‘Oppenheimer’: A História por Trás do “Pai da Bomba Atômica” no Filme de Christopher Nolan

Oppenheimer: Julius Robert Oppenheimer, o físico teórico que serve de inspiração para o mais recente filme de Christopher Nolan, Oppenheimer, teve uma vida marcada por triunfos e tragédias. Conhecido como o ‘Pai da Bomba Atômica’, Oppenheimer foi diretor do laboratório do Projeto Manhattan em Los Alamos, Novo México, onde a bomba atômica foi concebida. O filme de Nolan é baseado na obra vencedora do Prêmio Pulitzer, “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, uma biografia escrita em 2005 por Kai Bird e Martin J Sherwin.

O elenco de Oppenheimer conta com grandes nomes, incluindo Cillian Murphy, que interpreta o protagonista; Emily Blunt, que estrela como a esposa de Oppenheimer, Kitty Oppenheimer; Robert Downey Jr como Lewis Strauss, ex-presidente da Comissão de Energia Atômica (AEC) que negou a autorização de segurança de Oppenheimer; e Matt Damon como Leslie Groves, encarregado de todas as atividades do Exército relacionadas ao Projeto Manhattan.

As armas nucleares desenvolvidas por Oppenheimer através do Projeto Manhattan foram cruciais para o término da Segunda Guerra Mundial, sendo a primeira e única vez que armas tão devastadoras foram utilizadas em conflito.

Oppenheimer se formou summa cum laude na Universidade de Harvard em 1925 e, em seguida, partiu para a Inglaterra para realizar pesquisas atômicas no Laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, sob a liderança do Lorde Ernest Rutherford. Lá, Oppenheimer foi aceito como assistente de pesquisa por J.J. Thomson, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1906 por sua descoberta do elétron.

No Cavendish, Oppenheimer colaborou com a comunidade científica britânica para avançar nas pesquisas atômicas.

Consciente de sua vocação na física teórica, Oppenheimer aceitou o convite de Max Born para estudar na Universidade de Göttingen, na Alemanha.

Em Göttingen, Oppenheimer conheceu Niels Bohr e P.A.M. Dirac, obtendo seu doutorado em 1927. No filme de Nolan, Kenneth Branagh interpreta Niels Bohr.

A estadia de Oppenheimer na Europa coincidiu com o período em que os cientistas do continente estavam desenvolvendo a teoria da mecânica quântica, o que lhe proporcionou a oportunidade de realizar pesquisas importantes em física.

 

Em 1927, Oppenheimer trabalhou com Born na estrutura das moléculas.

Depois de receber seu doutorado em 1927, Oppenheimer aceitou cargos de professor na Universidade da Califórnia em Berkeley e no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ele se tornou grande amigo de Ernest Lawrence em Berkeley. Lawrence, interpretado por Josh Hartnett no filme de Nolan, era um físico experimental de destaque e inventor do ciclotron, um tipo de acelerador de partículas que impulsiona repetidamente um feixe de partículas carregadas, ou prótons, em uma trajetória circular.

Oppenheimer lecionou física em Pasadena e Berkeley.

Ele também conduziu pesquisas nos processos de energia de partículas subatômicas, incluindo elétrons, pósitrons e raios cósmicos. O cientista também estudou estrelas de nêutrons e buracos negros.

 

Foi um período em que pouco se sabia sobre a equivalência entre massa e energia e sobre a matéria ter propriedades tanto ondulatórias quanto corpusculares. Max Planck apresentou sua teoria quântica à Sociedade Física Alemã em 1900, e apenas alguns anos depois disso, Oppenheimer começou a explorar a física quântica, um campo ao qual ele pôde dedicar seu tempo por causa de sua posição na universidade.

Ele inspirou um grande número de físicos nos Estados Unidos com suas qualidades de liderança e independência intelectual.

