Para os EUA, a entrada formal da Suécia e da Finlândia na aliança seria mais uma forma de pressionar a Rússia juntamente com a entrega de armas, que o lado russo considera uma interferência no conflito na Ucrânia.
No entanto, a Turquia não permitiria tão facilmente a admissão na aliança daqueles países que durante anos apoiaram os curdos, considerados terroristas por Ancara. A posição da Turquia interrompeu os planos dos EUA e da OTAN e colocou em risco a concretização da única — na opinião do Washington Post — vantagem estratégica dos aliados no confronto.
A Turquia procura aproveitar ao máximo a sua nova influência e ditar seus termos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, “é um regateador incansável”, resume o jornal, mas admite que é um membro poderoso e indispensável da aliança para a OTAN, e que as consequências de expandir a adesão à OTAN “seriam titânicas”.
“Resolver a tensão exigirá diplomacia sustentada e possivelmente concessões reais, algumas delas nas mãos de Washington”, disse ele.
O poder de veto da Turquia, detido por todos os membros da aliança, à ampliação do bloco militar impede a OTAN de continuar a sua expansão imediata. A publicação critica as exigências do líder turco, que incluem a extradição de alguns ativistas curdos e o cancelamento da proibição de venda de armas a Ancara, imposta como resultado da operação militar turca contra milícias curdas apoiadas pelos EUA e seus aliados europeus na Síria.
A Turquia, que ingressou na OTAN em 1952, às vezes tem sido “um parceiro desconfortável” para seus aliados, escreve o jornal. Entre as causas recentes desse desconforto está o fato de a Turquia ter implantado o sistema russo de defesa aérea S-400 em seu território, apesar do descontentamento do governo Trump, e continuar discutindo com os EUA a expansão e modernização de sua atual frota de caças F-16.
Embora a publicação tente convencer da necessidade de Ancara “não mais alienar os seus aliados da OTAN” e pôr em causa as garantias que lhe dão, ela própria admite que é a aliança que precisa da Turquia com a sua capacidade de fazer frente ao Irã, ajudar a Ucrânia e controlar o mar Negro.
Neste contexto, conclui o artigo, “o sr. Putin é o único vencedor na disputa sobre a questão de permitir ou não que a Suécia e a Finlândia adiram à OTAN”.
A Finlândia e a Suécia, no contexto dos acontecimentos na Ucrânia, em 18 de maio apresentaram ao secretário-geral da OTAN um pedido de adesão à Aliança Atlântica. A Turquia bloqueou o início do processo de análise dessas candidaturas. O presidente turco disse que Ancara não pode dizer “sim” ao ingresso da Finlândia e da Suécia na OTAN porque não pode acreditar em suas alegações sobre as relações com representantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que é proibido na Turquia.
Moscou sinalizou repetidamente que a aliança visa o confronto. Como enfatizou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, uma maior expansão do bloco não vai trazer maior segurança para a Europa. Ao mesmo tempo, ele não considera o ingresso da Suécia e da Finlândia nesta organização como uma ameaça existencial para a Rússia. O próprio Vladimir Putin apontou que abandonar a tradicional política de neutralidade militar de Helsinque seria um erro, já que não há ameaças à Finlândia.