Parceria binacional, Itaipu faz 50 anos com capacidade de abastecer o mundo todo por 1 dia (VÍDEO)


Em 2023, o complexo teve a melhor produção registrada dos últimos cinco anos, segundo balanço da empresa: fechou o ano passado com uma produção de 83.879.486 MWh, 20% a mais que em 2022 (69.873.095 MWh).

“Isso seria suficiente para Itaipu abastecer sozinha o mundo por cerca de um dia; o Brasil por um mês e 20 dias; o Paraguai por quatro anos, dois meses e nove dias; ou o estado do Paraná por dois anos, quatro meses e 11 dias”, explicou a empresa em nota.

No período, a companhia foi responsável por 88% do mercado de eletricidade paraguaio e por 10% do brasileiro.

Qual é a importância da usina hidrelétrica de Itaipu?

Era 17 de maio de 1974, quando foi criada a Itaipu Binacional, empresa de energia elétrica dividida igualmente entre Brasil e Paraguai. No ano passado, a dívida de construção da hidrelétrica, que até 2003 era considerada a maior do mundo, chegou ao fim juntamente com o início das negociações para a revisão do anexo C do Tratado de Itaipu, que é a base financeira da usina.
Uma das principais mudanças é justamente o fim da obrigatoriedade da venda pelo Paraguai do excedente de energia que não é utilizado no país ao Brasil. Dos 50% a que os paraguaios têm direito, o consumo é de apenas 15% desse total e o restante vai para o consumo brasileiro por um preço negociado entre os dois países a cada três anos.
O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri, pontuou em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, que a partir de 2027 o Paraguai estará liberado para vender o excedente de energia também para o mercado livre.
“Para nós, isso é bom, afinal de contas, a briga pela tarifa acaba, portanto, a partir do ano de 2027. E nós poderemos baixar, de forma bastante acentuada, a tarifa da energia produzida por Itaipu, e o Paraguai vai receber o valor que o mercado está disposto a pagar. Portanto, o Brasil ganha no momento em que fica à vontade para calcular se a tarifa oferecida possui um preço mais justo. Hoje é barata, mas pode ser muito mais”, enfatizou.
Conforme Verri, o país vizinho não possui “muitas opções para atuar na distribuição de energia” e deve direcionar o excedente principalmente para o mercado livre brasileiro, o que deve beneficiar a indústria nacional com tarifas mais baratas.
“O Paraguai é dono de 50% da empresa, você não pode usar o tamanho do Brasil para impor uma tarifa para o Paraguai, tem que ser uma coisa respeitosa e negociada, como sempre foi nesses 50 anos. Então, a tarifa normalmente fica um pouco acima do que o Brasil gostaria. Ao sairmos da necessidade de negociar com o Paraguai, nós podemos calcular uma tarifa mais na óptica da população brasileira. Com isso, teríamos um excedente menor em termos de capacidade de investimento em políticas sociais e ambientais, mas, em compensação, vamos reduzir o preço da tarifa existente”, disse.
A expectativa é que, com a mudança, o valor comercializado pelo Paraguai no mercado livre fique na casa dos US$ 13 (R$ 66,84) futuramente, uma redução superior a 20% na comparação com os valores atuais.
“Quando chegar o ano de 2027, por conta desse acordo, o Paraguai irá oferecer ao mercado livre a sua energia e nós poderemos, então, ter um cálculo de custo de acordo com os interesses do Brasil e não por conta de um acordo de negociação com o nosso sócio. Creio que vamos chegar a US$ 13. Isso reflete diretamente no consumo da população e no seu custo”, enfatizou Enio Verri.

Quanto da usina de Itaipu pertence ao Brasil?

Com 14 mil megawatts de potência instalada, Itaipu fornece cerca de 10% de toda a energia elétrica consumida em todo o Brasil, enquanto no Paraguai o índice é superior a 86% — cada país detém 50% da empresa. Após intensas negociações, só no início deste mês os dois países conseguiram chegar a um acordo sobre a tarifa do excedente por quilowatt (kW). Enquanto Montevidéu queria fechar em US$ 22,60 (R$ 116,20), o lado brasileiro defendia US$ 14,77 (R$ 75,94).

“Se nós fechássemos a US$ 22,60, teríamos que repassar o aumento ao consumidor, ou seja, aumentar, ao invés de diminuir, nós vamos aumentar o valor da energia para a população brasileira. Depois de muita briga, nós fechamos um acordo de US$ 19,28 (R$ 99,13), que é o preço que vamos pagar da energia do Paraguai. Nós vamos repassar para população brasileira ao preço de US$ 16,71 (R$ 85,92)”, explicou o diretor, ao acrescentar que o valor pendente será custeado pelo braço brasileiro da Itaipu até 2026, quando termina o acordo.