O papel de Oppenheimer no Projeto Manhattan Oppenheimer se interessou por política na época da ascensão de Adolf Hitler na Alemanha. Embora ele tenha se associado a estudantes comunistas em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, posteriormente ele se afastou do Partido Comunista devido ao sofrimento causado por Joseph Stalin aos cientistas russos, de acordo com a Britannica.

A fissão nuclear era um processo recém-reconhecido e, para aproveitá-la ao máximo, cientistas americanos, muitos dos quais eram refugiados de regimes fascistas na Europa, tomaram medidas em 1939 para organizar um projeto.

Em 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, após o que GB Pegram da Universidade de Columbia organizou uma conferência entre Enrico Fermi e o Departamento da Marinha em março daquele ano. Depois disso, no verão de 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o então presidente Franklin D. Roosevelt sobre o perigo a que toda a humanidade estaria sujeita se os nazistas fossem os primeiros a construir uma bomba nuclear. Eles instaram Roosevelt a estabelecer um programa para estudar o uso militar potencial da fissão e encontrar formas de realizar uma reação em cadeia de fissão incontrolada. Em Oppenheimer de Nolan, Danny Deferrari interpreta o papel de Fermi, Tom Conti interpreta Einstein e Máté Haumann aparece como Szilard.

Roosevelt concordou e apropriou US$ 6.000 para a tarefa em fevereiro de 1940. Um comitê, liderado pelo tenente-general Briggs, diretor do National Bureau of Standards, que posteriormente se tornou o National Institute of Standards and Technology, foi formado para supervisionar a pesquisa.

Em 6 de dezembro de 1941, o projeto passou a ser dirigido pelo Office of Scientific Research and Development, liderado por Vannevar Bush. Matthew Modine interpreta Bush em Oppenheimer.

Depois que o Japão atacou Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, os EUA declararam guerra ao Japão. Os EUA se envolveram completamente na Segunda Guerra Mundial quando a Alemanha e a Itália declararam guerra aos EUA três dias após o país declarar guerra ao Japão.

 

Após isso, o Departamento de Guerra recebeu responsabilidade conjunta pelo projeto. Em maio de 1942, foi tomada a decisão de prosseguir simultaneamente em todos os métodos que ajudariam a obter materiais fissionáveis, incluindo o processo eletromagnético desenvolvido na Universidade da Califórnia, Berkeley, sob Lawrence, e o processo de difusão desenvolvido por Harold Urey na Universidade Columbia. O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA iniciou a construção de usinas piloto, laboratórios e instalações de fabricação para os cientistas.

Uma parte significativa das pesquisas iniciais havia sido realizada na Universidade Columbia, em Manhattan. Portanto, o Distrito do Engenheiro Manhattan, um escritório de engenheiros na cidade de Nova York, foi designado para gerenciar o trabalho de construção. Em setembro de 1942, o oficial do Exército, Groves, recebeu a responsabilidade de supervisionar todas as atividades do Exército relacionadas ao projeto. O trabalho de pesquisa ficou conhecido pelo nome de código “Projeto Manhattan”.

Ele escolheu três locais-chave para o Projeto Manhattan: Oak Ridge no Tennessee, Los Alamos no Novo México e Hanford em Washington.

Groves reconheceu o brilhantismo científico excepcional de Oppenheimer e o selecionou para dirigir o desenvolvimento de armas. Em 1943, Oppenheimer escolheu os planaltos de Los Alamos, perto de Santa Fé, Novo México, para a construção do Laboratório de Los Alamos.

Oppenheimer estava procurando uma maneira de separar o urânio-235 do urânio natural e determinar a massa crítica de urânio necessária para fazer uma bomba nuclear. Massa crítica refere-se à quantidade mínima de um material físsil necessária para iniciar uma reação de fissão auto-sustentável. O laboratório foi encarregado de desenvolver métodos para reduzir produtos fissionáveis a metal puro e fabricar o metal em formas necessárias.

