No final de novembro, a Rússia inaugurou um novo navio quebra-gelo nuclear, o Yakutia. Considerado o mais poderoso navio do tipo no mundo, o lançamento da embarcação contou com a participação do presidente russo, Vladimir Putin. Os quebra-gelos do projeto de origem do Yakutia têm a capacidade de quebrar gelo de até três metros de espessura.
A Sputnik Brasil conversou com Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, para discutir a influência da liderança tecnológica russa no setor e como possíveis parcerias com a indústria brasileira poderiam beneficiar o país e a promoção de um mundo multipolar.
Projeto rende vantagens à Rússia no Ártico
Para Farinazzo, o Projeto 2220, do qual faz parte o Yakutia, se consolidou como um projeto estratégico para manter abertas as rotas no Ártico e deve garantir diversas vantagens à Rússia devido à tecnologia incorporada.
“É um investimento estratégico da Rússia, que deve lhe render muitos dividendos, tanto no campo econômico quanto na geopolítica dessas regiões, desses países afetados. Essa classe de quebra-gelos é a maior e mais poderosa do mundo, então ela deve afetar Japão, Coreia do Sul e a própria China, que é um país bastante interessado na economia dessa região”, avalia, acrescentando que o projeto visa conectar os oceanos Pacífico e Atlântico.
Farinazzo destaca que a Rússia tem “excelente expertise na construção de reatores” civis e militares e que domina a tecnologia há décadas.
“A construção de um reator naval tem uma série de especificidades. Tem que ser um reator menor, miniaturizado para caber em pequenos compartimentos. Não é qualquer país que tem essa tecnologia e a Rússia já domina isso há várias décadas”, afirma.
© Aleksei DanichevCasco do quebra-gelo nuclear Yakutia do projeto 22220 durante o lançamento à água em São Petersburgo
Casco do quebra-gelo nuclear Yakutia do projeto 22220 durante o lançamento à água em São Petersburgo
© Aleksei Danichev
Retrospecto mostra ‘bons dividendos’ para parceiros da Rússia
O oficial da reserva da Marinha ressalta que as parceiras militares com a Rússia costumam gerar “bons dividendos” para os países envolvidos. Farinazzo cita Índia e China como exemplos de parceiros que se beneficiaram com a aquisição de tecnologia russa para suas respectivas indústrias de defesa. Segundo o especialista, o Brasil também poderia se beneficiar com esse tipo de cooperação.
“É um caso que o Brasil poderia pensar, poderia iniciar com memorandos de entendimento visando pelo menos prospectar atividades dessa área e depois se avaliaria a relação custo-benefício. Acho que pelo menos um quick start, um pontapé inicial, o Brasil deveria dar para ver o que poderia ser obtido em termos de avanços para a nossa indústria de defesa, em virtude da transferência de tecnologia por parte dos russos”, aponta.
O especialista cita, além da tecnologia de propulsão nuclear, a expertise russa em setores como a exploração espacial, a construção de satélites, o lançamento de foguetes e o sistema de geolocalização russo GLONASS.
“O Brasil tem muito a absorver nessa área. Eu lembro que sempre foi uma ambição brasileira dominar a tecnologia de foguetes e satélites, mas a gente vem patinando há décadas dessa área. Então acho que o Brasil pode desenvolver joints com a Rússia nesse sentido”, aponta, acrescentando ainda possíveis benefícios de eventuais parcerias para a exploração de petróleo e gás.
Para Farinazzo, o mundo unipolar liderado pelo Estados Unidos, que beneficiava aliados como os países da Europa Ocidental, além de Japão, Canadá e Austrália, está obsoleto. Nesse cenário, ele acredita que o Brasil se beneficiaria da aproximação com a Rússia no âmbito do BRICS.
Fonte: sputniknewsbrasil