortes dores no corpo, nas articulações e juntas. Ele conta que por diversas vezes acordou de madrugada e se exercitou como conseguiu para tentar aliviar os desconfortos.
“Quando o meu cabelo começou a cair, a minha esposa sugeriu de raspar e o meu filho mais velho fez isso comigo. São momentos muito difíceis, que me marcaram”, afirma.

Rede de apoio
Existe uma rede de apoio muito grande entre as mulheres diagnosticadas com câncer de mama, mas o mesmo não é visto entre os homens. A oncologista Renata atribui este cenário à baixa incidência entre pacientes do sexo masculino e a um comportamento natural de se fechar, com receio de demonstrar fragilidade.
Foi aconteceu com Marcelo. Ele lembra que a família o apoiou a todo momento, mas não tinha vontade de conversar com eles sobre a doença. “Preferia guardar certas coisas para mim. Não queria expor a minha família”, lembra.
Renata afirma que ter uma rede de apoio faz diferença na qualidade do tratamento, independentemente do sexo. “Todo mundo sente medo do que vai encontrar pela frente e pode precisar de ajuda física e emocional”, conta.
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