Até agosto de 1943, vários cientistas da Grã-Bretanha e Canadá haviam se mudado para os EUA para se juntar ao Projeto Manhattan.

 

Outro metal radioativo que despertou interesse durante o Projeto Manhattan foi o material fissível plutônio-239. No verão de 1945, reatores de produção em larga escala nas instalações de Hanford Engineer produziram quantidades de plutônio-239 suficientes para gerar uma explosão nuclear.

Os Testes Trinity, Little Boy e Fat Man

Um teste de campo também foi programado para verificar se a explosão nuclear seria um sucesso ou um fracasso. Nesse momento, o orçamento do Projeto Manhattan havia aumentado para 2 bilhões de dólares.

Como parte do Projeto Manhattan, a equipe de pesquisa de Oppenheimer bombardeou nêutrons com plutônio ou urânio-23 para iniciar uma reação de fissão nuclear, durante a qual o núcleo pesado de plutônio ou urânio se dividia em núcleos menores e liberava enormes quantidades de energia e outros nêutrons. Esses nêutrons, por sua vez, atingiam outros núcleos e os faziam se dividir, liberando mais energia e nêutrons no processo. Isso é uma reação em cadeia, que, se não for controlada, pode criar uma bomba atômica.

Em 7 de maio de 1945, a Alemanha nazista se rendeu.

Em 16 de julho de 1945, a primeira bomba atômica foi detonada na base aérea de Alamogordo, que Oppenheimer chamou de “Trinity”, em referência a um dos Sonetos Sagrados de John Donne. Como parte do teste de campo chamado de “Teste Trinity”, foi utilizado um dispositivo de implosão de plutônio conhecido como “Gadget”.

Em uma entrevista, Oppenheimer falou sobre o Teste Trinity e famosamente citou o Bhagavad Gita: “Agora me tornei a Morte, o destruidor de mundos”.

Em 6 de agosto de 1945, a bomba de urânio-235 não testada, conhecida como Little Boy, foi lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Essa foi a primeira bomba atômica usada em guerra. A bomba matou instantaneamente 70.000 pessoas e, devido aos efeitos da radiação, mais de 100.000 pessoas morreram posteriormente.

Em 9 de agosto de 1945, uma réplica do dispositivo de implosão de plutônio-239 testado em Trinity foi lançada sobre Nagasaki. Essa bomba foi chamada de Fat Man.

Essa bomba matou instantaneamente cerca de 40.000 pessoas e, até o final do ano, pelo menos 30.000 morreram devido a ferimentos e envenenamento por radiação.

No dia seguinte, os japoneses iniciaram negociações de rendição. Enquanto isso, Groves informou o presidente dos EUA, Harry S. Truman, que outra bomba estaria pronta para entrega dentro de uma semana. Em Oppenheimer, Gary Oldman interpreta o presidente Truman.

Em 2 de setembro de 1945, o Japão anunciou formalmente sua rendição a bordo do USS Missouri.

Após o fim das hostilidades, o físico do Projeto Manhattan, Philip Morrison, viajou para Hiroshima para estudar as consequências da explosão nuclear, mas ficou tão devastado com o que testemunhou que passou o resto da vida fazendo campanha contra armas nucleares.

O que aconteceu com Oppenheimer depois do Projeto Manhattan? O Projeto Manhattan foi seguido pela Operação Crossroads, durante a qual foram realizados dois testes de armas atômicas em tempos de paz.

Depois disso, o Projeto Manhattan ficou sob a jurisdição da Comissão de Energia Atômica dos EUA (AEC).

Em 1946, Oppenheimer recebeu a Medalha de Mérito. Oppenheimer atuou como Presidente do Comitê Consultivo Geral da AEC de 1947 a 1952. De 1947 a 1966, ele foi diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

A recusa de Oppenheimer em construir uma bomba de hidrogênio e as acusações impostas a ele.