Papel estratégico para garantir fornecimento de energia no Brasil

Há 15 anos, a usina hidrelétrica de Itaipu respondia por um quarto da energia que era consumida no Brasil, índice que caiu ao longo dos anos por conta da ampliação de outras fontes renováveis, como eólica e solar. Apesar da menor dependência, o diretor-geral brasileiro ressalta que a estrutura consolida o papel estratégico de garantir o fornecimento em momentos de redução da disponibilidade de outras matrizes.

“Nós diminuímos a nossa produção? Não, mas a economia brasileira cresceu muito nos últimos anos, houve o aumento no consumo de energia elétrica e, ao mesmo tempo, ampliação dos investimentos nas energias alternativas, como a eólica e a fotovoltaica. Hoje, Itaipu deixa de ser uma usina que atinge um quarto da população brasileira para ser a que está à disposição para toda a população. Quando o tempo fecha e não tem sol, ou quando não há vento, a produção da energia dessas fontes cai e quem garante o fornecimento é Itaipu”, enfatiza Enio Verri.

Qual é a razão da represa Itaipu existir?

Considerada a maior construção de engenharia já feita no Brasil e no Paraguai, o reservatório de Itaipu armazena as águas do rio Paraná para a produção de energia elétrica através de 20 usinas geradoras. De acordo com o diretor-geral brasileiro, atualmente, o tempo de vida útil da represa é de 194 anos e a empresa ampliou os investimentos ambientais para elevar o período.
“Para manter ou até ampliar o tempo de vida do reservatório, precisamos evitar o assoreamento. Em uma análise técnica, chegamos à conclusão que 434 municípios [do Paraná e Mato Grosso do sul] produzem os resíduos que acabam chegando aqui. Por isso, iniciamos o projeto Itaipu Mais que Energia para investirmos nessas localidades, com asfaltamento de estradas rurais, construção de curvas de nível, cuidados com erosão […]. Essa é uma política que permite a manutenção do reservatório e também melhora a qualidade de vida da população”, argumenta.

‘Maior unidade geradora de energia elétrica’

Já o engenheiro civil com especialização em hidráulica e membro titular da Academia Nacional de Engenharia Flavio Miguez afirmou ao podcast Jabuticaba sem Caroço que Itaipu ainda é a maior unidade geradora de energia elétrica do mundo.
“Isso porque uma usina hidrelétrica se mede pela energia que entrega e não a potência instalada, altura de barragem ou tamanho do seu reservatório. E ao longo desses anos todos, com exceção de dois ou três em que o Brasil sofreu estresse hídrico drástico, Itaipu foi a maior do mundo […]. A energia de Três Gargantas [estrutura chinesa que se tornou a maior do mundo] costuma ser bem inferior ao que é gerado em Itaipu, embora tenha potência superior”, resume o especialista.
Para além disso, o engenheiro, que também participou do processo de construção da estrutura, sem Itaipu o país teria que recorrer ainda mais à produção de energia pelas térmicas, que usam carvão mineral, mais caro e poluente.
“Aqui eu tenho a notícia, a primeira investigação 100% brasileira de aproveitamento das quedas no salto de Sete Quedas. Mas quando finalmente foi resolvido fazer o projeto, foi um aproveitamento integral, e aí não só no salto de Sete Quedas, mas bem mais a jusante. Portanto, ficou na fronteira do Brasil e Paraguai, e foi um empreendimento grandioso. O Brasil desenvolveu muito a sua energia elétrica em produção de várias grandes hidrelétricas, o que faz com que o Rio Paraná seja muito regularizado ao entrar no reservatório de Itaipu”, defende.
Porém, o especialista ressaltou que nos últimos 40 anos não foram construídos grandes reservatórios no país (a Usina de Belo Monte não utiliza acumulação de água para produzir energia, ao contrário de Itaipu).
“Teremos um acréscimo muito grande de energia fotovoltaica no país, só que quando chega o fim da tarde, essas usinas deixam subitamente de gerar eletricidade. Então, aparece o que chamamos de rampa descendente, que tem que ser suprida no curto prazo (que costumam ser as hidrelétricas). No início dos anos de 2030, teremos um acréscimo de cerca de 50 mil megawatts para suprir, o que equivale a quatro vezes a capacidade de Itaipu”, finaliza.
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Fonte: sputniknewsbrasil

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