Em 1949, o comitê consultivo recomendou contra a construção de uma bomba de hidrogênio porque Oppenheimer estava preocupado que uma bomba de hidrogênio seria muito mais devastadora do que uma bomba atômica, pois a primeira tem uma força explosiva 1.000 vezes maior que a última. Uma bomba de hidrogênio, também conhecida como bomba termonuclear, pode gerar uma enorme potência explosiva a partir de uma reação em cadeia auto-sustentável e incontrolável na qual isótopos de hidrogênio se combinam em temperaturas extremamente altas para formar hélio. Esse processo é conhecido como fusão nuclear.

Devido à sua recusa em construir uma bomba de hidrogênio, Oppenheimer ganhou inimigos políticos. Ele se tornou um alvo porque foi sugerido que alguns de seus amigos e conhecidos eram agentes do governo soviético. Devido a acusações de antigas afiliações comunistas e seu caso com Jean Tatlock, uma psiquiatra americana que era membro do Partido Comunista dos EUA, foi alegado que ele era um espião soviético, de acordo com a Britannica. Florence Pugh interpreta Tatlock em Oppenheimer. Em 21 de dezembro de 1953, ele foi acusado de atrasar a identificação de agentes soviéticos e se opor à criação da bomba de hidrogênio.

Tudo isso aconteceu durante a era do macartismo, nome dado ao período da história americana durante o qual o senador dos EUA, Joseph McCarthy, de Wisconsin, realizou uma série de investigações e audiências para expor uma suposta infiltração comunista dentro do governo dos EUA.

Quando um conselho de revisão foi convocado para decidir o destino de Oppenheimer, quase 30 testemunhas testificaram em seu favor. Embora Oppenheimer tenha sido considerado inocente de traição, sua autorização de segurança foi revogada apenas 32 horas antes de expirar, o que o impossibilitou de acessar documentos classificados para conduzir seu trabalho, e seu contrato como conselheiro da AEC foi cancelado.

Isso levou a uma indignação na comunidade científica, com a Federação de Cientistas Americanos defendendo Oppenheimer e protestando contra o julgamento.

Ele era um cientista que tentava resolver problemas éticos decorrentes da descoberta científica, mas se tornou vítima de uma caça às bruxas. De acordo com o Instituto de Estudos Avançados, Oppenheimer estava preocupado com a falta de compreensão científica do público em geral e com a dificuldade de transmitir o conteúdo das descobertas científicas, por isso escreveu ensaios sobre ciência.

Ele também continuou a ensinar estudantes e, juntamente com Einstein, Bertrand Russell e Joseph Rotblat, fundou a Academia Mundial de Arte e Ciência em 1960.

Em abril de 1962, o Presidente Kennedy convidou Oppenheimer para um jantar na Casa Branca com ganhadores do Prêmio Nobel, como parte dos esforços do governo dos EUA para reparar o tratamento injusto ao cientista durante a era do macartismo. Oppenheimer recebeu o Prêmio Enrico Fermi da AEC em 1963. Três anos depois, ele se aposentou do Instituto de Estudos Avançados.

 

Em 18 de fevereiro de 1967, Oppenheimer faleceu de câncer de garganta.

Oppenheimer sendo inocentado de suas acusações Em 2014, o Departamento de Energia dos EUA divulgou a transcrição completa e desclassificada da audiência que encerrou a carreira de Oppenheimer. Esses documentos reforçaram a afirmação de que Oppenheimer era leal e não havia feito nada de errado.

O Departamento de Energia, que é o sucessor da Comissão de Energia Atômica, anunciou em 2022 que os procedimentos foram “injustos” e restabeleceu formalmente sua autorização de segurança.

Citando Alan McPherson, professor de história da Universidade Temple, uma declaração divulgada pelo instituto afirmou que o mundo da ciência, nos EUA ou no exterior, sempre reconheceu as contribuições de Oppenheimer para o desenvolvimento da bomba e seus esforços para limitar sua disseminação.

“Oppenheimer” será lançado nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (20).